Jango Filho e Rodrigo Rollemberg, união antes inimaginável pode virar realidade
Em 2015, o então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) revogou ato de seu antecessor, Agnelo Queiroz (PT), que concedera área no Eixo Monumental para edificar o Memorial da Liberdade e Democracia.
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Jango Filho e Rodrigo Rollemberg, união antes inimaginável pode virar realidade
Data: 01/12/2021
Autor: Chico Sant'Anna0 Comentários
Em 2015, o então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) revogou ato de seu antecessor, Agnelo Queiroz (PT), que concedera área no Eixo Monumental para edificar o Memorial da Liberdade e Democracia. O local abrigaria a biblioteca de Jango e todo o acervo sobre o Golpe de 1964. Na ocasião, o filho de Jango, João Vicente Goulart, classificou a decisão do GDF como “ato de covardia do governador Rodrigo Rollemberg”, que teria “cedido a interesses reacionários da cidade”.
Por Chico Sant’Anna
Há 6 anos, uma ruptura inimaginável aconteceu no Planalto Central. As famílias do ex-presidente João Goulart e do ex-presidente do Tribunal Federal de Recursos, Armando Leite Rollemberg, foram parar em cantos opostos. Uma reconciliação pode agora acontecer.
Pra entender o caso, voltemos a 2015. Na ocasião, o então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) revogou ato de seu antecessor, Agnelo Queiroz (PT), que concedera área no Eixo Monumental onde já começava a ser erguido o Memorial da Liberdade e Democracia. O local abrigaria a biblioteca de Jango e todo o acervo sobre o Golpe de 1964. Para entender a delicadeza do momento, devemos lembrar que foi João Vicente Goulart – o Jango -, quem designou, em julho de 1963, o patriarca da família, Armando Leite Rollemberg, então deputado federal e Líder do Partido Republicano para ministro do Tribunal Federal de Recursos (transformado pela Constituição de 1988 no Superior Tribunal de Justiça).
Em 2015, o filho de Jango, João Vicente Goulart, classificou a decisão do GDF como “ato de covardia do governador Rodrigo Rollemberg”, que teria “cedido a interesses reacionários da cidade”. O Memorial incomodava setores militares, que viam sua proximidade ao Setor Militar Urbano, como uma provocação. Por outro lado, como registrou essa coluna em setembro de 2015, a proibição da construção do Memorial da Liberdade e Democracia representava para muitos a edificação, mesmo que virtual, de um Memorial da Intolerância.
Passados todo esse tempo, Jango Filho e Rodrigo Rollemberg poderão, agora, caminhar juntos nas eleições de 2022. O PSB, de Rollemberg, e o PCdoB, hoje presidido no DF por Jango Filho, deverão constituir uma federação partidária para enfrentar as urnas.
Os entendimentos estão sendo feitos pelas direções nacionais dos dois partidos. O PCdoB chegou a cogitar uma Federação com o Psol, mas não prosperou, e sonha que a Federação com o PSB se amplie até o PT. Segundo Jango Filho, ainda em dezembro, uma comissão bipartite deverá ser constituída para elaborar estatuto, regimento e decidir como será a divisão de poder entre os dirigentes das duas agremiações. A legislação eleitoral, recém aprovada pelo Congresso, estabelece que os partidos poderão se federalizar e se apresentar juntos nas eleições, mas a união deve perdurar por, pelo menos, quatro anos. Essa é uma forma vislumbrada para enfrentar à cláusula de barreira. Partidos que, em 2022, não alcançarem o percentual mínimo de 2% dos votos válidos nacionalmente, ou eleger pelo menos 11 deputados federais distribuídos em nove Estados, não terão direito a tempo de TV e fundo eleitoral.
O PC do B já não teve um bom desempenho em 2018, o que o levou a se fundir com o Partido Pátria Livre – com raízes no MR8. Jango Filho é egresso do PPL, que também não alcançou a cláusula de barreira em 2018, e hoje comada o PC do B no DF. Um novo desfortúnio poderia ser fatal.
Surpresa
O Ex-governador Rodrigo Rollemberg pareceu estar surpreso com a informação de que nacionalmente estaria quase tudo pronto para a federação. Disse que conversas internas aconteceram e a posição partidária seria no sentido de negociar com partidos menores do que o PSB, dentre eles a Rede, o Solidariedade, o Verde e o próprio Pc do B. O que já afastaria uma união com o PT. A leitura interna é que a federação com partidos de menor envergadura poderia ser um primeiro passo, um estágio probatório, para uma eventual futura fusão definitiva. Além de dotar de maior musculatura para obter os votos necessários a superar a cláusula de barreira. Mas ele desconhecia que o calendário estivesse nacionalmente tão adiantado. É bom salientar que a Federação, uma vez feita, é aplicada em todo o Brasil e assim, diretórios regionais precisam definir juntos as estratégias e, principalmente, as nominatas dos candidatos.
Sem mágoas
Tanto Jango Filho quanto Rollemberg dizem não guardar mágoas do episódio do Memorial da Liberdade e Democracia. O Ex-governador nutre muita admiração pelo ex-presidente João Goulart e afirma que não ter nenhum problema em caminhar lado a lado com Jango Filho. Esse por sua vez ainda guarda o projeto feito por Oscar Niemeyer na expectativa de vê-lo se transformar em realidade.