O Dia Internacional da Mulher

Uma Carta aos Homens

Monica de Bolle

 

Caros Homens,

Para aqueles de vocês que nos apreciam, realmente, obrigada. Contudo, há entre vocês muitos que dizem nos apreciar, mas caem com facilidade no sentimentalismo e nas exaltações bobocas das mulheres que têm em suas vidas. Trata-se de um desserviço.

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Não queremos saber se vocês beijaram suas mulheres hoje pela manhã, se estão refletindo sobre a data, se estão fazendo isso, aquilo, ou aquilo outro. Sabem o que preferíamos? Um minuto de silêncio. Um minuto de silêncio para reconhecer tudo a que as mulheres são submetidas todos os dias, todas as mulheres. Das que não podem se defender da violência doméstica, do feminicídio, do preconceito que sofrem nas suas comunidades, às privilegiadas como eu que têm recursos de defesa. Por mais que vocês possam ser empáticos e compreensivos, vocês não têm qualquer noção daquilo que passamos — não têm a vivência, não sentiram na pele.

Vocês falam muito, e nem sempre nós queremos ouvi-los. No Dia Internacional da Mulher eu, por exemplo, não estou disposta a ouvir pronunciamento de homem. Nem mesmo dos que mais amo ao meu redor. Quero ouvir as vozes das mulheres, quero saber de suas histórias, quero com elas conversar e compartilhar experiências.

Ao longo da minha experiência profissional — privilegiada, como já enfatizei — sofri:

1. Assédio.

2. Homem se dirigindo a mim em público de forma desrespeitosa — a velha história do “coração” e da “razão".

3. Homem interronpendo falas minhas e de outras mulheres.

4. Homen sendo condescendente.

5. Homem que não aceita quando está errado.

São incontáveis as situações constrangendoras que temos de aturar. Vocês prestam atenção, por exemplo, quando um painel de discussão só tem homens? Nós notamos. Acontece o tempo todo no Brasil, é uma vergonha. Vocês aceitam participar de discussões públicas nas quais só há homens presentes? Caso aceitem, saibam que vocês nada têm a nos oferecer no Dia Internacional da Mulher.

Mas, o problema não está apenas com vocês. Há muitas mulheres que agem da mesma forma, ajudando a perpetuar a desigualdade que alguns de vocês condenam sem se dar conta de como contribuem para que prevaleça.

Portanto, no Dia Internacional da Mulher, faço apenas esse pedido: calem-se. Deem a nós a oportunidade de não sermos obrigadas a escutá-los.

Muito obrigada.