O grande Doutor Evandro

O grande Doutor Evandro

Por: Aristóteles Drummond

O grande Doutor Evandro

 

 

O depoimento do notável Evandro Lins e Silva ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, editado pela editora FGV na ocasião, merece ser reeditado ou incorporado aos cursos de História e de Direito de nossas universidades. Relato de uma vida que é a própria História do Brasil dos anos 1930 ao final do século passado.

Advogado criminalista relevante, sempre andou perto do jornalismo, da política, no convívio com a inteligência de seu tempo em que se tornou referência. Foi chefe da Casa Civil, Chanceler no governo Jango Goulart e foi para o Supremo Tribunal. A eleição para a ABL coroou a carreira admirável.

Mas o Dr. Evandro se notabilizou pela personalidade de homem de absoluta correção, pela postura educada e civilizada. Homem de esquerda, socialista, não votou em Roberto Campos na eleição da ABL, mas foi o primeiro a chegar ao apartamento do eleito para o cumprimentar, como é praxe na Casa de Machado. No depoimento, faz referências justas a Castelo Branco, lembrando que, na visita do então presidente ao Supremo, o chefe da nação fez questão de distinguir os três magistrados apontados como possíveis alvos de atos da revolução. E aborda sua relação com Carlos Lacerda, de quem foi amigo na mocidade, de maneira muito clara.

Muitos homens são definidos de forma precisa, como o próprio presidente Jango, o jornalista e seu cliente Samuel Wainer e o momento político que o Brasil viveu até a revolução. E o Supremo nos anos seguintes, sendo que ele e mais os ministros Victor Nunes Leal e Hermes Lima foram preservados até o Ato Institucional 5, em dezembro de 68. O Supremo, durante mais de quatro anos, conviveu intocado com o regime de exceção, pelo arcabouço jurídico que criou os atos institucionais, que retiravam da órbita do Judiciário atos gerados pelo movimento. Aquela talvez tenha sido das melhores composições de nossa mais alta Corte. Lá, estavam Ribeiro da Costa, Candido Motta, Nelson Hungria, Lafayette Andrada, entre outros.

A releitura deste precioso documento histórico é muito atual e relevante por mostrar como se pode ter convicções e conviver com o pensamento divergente. Coisas que andam raras na vida pública brasileira. Tempos em que magistrados não davam entrevistas

A coleção de depoimentos como os de Evandro Lins e Silva ao CPDOC-FGV se constituem realmente em precioso material para a verdade histórica, dando a versão e a narrativa dos homens que fizeram a seu tempo parte da história. Evandro, quando eleito para ABL, já era imortal!!!