“Pacote de cortes” é sabotagem ao país

“Pacote de cortes” é sabotagem ao país

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“Pacote de cortes” é sabotagem ao país

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Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Alguns mais esganados chegam a calcular que os cortes de verbas do governo têm que ser de, no mínimo, R$ 60 bilhões

Nos últimos dias estamos assistindo a uma torrente de ameaças feitas ao governo dizendo que, se não apresentar um pacote de cortes de verbas sociais e de investimentos, o país vai entrar em colapso, a inflação vai disparar e os juros terão que subir – como se já não estivessem na Lua.

Aliás, qualquer coisa que acontece no mundo é motivo para os banqueiros e seus porta-vozes defenderem cortes de gastos e elevação dos juros. Alguns mais esganados chegam a calcular que os cortes de verbas do governo têm que ser de, no mínimo, R$ 60 bilhões.

Que os banqueiros e rentistas façam essa chantagem é natural, estão advogando o seu interesse, que é desviar volumosos recursos públicos, ou seja, da sociedade, para seus cofres. Querem embolsar cada vez mais dinheiro. Setores da imprensa também fazem o seu papel com a orquestração pelos cortes. Afinal, defendem os interesses dos seus anunciantes.

O que é perigoso mesmo é a pressão sobre o presidente que está sendo feita pelos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet. Eles, sim, têm poder, são ministros e podem tesourar o orçamento que deveria ser destinado a atender a necessidades urgentes da sociedade. O alvo principal dos ministros são os recursos previdenciários e da assistência social.

Querem desvincular do salário mínimo os benefícios da Previdência, falam em passar “pente fino” no Auxílio Doença e dificultar ao máximo a obtenção do Seguro Desemprego. Querem também reduzir o Abono Salarial, que é pago uma vez por ano para os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos.

O corte do BPC (Benefício de Prestação Continuada), ajuda social a idosos, miseráveis, acamados e em situação de impossibilidade de obtenção de renda é a mais desumana de todas as propostas defendidas por eles.

Uma outra ideia desses próceres neoliberais que estão atrapalhando o governo Lula é reduzir a multa que o trabalhador tem direito ao ser demitido sem justa causa e usar uma parte desta multa para pagar o Seguro Desemprego, ou seja, tirar dinheiro do próprio trabalhador para financiar o Seguro Desemprego. O objetivo é reduzir o dispêndio do Tesouro para destinar mais aos bancos. Calculam que, com isso, poderiam “economizar” R$ 15 bilhões. Afinal, é isso o que se pretende com a busca insistente do déficit zero. Sobrar mais dinheiro para os juros da dívida.

 

O presidente Lula tem resistido ao pacote do arrocho. Ele sabe as consequências políticas de cortar verbas do povo para ceder à ganância dos bancos.

Em passado relativamente recente, uma política desse tipo abriu espaço para uma crise sem tamanho e até para um impeachment. E a pressão para que ele ceda aos bancos está crescendo. Até variações especulativas do dólar são usadas para a chantagem ao governo. Os ministros dizem, sem a menor cerimônia, e sem comprovar nada do que afirmam, que se não cortar o orçamento, a inflação vai disparar. Inventam, até, – para sustentar sua tese – que está havendo um excesso de consumo no país.

Só quem não está vendo e nem sentindo esse tal “excesso de consumo” alardeado é a população brasileira, cada vez mais arrochada e desesperançada. É evidente que se estivesse ocorrendo a tal exuberância de consumo, o povo estaria feliz e teria patrocinado outro tipo de resultado nas eleições municipais deste ano. Os que dizem que a economia está a todo vapor estão mentindo para pressionar por juros mais altos.

Eles inventam que está tudo uma maravilha para defender que tem que frear. Está indo muito depressa, dizem. Mesmo que houvesse uma vigorosa alta do consumo, como eles dizem, o caminho seria mais investimentos públicos e não cortes.

Aliás, já íamos esquecendo de uma outra área social que também virou alvo dos ministros do arrocho: os pisos constitucionais da Saúde e da Educação.

Eles chamam essas conquistas, e outras obtidas na Constituinte de 88, de “despesas estruturais”. E Fernando Haddad diz explicitamente, como fez em recente entrevista para a Folha de S. Paulo, que essas “despesas estruturais” são “partes que não cabem no todo”, isto é, no Orçamento. De um orçamento previsto de R$ 5,9 trilhões para 2025, R$ 1 trilhão será destinado aos juros e R$ 1,7 trilhão vão para rolar a dívida. Praticamente metade de tudo que é arrecadado vai para as despesas financeiras, destinadas à meia dúzia da bilionários especuladores.

É por isso que Fernando Haddad e Simone Tebet dizem que os programas sociais e os investimentos públicos são incompatíveis com a manutenção do arcabouço fiscal, restando a outra metade do orçamento para toda a sociedade, ou seja, para Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Defesa, Segurança, etc. Como o arcabouço de Haddad limita os gastos – em substituição ao “teto” de Temer – e ele não consegue fazer com que os bilionários paguem impostos, a saída que apresentam é cortar dos pobres. Esse é o significado do pacote que estão querendo impor ao país.