As revoltosas águas de março de 1964

As revoltosas águas de março de 1964

As revoltosas águas de março de 1964

Avatar photoCarlos César Higa

 

João Goulart ficou ao lado dos revoltosos. Imagine a cara dos generais ao ver o comandante em chefe das Forças Armadas dando palanque para subordinados rebeldes

Foto: Divulgação

COMPARTILHAR

RELACIONADAS

O drama de Tancredo Neves e a Nova República em seu principal líderA triste solidão de Olegário Moreira BorgesAbandonaram o busto do Alfredo Nasser

Em março de 1964, o Brasil estava mergulhado numa crise complicada. O Presidente João Goulart tentando emplacar as reformas de base e fazendo comício na Central do Brasil desapropriando terras às margens das rodovias federais. Empresários, políticos e militares conspiravam contra o governo. A classe média marchando com Deus pela liberdade. Jornais faziam editoriais exigindo a saída de Jango. Nos dias finais daquele mês tão intenso, cabos, sargentos e marinheiros resolveram se rebelar, quebrando a hierarquia militar. João Goulart ficou ao lado dos revoltosos. Imagine a cara dos generais ao ver o comandante em chefe das Forças Armadas dando palanque para subordinados rebeldes.

A rixa dos militares contra Jango era antiga. Desde a sua indicação para o Ministério do Trabalho, no segundo Governo Vargas, que os marechais torciam o nariz para ele. Em 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros, houve a primeira tentativa de golpe militar contra Jango. Falhou. Por outro lado, os “generais do povo” estavam ao lado do presidente. Governo e oposição, cada lado se acusava de golpe e de implantar uma ditadura. Comício da Central do Brasil, Marcha da Família com Deus pela Liberdade, cada lado querendo provar que tinha mais gente, mais apoio em suas manifestações.

A imprensa pedia a cabeça de Jango. O Correio da Manhã escrevia “Basta!”, “Fora!”. O Globo aguardava a restauração da democracia, que seria a saída do Presidente. Somente o Última Hora ao lado de Jango. O ainda comunista Paulo Francis escrevia indignado contra os golpistas. Os opositores do governo também estavam na televisão. Imagem, som, letras, tudo era crise. Um lado acusava o outro de golpe e se autoproclamava defensor da democracia e da Constituição.

Março de 1964 terminava. A democracia conquistada com tanto esforço depois da ditadura do Estado Novo estava por um fio. As revoltosas águas de março de 1964 levariam o Brasil para longos vinte e um anos de uma nova ditadura comandada pelos militares.