Americanas: à CVM, ex-CEO diz que cumpria ordens de trio bilionário

Americanas: à CVM, ex-CEO diz que cumpria ordens de trio bilionário

Negócios

Americanas: à CVM, ex-CEO diz que cumpria ordens de trio bilionário

Miguel Gutierrez diz que havia uma linha de comando na Americanas e que nenhuma decisão importante era tomada sem aval de trio de acionistas

 

O trio de acionistas das Americanas

O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, acusado pela atual direção da varejista de ter participar no rombo contábil bilionário que veio à tona no início do ano, afirmou, em depoimentos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Polícia Federal (PF) que nenhuma decisão estratégica era tomada sem o consentimento do trio de acionistas de referência da empresa – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

As afirmações de Gutierrez constam de um depoimento gravado no dia 16 de março, ao qual o portal UOL teve acesso. Pouco mais de três meses depois, em 21 de junho, o ex-CEO da Americanas reiterou sua versão à PF.

Na semana passada, como noticiado pelo Metrópoles, Gutierrez encaminhou uma carta à CPI da Americanas, na Câmara dos Deputados, na qual afirma que os atuais diretores da companhia vêm tentando blindar o trio bilionário de acionistas.

O depoimento do ex-CEO à CVM durou cerca de três horas. Gutierrez disse à comissão que havia uma linha de comando na Americanas e que nenhuma decisão importante era tomada sem o conhecimento e aprovação dos acionistas de referência. Ele citou, especialmente, Sicupira.

“Ou você não se dá com Beto ou se dá com o Beto. É uma pessoa de personalidade muito forte. Se eu estava havia 20 anos me relacionando com Beto no cotidiano, não dá para agora eu falar com (Eduardo) Saggioro (que substituiu Beto Sicupira na presidência do Conselho de Administração da Americanas]”, afirmou Gutierrez.

Em sua fala à CVM, o ex-CEO da Americanas voltou a negar que soubesse do rombo contábil da varejista, estimado inicialmente em R$ 20 bilhões. Gutierrez disse que nem sequer tinha envolvimento com os departamentos financeiro e contábil. As alegações foram repetidas à PF.

“O Beto, como presidente do conselho, era o meu chefe. E toda a interligação era através do Beto. E o Beto saiu da chefia do conselho em 2020, que foi um plano programado em 2019. Ele ia sair para depois eu ir para o conselho novamente. Então, nesse período, meu contato com Beto sempre foi muito intenso”, disse Gutierrez. “Eu tinha uma relação com o Beto de 20 anos de trabalho. Você cria, obviamente, uma proximidade.”

Segundo o ex-CEO da Americanas, Beto Sicupira, que foi presidente da Americanas entre 1983 e 1991, “gosta muito do negócio” e sempre se envolveu diretamente com os assuntos relacionados à empresa. “Meu contato sempre foi, prioritariamente, com o Beto.”

Ainda de acordo com Gutierrez, sua relação próxima com Sicupira se manteve até julho de 2022, quando o acionista informou aos diretores da Americanas que o executivo Sergio Rial assumiria o cargo de CEO a partir de janeiro de 2023.

“Tudo é variável. Quando apareceu o Rial, a minha proximidade (com Sicupira) desapareceu”, afirmou.

O que dizem a Americanas e o trio de acionistas

A Americanas voltou a rebater as acusações de Miguel Gutierrez. A empresa nega que qualquer decisão administrativa fosse submetida ao trio de acionistas de referência.

“A Americanas lamenta as informações inverídicas apresentadas pelo senhor Miguel Gutierrez, que tem como único objetivo eximir sua responsabilidade e sua relação direta com a fraude de resultados identificada. Desde a apresentação de provas sólidas e consistentes à Comissão Parlamentar de Inquérito há mais de três meses, que mostram seu envolvimento, Gutierrez não apresentou nenhuma contraprova que invalide as mesmas”, diz a varejista.

“A companhia nega a afirmação de que todas as ações da antiga direção das Americanas eram submetidas para aprovação a qualquer acionista ou membro do Conselho de Administração”, prossegue a companhia. “Como em qualquer companhia aberta e nos termos da legislação aplicável, decisões operacionais e do dia a dia das Americanas cabiam exclusivamente à diretoria, liderada pelo senhor Miguel por 20 anos. Em relação aos contratos de fornecedores, por exemplo, todas as decisões eram tomadas unicamente pela diretoria.”

Também em nota, o trio de acionistas de referência da Americanas afirma que eles “estão totalmente engajados na construção de uma solução para pôr fim à recuperação judicial da companhia, de modo a preservar suas dezenas de milhares de empregos e relevante função social”.

“Ao longo dos últimos 10 anos, os acionistas de referência investiram R$ 2,3 bilhões nas Americanas e receberam em dividendos cerca de R$ 700 milhões, ou seja, perderam R$ 1,6 bilhão. No valor de mercado do ativo, a perda foi de mais de R$ 3 bilhões desde o início da crise. Eles ainda se comprometeram a aportar pelo menos mais R$ 10 bilhões para ajudar na recuperação da companhia”, diz a nota de Lemann, Telles e Sicupira.