Reunião golpista de Sérgio Reis com sojeiros ocorreu em bunker do agronegócio
Mansão em Brasília é sede nacional da Aprosoja e de outras organizações do setor; antes era a sede do Instituto Pensar Agro, a face empresarial e intelectual da Frente Parlamentar da Agropecuária, onde a reportagem do observatório foi expulsa, em 2016
Reunião golpista de Sérgio Reis com sojeiros ocorreu em bunker do agronegócio
Mansão em Brasília é sede nacional da Aprosoja e de outras organizações do setor; antes era a sede do Instituto Pensar Agro, a face empresarial e intelectual da Frente Parlamentar da Agropecuária, onde a reportagem do observatório foi expulsa, em 2016
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Em uma sala com vários símbolos da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja-BR), em uma mesa em “U” com diversas pessoas sentadas em torno dela, o cantor sertanejo e ex-deputado federal Sérgio Reis (PRB-SP, hoje Republicanos) anunciou a intenção de fazer uma série de protestos pelo país para pressionar pela aprovação do voto impresso para a eleição de 2022, proposta já rejeitada na Câmara, e para que o Senado analise pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao lado dele, tanto na mesa como em uma entrevista posterior, estava o anfitrião da casa, Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil.
O cenário para as falas não poderia ser mais emblemático: a mansão usada como sede pela Aprosoja-BR no Lago Sul, em Brasília. Até quatro anos atrás, o local era usado também como sede do Instituto Pensar Agro (IPA), criado por várias associações patronais relacionadas aos diferentes setores do agronegócio a pretexto de “defender os interesses da agricultura e prestar assessoria à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) por meio do acordo de cooperação técnica”.
Lá, representantes do instituto e parlamentares se reuniam para discutir projetos e decidir quais as prioridades temáticas dos temas em tramitação no Congresso. Hoje o IPA tem sede em outro endereço na mesma rua, algumas casas adiante, quase no Lago Paranoá. Na mansão ainda funcionam, por exemplo, a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass) e a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), ambas, assim como a Aprosoja, integrantes do IPA.
Foi nessa sede que a equipe do De Olho nos Ruralistas foi expulsa, em 2016, enquanto entrevistava parlamentares para uma reportagem sobre bancada ruralista e mudanças climáticas: “Almoço da bancada ruralista tem ira de deputados e expulsão de repórteres“. O executivo João Henrique Hummel Vieira dizia que a casa era dele, embora a reunião (realizada todas as terças-feiras, em Brasília) estivesse aberta à imprensa, como confirmou a própria assessoria da FPA. Outro membro da equipe técnica, Gustavo Carneiro, da Abramilho, tentou desligar a câmera do cinegrafista André Takahashi.
Presidente da Aprosoja diz que não falou em nome da Aprosoja
Acompanhado do também cantor Eduardo Araújo e de outro homem, que se apresentava como líder dos caminhoneiros, Sérgio Reis — que se chama Sérgio Bavini — defendia não só a concentração de pessoas nas principais cidades do Brasil, mas também a paralisação dos transportes no dia 07 de setembro, uma terça-feira. “Ninguém vai conseguir trazer feijão para vocês”, disse o sertanejo. Ao lado do cantor, em uma entrevista, Galvan disse que é necessário o apoio da população para mostrar que o protesto não é só de caminhoneiros e do “agronegócio”.
Apesar de Galvan usar a expressão agronegócio nas falas, a Aprosoja, por meio de sua assessoria de imprensa, destaca que ele não falou em nome da entidade. Para ser uma posição oficial, o apoio à manifestação teria de ser discutido em assembleia. O que não teria sido feito, apesar de outros produtores terem opiniões pessoais parecidas com as do dirigente. O argumento é que o cantor foi fazer uma visita de cortesia durante assembleia da Aprosoja. E que sua participação não estava prevista da agenda.
A citação ao agronegócio não agradou o IPA. Perguntado sobre o assunto, o instituto divulgou uma nota em que afirma não ter qualquer participação nos atos:
— O IPA é composto por 48 entidades do setor produtivo nacional e discute políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira, na produção de alimentos seguros e na geração de emprego e renda como forma de dignidade humana. Qualquer pauta que fuja ao escopo da agropecuária como política pública de desenvolvimento do país não consta em debates ou fóruns desta entidade. Cabe destacar também que o porta-voz oficial do IPA é o presidente Nilson Leitão.
Após reações, envolvidos minimizam episódio
A divulgação do vídeo causou outras reações de respresentantes agronegócio. Filiado à Aprosoja e integrante de uma das famílias da qual fazem parte outros grandes de soja, assim como ele próprio, Blairo Maggi disse á colunista Monica Bergamo, da Folha, que ligou para Galvan para se manifestar contra a declaração: “Ele pode ter posições pessoais, mas não pode usar a associação para isso. O presidente [Galvan] fala como se o setor inteiro do agro e da soja apoiassem esse movimento. E isso não é verdade”. Filiado ao PP, Maggi foi ministro da Agricultura, senador e governador do Mato Grosso. Ele preside o conselho da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Com as reações negativas, tanto Galvan como Reis tentaram se esquivar de responsabilidades pelas declarações. Galvan tentou minimizar as palavras ditas no vídeo. “A população tem que se manifestar, sim”, afirmou ao site Mídia News. “Eu acredito que o Sérgio Reis ‘se passou’ um pouco nas palavras dele, acho que até tinha tomado umas pingas”. Ele também não quis comentar as reações contrárias às falas dele e do cantor. “Deixa quieto esse assunto”, disse, segundo o Metrópoles. “Em merda, quanto mais mexe, mais fede”.