Ex-premiê italiano: ‘França derrubou um avião de passageiros em 1980 ao tentar matar Kadhafi’

Ex-premiê italiano: ‘França derrubou um avião de passageiros em 1980 ao tentar matar Kadhafi’

Ex-premiê italiano: ‘França derrubou um avião de passageiros em 1980 ao tentar matar Kadhafi’

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O ex-premiê da Itália, Giuliano Amato, revelou que plano de eliminar Kadhafi em 1980 foi dos EUA e a França, ao tentar executar, abateu um avião civil. (arquivo - PS)

O plano dos EUA era “simular exercícios da OTAN envolvendo muitas aeronaves”, durante os quais um míssil teria sido disparado – considerado um acidente – contra o avião que transportava Kadhafi, disse Giuliano Amato. Ao invés, o atingido foi o voo civil 870 da Itavia.

Em entrevista ao jornal La Repubblica, no sábado (2), o ex-primeiro-ministro italiano Giuliano Amato revelou que em 1980 tentativa de matar o líder líbio Muammar Kadhafi, cometida pela França e EUA, resultou na queda de um avião de passageiros italiano na Sicília, o voo 870 da Itavia.

A operação encoberta ocorreu em 27 de junho de 1980, e todos os 81 passageiros e tripulantes morreram. O jato de passageiros DC-9 da Itavia caiu no Mar Tirreno, na costa oeste da Itália, entre as ilhas de Ponza e Ustica, a caminho de Bolonha para Palermo.

“A versão mais credível é sobre a responsabilidade da Força Aérea Francesa com a cumplicidade dos norte-americanos e daqueles que participaram na guerra aérea sobre os nossos céus na noite de 27 de junho”, disse Amato.

“Foi lançado um plano para atingir o avião em que Kadhafi voava”, disse Amato, referindo-se aos relatos de um combate aéreo ocorrido na área entre jatos franceses e líbios no dia em que o avião de passageiros italiano caiu, e aos rumores de que o líder da “Revolução Verde” estava a bordo de um dos jatos MiG da Força Aérea da Líbia.

O plano era “simular exercícios da OTAN envolvendo muitas aeronaves”, durante os quais um míssil teria sido disparado – considerado um acidente – contra o avião que transportava Kadhafi, disse Amato.

No entanto, Kadhafi recebeu um aviso do então primeiro-ministro italiano Bettino Craxi, de acordo com Amato, e nunca embarcou no jato, com o míssil francês supostamente destinado a ele acabando atingindo o avião da Itavia.

Em 2015, o Tribunal de Apelação de Palermo decidiu que o acidente foi causado por um míssil que atingiu o DC-9 e que o míssil foi disparado por outra aeronave que cruzou a rota do avião de passageiros. O tribunal descartou versões anteriormente alegadas sobre uma bomba colocada a bordo do avião civil.

 

Na sua entrevista no sábado, Amato disse que o Eliseu deveria admitir a sua responsabilidade, para que possa “lavar a vergonha que pesa sobre Paris”.

“Depois de quarenta anos, as vítimas inocentes [do acidente] não receberam justiça. Por que continuar a esconder a verdade? Chegou a hora de lançar luz sobre este terrível segredo de Estado. [O presidente francês Emmanuel] Macron poderia fazê-lo. E a OTAN poderia fazer isso”, disse ele.

Paris e Washington negam há muito tempo qualquer envolvimento na queda do voo 870 da Itavia.

Comentando as alegações de Amato, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, apelou ao político para divulgar quaisquer materiais que possa ter relacionados com o caso.

“Tendo em conta que os materiais relativos à tragédia do DC-9 não são classificados e que as autoridades judiciais e as comissões parlamentares têm feito muito trabalho ao longo de décadas, peço a Amato que perceba se, além das suas conclusões, tem outras elementos que lhe permitam rever as decisões do poder judicial e do parlamento, e possivelmente disponibilizá-las, para que o governo possa tomar todas as medidas possíveis e consistentes”, disse Meloni num comunicado divulgado pelo seu gabinete.

A tentativa de assassinato de Kadhafi ocorreu no final do governo de James Carter; desde 1976, após as investigações da Comissão Church no Congresso dos EUA, havia uma lei proibindo operações de assassinato de lideres estrangeiros. Mas, claro, nada contra o assassinato ocorrer “casualmente”. O que explica a assim chamada “tragédia de Ustica”.

Há uma tentativa mais conhecida, essa já no governo Reagan, de assassinato de Kadhafi. Em 14 de abril de 1986, 33 avioes de guerra norte-americanos bombardearam o local em que o líder líbio trabalhava e morava com a família em Trípoli e, compondo o cenário, também atacaram um quartel e o porto na capital líbia, além do aeroporto de Bengazi.

A filha adotiva de Kadhafi de 15 meses de idade foi morta no ataque e dois de seus filhos menores ficaram feridos. Ao final, 40 líbios mortos e 100 feridos. Kadhafi escapou incólume. Como comentado na época, foi um bombardeio “como não se via desde o Vietnã”.