Eduardo Leite se perfila como candidato pacificador enquanto desafia João Doria no ninho tucano.

Governadores disputam prévia do PSDB, que serão definidas em novembro. Gaúcho aponta fraude na busca pela vaga do seu partido, que abre espaço para construir a candidatura de terceira via

Eduardo Leite se perfila como candidato pacificador enquanto desafia João Doria no ninho tucano.

GOVERNO BOLSONARO

Eduardo Leite se perfila como candidato pacificador enquanto desafia João Doria no ninho tucano.

Governadores disputam prévia do PSDB, que serão definidas em novembro. Gaúcho aponta fraude na busca pela vaga do seu partido, que abre espaço para construir a candidatura de terceira via

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, durante entrevista nesta segunda-feira.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, durante entrevista nesta segunda-feira.GUSTAVO RAMPINI
Carla Jiménez

CARLA JIMÉNEZ

São Paulo - 

O PSDB está em intensa campanha pelas prévias do partido que serão definidas entre os dias 21 e 28 de novembro (se houver segundo turno), para começar a construir a ansiada terceira via pela presidência da República. Os tucanos apostam que há uma avenida aberta entre os eleitores que não querem votar na reeleição do presidente Jair Bolsonaro nem na volta do ex-presidente Lula da Silva, líderes nas pesquisas até agora. Assim, o partido de centro, que já oscilou à esquerda e à direita, aposta em seus quadros mais destacados durante a pandemia. De um lado, o governador de São Paulo, João Doria Jr, visto com favoritismo inicialmente por seu esforço para trazer a vacina contra a covid-19 para o Estado paulista, a despeito da resistência do Governo Bolsonaro.

De outro, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, elogiado por ter colocado em dia o pagamento de salários atrasados de servidores ao longo do seu mandato, e por ter dado curso a privatizações de companhias locais para sanear as finanças do Estado. O gaúcho, de 36 anos, que já foi prefeito de Pelotas, anuncia que pretende ser o polo “pacificador” de uma eleição que, segundo ele, vive dois extremos com Lula e Bolsonaro. “Não podemos ter uma terceira via de polarização”, disse ele nesta segunda em entrevista ao programa Amarelas Onair, da revista Veja, do qual o EL PAÍS participou.

Por fora, corre o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, mas que fica na rabeira na peleja entre os dois primeiros. Tanto Leite como Doria estão confiantes de suas vitórias pela vaga de candidato tucano. Se Leite é um rosto novo na política nacional —e, portanto com uma imagem menos desgastada—, Doria conquistou o capital político de ter liderando o movimento dos governadores pela vacina enquanto Bolsonaro bloqueava o intento.

Cordiais mutuamente em aparições públicas, os dois governadores vivem um embate forte nos bastidores em busca dos votos de lideranças e filiados tucanos. Correligionário de Leite acusam um grupo de prefeitos recém-convertidos ao PSDB de jogo desleal ao querer votar mesmo tendo migrado para o partido em julho, após o prazo permitido, de 31 de maio. São 92 prefeitos mais alinhados a Doria, que estariam na pendenga. “É um questão que precisa ser apurada. Há farta documentação que apresenta a filiação [desses prefeitos] a partir de 20 de julho”, disse Leite nesta segunda.

O governador gaúcho não descarta a judicialização das prévias se os votos desse grupo forem contados. Doria, por sua vez, já disse que essa questão diz respeito ao diretório nacional, mantendo distância das acusações de fraude. Apesar das bicadas, os dois concorrentes pisam em ovos para tecer críticas um ao outro, para não inflamar (ainda mais) os ânimos no partido. “Prefiro acreditar que não foi uma ação direta do governador, mas eventualmente alguém que quis mostrar serviço a revelia do candidato [Doria]”, segue ele, que vê em sua gestão e na administração de São Paulo dois trunfos importantes para a corrida eleitoral. “Mas temos estilos diferentes. Doria vai para um tipo de enfrentamento e desqualificação de seus adversários”, diz Leite, que se vê numa linha de “construção” em vez de “destruição e eliminar quem pensa diferente”.

Tanto ele, como Doria, correm o país em busca de apoio dentro e fora do partido para serem chancelados para a terceira via. Nas pesquisas, entretanto, Doria encara uma rejeição maior que seu colega por manobras passadas, jamais esquecidas pelo eleitor. Eleito prefeito da cidade de São Paulo em 2016, abandonou a prefeitura 1 ano e 3 meses depois para concorrer ao governo do Estado, traindo não só os eleitores, mas seu padrinho no tucanato, o ex-governador Geraldo Alckmin, quando mostrou disposição para flertar com a vaga à presidência. Voltou atrás, mas a rusga já estava posta. O assunto persegue Doria até os dias de hoje, como mostrou um vídeo que circulou nas redes sociais nesta segunda.

Leite, por sua vez, tem menos de 40 anos e a estampa sob medida para um público de classe média e alta do Sul e Sudeste —e para o mercado financeiro. Seguindo a cartilha das privatizações e da gestão austera, coloca as reformas tributária e administrativa como prioridades para o primeiro ano de um eventual Governo. Mas aposta em conciliar o fiscal e o social. “Precisamos focar na redução da desigualdade e do desmatamento [da Amazônia]”, defende ele.

Terceira via

Seja quem for vitorioso na disputa tucana, terá pela frente o pesado desafio de superar os demais candidatos à terceira via. O número de potenciais candidatos se multiplica à medida que a campanha eleitoral se aproxima — na verdade, ela já está posta. A última novidade é a chegada do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que deixará o DEM para se filiar ao PSD, presidido por Gilberto Kassab. Nas próximas semanas, é a vez do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que deve se filiar ao Podemos, completando mais de 10 nomes disputando a fatia entre Lula e Bolsonaro. Segundo Andrei Roman, CEO do Atlas Político, esse porcentual já esteve em 28% há algumas semanas, mas o número caiu um pouco. A fragmentação de nomes prejudica essa terceira via. Uma projeção da Atlas mostra, por exemplo, que Moro tiraria bons votos de Eduardo Leite.

O gaúcho, porém, diz ver com cautela as pesquisas neste momento. “A eleição ainda não está na mesa das famílias, no ambiente de trabalho. Está entre nós, políticos, a crítica especializada, não entre a população que está preocupada com pandemia, com preço do gás, alimento...”. Leite bate frontalmente com os dois líderes das pesquisas, mas uma pergunta o persegue, por ter votado no passado em Bolsonaro. Em entrevista ao UOL, na última semana, ele afirmou que não se sentia culpado pela eleição do presidente. “Vamos colocar a responsabilidade nas dezenas de milhões de brasileiros que votaram no Bolsonaro?”, questionou.