O irmão mais velho 

O irmão mais velho 

O irmão mais velho 

 

Abelardo Jurema Filho 

 

 

 

A Paraíba o conhece. Aqueles de sua geração, que acompanharam a sua trajetória de homem público como vereador em João Pessoa, no final dos anos 60, em plena vigência do AI-5, no período mais difícil do Regime Militar , recordam-se bem daquele jovem e intrépido parlamentar, magro, de enganosa fragilidade,  que se agigantava na tribuna e  desafiava as baionetas com contundentes discursos contra o arbítrio e a pressão que predominavam no País daqueles tempos difíceis e controversos. 

 

O saudoso radialista Otinaldo Lourenço de Arruda Melo, falecido recentemente, que fazia a cobertura politica daquela época através das antenas e dos transmissores poderosos da rádio Arapuan, costumava exaltá-lo. “O seu irmão Oswaldo foi o vereador mais importante do seu tempo. Os seus pronunciamentos abalavam o Governo , o Grupamento de Engenharia e as forças mais conservadoras de então”, contava Otinaldo,  quando que nos encontrávamos e tínhamos tempo para conversar. 

 

Pressionado pelas forças políticas, ameaçado de seguir o exemplo do pai, o ministro Abelardo Jurema, e terminar cassado e exilado pelo sistema dominante,  renunciou ao mandato e foi cuidar da vida em São Paulo, após casar com a paraibana Maria Zélia Henriques com quem tem filhos e netos. Durante anos dedicou-se à iniciativa privada prestando serviços à  Brasimet, empresa do empresário paraibano Ingo Neukrans, até retornar à João Pessoa para compor a diretoria da Urban, a recém criada Empresa Municipal de Urbanização, a convite do então prefeito Antônio Carneiro Arnaud.  

 

Por diversas vezes foi secretário municipal de Turismo, levando o carnaval para a orla marítima, valorizando as festas populares, apoiando os eventos culturais e imprimindo a sua marca na cidade que sempre amou. Teve passagens ainda pela Departamento Estadual de Cultura e dirigiu o  Espaço Cultural onde é lembrado, com saudades,  por servidores do órgão e pelos artistas e produtores de espetáculos  que tinham nele um parceiro e apoiador. 

 

Hoje, recluso em seu  apartamento no Jardim Luna, procurando se proteger da pandemia,  Oswaldo Geminiano Pessoa Jurema, o Waldo, vive dos  proventos de  uma aposentadoria modesta que lhe proporciona  vida regrada. Guarda, porém , uma riqueza que não tem preço: a integridade que acumulou ao longo de uma vida  e que o faz caminhar de fronte erguida, de consciência tranquila, e do orgulho que representa para a sua família,  para os amigos e para os seus irmãos e irmãs. 

 

Sempre conversamos muito. Nos  divertimos muito.  Ultimamente, diante do quadro assustador que vive o Brasil e da incerteza do futuro, temos nos aproximado ainda mais, recordando as agruras e  dificuldades que enfrentamos , as vitórias que alcançamos  e as belas passagens de nossas vidas. Em cada palavra que trocamos, redescobrimos tão grande é o sentimento  que nos une,  desde os tempos da Cesário Alvim e dos jogos de botão que praticávamos no assoalho do apartamento da Gastão Baiana, em Copacabana. 

 

Resolvi escrever a crônica de hoje com vontade de homenageá-lo. E para agradecer por tantas lições   de caráter, humildade, coragem, generosidade,  hombridade e resiliência do  irmão mais velho que sempre me serviu de exemplo e  inspiração para jamais me afastar dos valores humanos  que realmente importam