Lava Jato: mensagens ilegais e pressão de Sérgio Moro por extradição de executivo da Odebrecht são reveladas em reportagem

Politica por RED

Novas mensagens obtidas pelo UOL mostram que os integrantes da Operação Lava Jato mantinham conversas fora dos canais oficiais com autoridades da Suíça. Além disso, os conteúdos sugerem que o então juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, pressionou um dos procuradores da operação para extraditar um executivo da Odebrecht, que mais tarde fechou um acordo delação premiada.

As mensagens compõem o material apreendido pela Polícia Federal (PF) na Operação Spoofing. As conversas são de Orlando Martello, um dos procuradores da operação, e foram registradas em 2016 pelo aplicativo Telegram.

Conversas

Em fevereiro de 2016, Fernando Migliaccio, um dos responsáveis pelo departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht – área que distribuía a propina -, foi detido em Genebra, na Suíça. Com a prisão, a Lava Jato conseguiu identificar diversos pagamentos feitos pela Odebrecht a políticos de outros países.

No mês seguinte, o procurador suíço Stefan Lenz, que comandava as investigações da Lava Jato no país, escreveu em um grupo de conversa sobre o caso: “Temos provas (emails apreendidos) de que Marcelo [Odebrecht] está diretamente envolvido e deu ordens a Fernando [Migliaccio] para fazer pagamentos ilícitos.”

E continuou: “Vocês devem fazer um [pedido de] Assistência Mútua Legal para interrogá-lo na Suíça e ter acesso a todos os dados que apreendemos”.

O procurador Martello respondeu: “Olá Stefan, está pronto. Ele será traduzido hoje com urgência. Eu o envio com antecedência para você”.

A conversa aconteceu de maneira informal sem registro em documentos pelos canais oficiais. A prática é ilegal, como ressalta a apuração.

Pedido de Moro

Sérgio Moro se interessou pela extradição de Fernando Migliaccio e começou a pressionar o procurador Orlando Martello, que mantinha contato autoridades da Suíça que faziam parte da operação. Porém, Moro aceitou retardar a vinda do executivo para o Brasil.

“Você se lembra que eu já solicitei a extradição do Migliaccio? Eu fiz isso por causo do pedido do juiz. O Sérgio Moro estava me pressionando a fazer isso. Você acha que o pedido de extradição tem algum efeito em nosso pedido de MLAT [Tratado de Assistência Legal Mútua] para ouvi-lo lá na Suíça? Se sim, talvez possamos suspendê-lo (como o Vladmir lhe disse hoje), mas apenas por um curto período”.

Mensagem do procurador Orlando Martello para autoridades de Berna, capital da Suíça, em 17 de março de 2016.

Fernando Migliaccio retornou ao Brasil no final de 2016 e fechou um acordo de delação premiada com a Justiça.

Foto: Agência Brasil.

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