Posição pró-OTAN do Brasil na ONU enfraquece papel de interlocutor pela paz

Posição pró-OTAN do Brasil na ONU enfraquece papel de interlocutor pela paz

Posição pró-OTAN do Brasil na ONU enfraquece papel de interlocutor pela paz

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Assembleia Geral da ONU (foto: ONU)

Resolução aprovada com o voto do Brasil foi apresentada pela Ucrânia, EUA e demais países da OTAN

A Assembleia Geral da ONU, realizada na quinta-feira (23) em Nova Iorque, aprovou uma resolução, apresentada pela Ucrânia, e secundada por seus patrocinadores da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), condenando a Rússia pela guerra e cobrando a “imediata e incondicional” retirada de suas tropas do território onde se desenvolve o conflito.

A representação brasileira nas Nações Unidas, que havia se abstido em uma votação semelhante, ocorrida na última assembleia, no final de 2022, mudou de posição e votou pela condenação da Rússia. A resolução obteve o apoio de 141 países. Outras 32 nações se abstiveram, entre elas, a China, a Índia e a África do Sul, parceiros do Brasil nos BRICS. Outros 7 países, entre eles a Rússia, votaram contra o documento.

Esta mudança de posição do governo brasileiro na ONU influenciou outros países da América Latina a votarem com a OTAN e acabou enfraquecendo a possibilidade do Brasil desempenhar um papel de destaque na interlocução da paz entre Ucrânia e Rússia, como vinha propondo o presidente Lula.

Na resolução, redigida pela Ucrânia/EUA/UE, não há nenhuma referência à expansão da OTAN em direção às fronteiras da Rússia e também não aborda a limpeza étnica promovida por nazistas de Kiev contra população de origem russa dentro da Ucrânia, fatores reclamados pela Rússia e que motivaram o início do conflito.

Não há também nenhuma referência no documento ao desrespeito ao Acordo de Paz de Minsk que, segundo a ex-premiê alemã Ângela Merkel e o ex-presidente francês François Hollande, “era uma farsa” do Ocidente e só serviu para “ganhar tempo e poder armar a Ucrânia”. Por isso, esta resolução, redigida pela Ucrânia/EUA, este último o maior promotor e beneficiário da guerra, não é vista como uma colaboração efetiva para a paz.

 

O Brasil e a China, ao contrário, vinham se destacando no cenário internacional como possíveis interlocutores no conflito por adotarem uma posição de neutralidade e por fortalecerem negociações efetivas pela paz na região.

O presidente Lula chegou a apresentar a ideia da criação de um grupo de países neutros para intermediar as discussões de paz. A China também apresentou um documento à ONU com 12 pontos, onde pede o cessar fogo imediato e condena a expansão da OTAN em direção às fronteiras russas assim como as sanções unilaterais impostas à Rússia sem que essas decisões tenham passado pelo Conselho de Segurança da ONU, órgão com autoridade para fazê-lo.

A própria Rússia havia se manifestado favoravelmente à ideia do Brasil de formação do grupo de países neutros pela paz. Ao votar junto com os países beligerantes na Assembleia Geral da ONU, no entanto, a representação do governo brasileiro acabou enfraquecendo a posição de neutralidade que o Brasil vinha construindo no conflito.

A posição de isenção entre as posições da OTAN, chefiada pelos EUA, e a Rússia, que cobrou o fim da expansão da OTAN sobre suas fronteiras e o fim do genocídio perpetrado por forças nazi-ucranianas contra a população de origem russa do leste do país, era uma condição fundamental para exercer o papel de intermediário confiável nas negociações de paz.

Apesar da decisão da ONU não ter consequências práticas no campo de batalha, já que ela tem apenas um efeito simbólico, o que ela trouxe de prático foi apenas o enfraquecimento de posições consequentes pela paz, como as que vinham sendo defendidas pelo Brasil. Aderir, como fez a representação do Brasil à posição pró-Ucrânia/OTAN, não ajudou o país a cumprir o papel que se abria para ele na atual quadra do conflito.