Pastores golpistas exigiam de vítimas “termo de sigilo” e nome limpo

Pastores golpistas exigiam de vítimas “termo de sigilo” e nome limpo

Pastores golpistas exigiam de vítimas “termo de sigilo” e nome limpo

Um dos criminosos chegou a tentar comprar um carro 0km em nome da vítima em Brasília

 

pastor osório

Operação Falso Profeta, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nessa quarta-feira (21/9), alcançou apenas a ponta do iceberg de uma estrutura montada por pastores e missionários para arrecadar dinheiro de fiéis. Além de ludibriar as vítimas com falsas promessas de baixo investimento e lucros astronômicos, os estelionatários são suspeitos de usar dados de terceiros para conseguir empréstimos e fazer compras.

 

Sob a condição de anonimato, uma moradora do Rio de Janeiro (RJ), enganada pela organização criminosa, deu detalhes de como a quadrilha age. Um dos golpistas chegou a tentar comprar um carro 0km em uma concessionária localizada em Brasília (DF). O negócio só não foi efetuado porque a jovem foi alertada sobre a suspeita pelo gerente do seu banco.

“Exigiam que a gente sempre tivesse com o nome sem restrição no SPC e Serasa. Pediam para enviar o nada consta federal e estadual para mostrar que não temos antecedentes criminais, fazer assinatura digital com uma pessoa da confiança deles. Eu paguei R$ 600 para fazer essa assinatura digital. E através daí é ladeira abaixo”, afirmou.

 

“Eles tentam comprar coisas no nosso nome, tentam clonar documentos. Pediram todos os meus dados do banco, códigos para fazer transações internacionais. Eu acredito que, com certeza, tentaram fazer golpes usando o nosso nome fora do Brasil também”, contou.

Ouça o relato da vítima:

 

Os criminosos exigiam, ainda, a assinatura de um contrato de sigilo em que os investidores se comprometem a “não efetuar nenhuma gravação ou cópia da documentação confidencial a que tiver acesso; a não compartilhar nenhum tipo de conteúdo, áudios, fotos e textos, bem como procedimentos”.

A operação

A ação cumpriu dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão. Um dos alvos é o líder do grupo, Osório José Lopes Júnior (foto em destaque), que não foi localizado e é considerado foragido. Uma missionária que seria comparsa de Osório foi presa em Santa Catarina, mas não teve o nome divulgado.

A investigação aponta que os suspeitos formavam uma rede criminosa muito bem organizada, com estrutura ordenada e divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, e estelionatos por meio de redes sociais. As vítimas eram induzidas a investir quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de quantias milionárias.

A ação foi coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Dot), vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).

 

“Nesara Gesara”

Os golpistas abordavam as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, pelas redes sociais e invocavam uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencê-las a investir suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias. Havia promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

Foi detectada, por exemplo, a promessa de que com um depósito de apenas R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de R$ 1 octilhão (ou 1 seguido de 27 zeros: R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000).

 

O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da Federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.

De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intituladas pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “bênção”, ou seja, as quantias.

 

Os investigados mantinham empresas “fantasmas” e de fachada, simulando ser instituições financeiras digitais com alto capital social declarado.

Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados celebravam contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156 milhões, nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de 40 empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de 800 contas bancárias suspeitas.