Renascimento integralista

Renascimento integralista

Renascimento integralista

Com a liderança fanática e excêntrica de seu presidente, Roberto Jefferson, o PTB abriga a retrógrada ideologia em suas bases, mergulha no conservadorismo cristão e no armamentismo e se firma como força de extrema-direita

CAMISAS VERDES Manifestação de integralistas no centro de São Paulo, em dezembro de 2019: resgate das ideias obsoletas de Plínio Salgado (Crédito: HELVIO ROMERO)

VICENTE VILARDAGA

ANAUÊ Na década de 1930, simpatizantes da ideologia faziam uma saudação no estilo “heil Hitler”: fascismo brasileiro (Crédito:Divulgação)

Se ainda faltava uma sigla de extrema-direita bem caracterizada no Brasil, agora não falta mais. Em meio às trevas, ressurge o integralismo, movimento criado, em 1932, pelo jornalista e escritor Plínio Salgado (1895-1975), que dava ares tropicais ao fascismo de Benito Mussolini. O que se imaginava uma excrescência política esquecida volta a ganhar forma, depois de 90 anos de sua fundação, oficialmente abrigado no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), presidido pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, um homem que gosta de exibir fuzis e fazer bravatas. Desde junho, diversas lideranças da Frente Integralista Brasileira (FIB), a nova roupagem do movimento, vêm se filiando ao PTB com pretensão de disputar as eleições de 2022 e 2024. É o caso de um dos cérebros da organização e agora vice-presidente do PTB no Distrito Federal, Paulo Fernando, do presidente nacional da FIB, Moisés José Lima, e de seu secretário-geral, Lucas Carvalho. Para facilitar a perfeita acomodação dos integralistas, o PTB deu uma guinada ideológica sob o domínio de Jefferson. Desintegrou o pensamento trabalhista e passou a se alimentar de conservadorismo cristão, do armamentismo e de anticomunismo.

Para o professor de história da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Leandro Gonçalves, co-autor do livro “O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo” (Editora FGV), feito em parceria com o professor Odilon Caldeira Neto, a associação com o PTB é mais uma tentativa do grupo político radical de abrir espaços de poder e ganhar mais adesão popular. “O PTB, desde os anos 1980, perdeu sua essência trabalhista e, mais recentemente, com Roberto Jefferson, mudou radicalmente”, diz Gonçalves. Nos anos 1990, houve alguma acomodação dos integralistas no Prona, partido de Enéas Carneiro. No começo dos anos 2000, a opção preferencial do grupo passou a ser o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), de Levy Fidelix. A morte recente de Fidelix foi um dos fatores que obrigou os membros da FIB a buscar novas opções. No mês passado, Jefferson declarou que parte de sua família simpatizava com o integralismo e que ele guardou a doutrina viva na sua memória.

O novo fascismo tupiniquim preserva as ideias de Plinio Salgado, como a pauta anti-aborto e o cristianismo fanático, e ganha força na conjuntura atual com a simpatia do presidente Jair Bolsonaro. O próprio Paulo Fernando, liderança da FIB, era funcionário de confiança da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o que revela o avanço dos integralistas no governo. Em uma notícia publicada em seu site, a FIB esclareceu a aproximação com o PTB como parte de uma ligação histórica e negou qualquer contradição com o fato do partido trabalhista ter sido criado em 1945, depois do fim do Estado Novo para apoiar Getúlio Vargas, adversário de Plínio Salgado. Os radicais da FIB preferem olhar para uma aliança vitoriosa no Rio Grande do Sul feita entre Leonel Brizola, do PTB, e Salgado, líder do Partido da Representação Popular (PRP). “Desde sua refundação, o partido seguiu certo pragmatismo que já era observado no PTB de décadas anteriores”, afirmou Moisés Lima. “Tendo no último ano uma revisão doutrinária intensa, assumiram-se como bandeiras estatutárias a defesa da vida, o patriotismo, a família tradicional e os valores cristãos”. Plinio Salgado, seja lá onde estiver, está se regozijando.

Totalitarismo à brasileira

Divulgação

Conhecidos pela camisa verde e pela saudação “anauê”, os integralistas são a expressão máxima do fascismo no Brasil. O pensamento ainda frutifica em escolas militares e grupos ultraconservadores. Plinio Salgado teve uma longa carreira política que se prolongou até a ditadura militar. Nas vésperas do golpe, que apoiou com vigor, foi um dos oradores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo. Com a queda de João Goulart, em 1964, e a instalação do sistema bipartidário, filiou-se à Arena, que reunia os quadros mais à direita do regime de exceção.