Mudar as forças armadas para manter a ordem constitucional

Mudar as forças armadas para manter a ordem constitucional

Mudar as forças armadas para manter a ordem constitucional

Hoje (re)vivemos uma crise militar de desconfianças mútuas

 

É preciso vigilância redobrada em defesa da democracia

• É preciso vigilância redobrada em defesa da democracia | Antônio Cruz/Agência Brasil

Marcel Farah*

Em artigo certeiro Frei Betto retoma os desdobramentos do governo Jango até que o golpe militar, tido como improvável pelos conselheiros políticos do então presidente, que se consumou em 1964, sem o disparo de uma mísera bala.

A crise militar da época retomava os ocorridos na década de 1950 quando em 54 Getúlio suicidou, segundo Fernando Meirelles para evitar o que viera a ocorrer 10 anos depois.

O que tem feito o Exército, a Marinha e a Aeronáutica frente aos acontecimentos recentes impõe relembrar todos estes momentos como forma de nos prevenir em relação ao que pode estar por vir.

Não devemos nos negar a discutir por onde andaram as Forças Armadas, quem as formam e como devem reagir a cada acontecimento político. Um amigo, ex-fuzileiro naval, me confirmou as informações de como são maltratadas as pessoas ao adentrar as forças armadas. Não só maltratadas, ensinadas a maltratar. A obsessão disciplinar descamba, em certa medida, em total proibição à crítica, ao pensamento crítico. Tudo isso torna o comando a encarnação da verdade e tem resultado em posições políticas contrárias ao próprio direito constitucional.

A interferência expressa do general Villas Boas na antevéspera do julgamento do Habeas Corpus que manteve Lula fora das eleiçẽos de 2018 já prenunciava a disposição dos militares em romper os limites constitucionais de proteção à democracia, seja ela governada por quem quer que seja.

O tuíte do general foi subestimado, assim como diversas medidas do governo Bolsonaro que colocaram as forças armadas para dentro do Executivo.

Hoje (re)vivemos uma crise militar de desconfianças mútuas, o Presidente legitimamente eleito tem elementos objetivos para desconfiar da caserna, principalmente após o 8 de janeiro, enquanto os militares desconfiam ilegitimamente de quem já governou esse país em paz, em relação ao que o exército deve prezar e realizar, durante 8 anos, de janeiro de 2003 a dezembro de 2010.

Não há legitimidade para o que as forças armadas têm feito, assim como não há razão para as fake news que tomam de assalto nossa comunicação e ciclos sociais como os que os militares mais frequentam.

Betto, assim como diversos outros, alerta sobre a falácia da anistia mútua. Perdoar crimes dos militares não foi mais do que um incentivo à repetição do passado no momento futuro em que for conveniente, na visão deles.

É preciso vigilância redobrada em defesa da democracia. Dificilmente um golpe se consume sem apoios internacionais como o que os EUA prestou aos militares brasileiros em 1964, mas a conjuntura de apoio internacional ao novo governo pode mudar. Principalmente se a opção militar for mais civilizada que Bolsonaro.

Por tudo isso, é preciso mudanças, mudanças nas mentalidades daqueles que compõem as forças armadas. O respeito à Constituição e ao processo eleitoral legítimo são os pilares a justificar a existência do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e das Polícias Militares.

Se hoje quem forma as forças armadas vivem em um mundo próprio, isolado da realidade brasileira, temos que começar por aí, dar um banho de realidade, colocar o exército para interagir com o povo, para que saibam de onde vêm. mudar as forças armadas é essencial para manter a ordem constitucional.

Marcel Farrah

*Marcel é advogado e educador popular.