A imprensa e o espetáculo das joias, por Ricardo Mezavila
A imprensa e o espetáculo das joias, por Ricardo Mezavila
Brasileiros ficaram sem dormir, torcendo pelo esperado 'toc toc toc' às seis da manhã na casa de Bolsonaro, mas era tudo fumaça estratégica.
A imprensa e o espetáculo das joias
por Ricardo Mezavila
O trabalho da imprensa é noticiar os acontecimentos dando voz aos personagens, analisando os fatos com isonomia e imparcialidade, para que os interessados pela notícia possam avaliar e concluir sem influência de uma ou de outra parte.
A relevância da imprensa é de tal importância, que pode ser considerada ‘órgão de Estado’, ou se for manipulada, o próprio Estado.
Na noite do dia 17, o criminalista Cezar Roberto Bitencourt, advogado do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, investigado por um suposto esquema de venda ilegal de joias presentadas ao governo brasileiro, disse à revista Veja que seu cliente confessaria que deu dinheiro a Bolsonaro.
Todas as mídias repercutiram a ‘bomba’, brasileiros ficaram sem dormir, torcendo pelo esperado ‘toc toc toc’ às seis da manhã na casa de Bolsonaro, mas era tudo fumaça estratégica.
Na manhã seguinte, Cezar Bitencourt participou de programas de TV minimizando o que dissera na noite anterior. Disse que seu cliente cumpriu ordens e vendeu apenas um relógio Rolex, tendo repassado o dinheiro para Bolsonaro ou Michelle.
O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, também foi às TVs negar que seu cliente tenha recebido qualquer valor em espécie. O advogado de Michelle ainda não usou seus quinze minutos de fama.
Mais tarde, o Estado de São Paulo gravou uma entrevista com o próprio Bolsonaro em um cenário mal feito de uma suposta lanchonete, onde o ex-presidente fazia o tipo humilde, comendo pão na chapa e tomando café com leite pingado em um copo americano.
Bolsonaro se mostrava tranquilo e, entre uma mordida e um gole, disse que não recebeu dinheiro algum, que Mauro Cid tinha autonomia e quer esclarecer o caso o ‘mais rápido possível. O ex-presidente ainda citou a existência de um ‘vácuo’ na legislação sobre presentes da Presidência.
Ao STF, a PF fez essa manifestação: “Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.
Ao que parece, todos os envolvidos no caso das joias estão jogando no mesmo time, cada um em sua posição passando a bola para o outro, para envolver o ‘adversário’ e passar o tempo.
Em Goiás, Bolsonaro disse que “corre risco em solo brasileiro”. Sem ainda ter sido indiciado ou convocado para prestar depoimento, ele pode pegar um avião a qualquer momento e deixar o país.
O caminho para a resolução desse caso parece ser o mesmo de Al Capone: “um furo no imposto de renda”
Ricardo Mezavila, cientista político
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