O negócio da China

O negócio da China
O presidente Lula já está na China para cumprir agenda oficial de dois dias. Na segunda-feira, dia 12, participa do encerramento do seminário Empresarial China-Brasil e na terça, 13, a viagem termina no encontro bilateral com o presidente Xi Jinping logo após a realização do 4º Fórum China-Celac, Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenho reunida em Pequim, quando então o Brasil assina 16 acordos já protocolados nas áreas de ciência, tecnologia e infraestrutura.
Lula e Xi já se conhecem de dois encontros recentes e dessa proximidade presencial pode-se dizer que nasceu uma simpatia mútua, porta para o caminho de uma auspiciosa amizade. Mas aos olhos do Ocidente não há nenhuma relação entre comércio e afeto: “amigos, amigos, negócios à parte”, reza a máxima corporativa.
É comum ouvir que não é fácil negociar com a China, e a recíproca é verdadeira. A dificuldade parece estar no fato de que na postura das pequenas éticas que formam a etiqueta político-social do mundo chinês, simpatia é fraternidade que, por sua vez, significa amizade, valor cultivado em qualquer circunstância, seja em torno de uma mesa de confraternização ou de duros embates. Henry Kissinger, que foi secretário de Estado e Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos nos governos Richard Nixon e Gerald Ford, gostava de lembrar de ter ido à China mais de 50 vezes e que bastou um breve tempo para reconhecer que o negócio da China era a amizade, o sorriso sincero, o cumprimento da palavra dada e do acordo empenhado.
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Em 1961, o então vice-presidente do Brasil, João Goulart, foi à China a convite oficial do governo. Assim que desembarcou no aeroporto de Pequim, Jango fez uma saudação de 1minuto e 9 segundos em que pronunciou as palavras “amizade’ e “amigo”: “Sou portador de uma mensagem ao povo chinês. Mensagem de amizade do povo brasileiro. Estou certo de estar contribuindo para maior aproximação dos nossos povos que podem e devem ser amigos.”. Em seguida, Mao Zedong o recebeu para o chá, e a conversa encaminhada pelo presidente da República Popular da China girou em torno da curiosidade de saber como era o Brasil.
No salão do Congresso do Povo, para uma audiência de mais de três chineses, Jango fez o discurso de despedida de 1minuto e 12 segundos, no qual as palavras de destaque foram amigo e amizade: “Meus amigos chineses. Nestes poucos dias de convívio com o povo chinês e seus dirigentes, pude ver que essa não é a velha China cheia de lendas e superstições que os povos ocidentais encaravam com misto de vago temor de uma admiração reverencial pelo desconhecido. O vosso país dá-me a sensação de uma renovada juventude dentro de si mesmo. Ao primeiro contato convosco, diante da recepção calorosa que nos proporcionastes, senti-me como se estivesse hospedado na casa de um velho e bom amigo. Viva a amizade cada vez mais estreita entre a China popular e os Estados Unidos do Brasil. Viva a amizade dos povos asiáticos, africanos e latino-americanos”.
Não houve tempo para realizar a intenção manifesta na visita. Jango não conseguiu desalinhar o Brasil do imperialismo estadunidense para ser soberano na escolha das suas parcerias estratégicas e geopolítica. Foi derrubado pelo golpe civil-militar de 1964 e o princípio harmonioso dos “amigos, amigos, negócios incluídos” ficou para outro momento. Que venha.