O monopólio de imprensa e sua hipócrita ‘defesa da democracia’

O monopólio de imprensa e sua hipócrita ‘defesa da democracia’

O monopólio de imprensa e sua hipócrita ‘defesa da democracia’

Nova Democracia


JOÃO PEDRO FRAGOSO ANO XVIII, Nº 234 - 2ª QUINZENA DE JULHO E 1ª DE AGOSTO DE 2020

Recentemente pululam altissonantes palavras em defesa da democracia nos diversos editoriais do monopólio de imprensa. “Democracia” tal como a que vivemos, é claro: uma minoria de grandes banqueiros, grandes empreiteiros, grandes comerciantes, grandes industriais, multinacionais e latifundiários explorando e negando direitos fundamentais à imensa maioria, às classes populares. Porém, mesmo o apoio do monopólio de imprensa a essa “democracia” é bastante volátil e flexível, se convertendo mesmo, em dados momentos, em defesa do fascismo. A história o comprova.

Porém, no contexto da encarniçada luta no seio das classes dominantes entre a direita, aparentemente “legalista” que quer um golpe de Estado militar brando e um regime militar mascarado de civil, e a extrema-direita (fascista e que quer um regime militar escancarado), o revisionismo histórico e suas relativizações são propagados para fazer parecer o monopólio de imprensa um “intransigente” democrata.

O monopólio de imprensa e sua hipócrita ‘defesa da democracia’

Entretanto, um fato não muito lembrado, é o apoio incondicional do monopólio de imprensa ao regime empresarial-militar instituído no Brasil em 1964. Tais governos, vale lembrar, foram uma reação virulenta da grande burguesia e do latifúndio, em conluio direto com o imperialismo ianque (Estados Unidos, USA), contra os apelos às reformas de base (agrária, política, fiscal e educacional) feitos pelo presidente petebista João Goulart. Com exceção de dissidentes mais à esquerda, o monopólio de imprensa como um todo apoiou este processo de desmonte da nação brasileira, demonstrando sua umbilical relação com as classes dominantes e putrefatas do velho Estado. Ainda que Bolsonaro tenha lembrado apenas sobre a venalidade da Rede Globo em sua campanha eleitoral, para apontar sua suposta “hipocrisia”, o fato é que Folha de São Paulo e Estadão, Zero Hora, e todos os demais veículos de imprensa apoiaram essa maquinação. Ao dia 2 de abril de 1964, era estampado na capa do jornal O Globo: “Ressurge a Democracia!”, com uma comemoração histérica à remoção do presidente João Goulart e à chegada dos militares à administração do velho Estado.

Não satisfeitos em apoiar o golpe, a Globo manteve sua indulgência ao governo instalado até seus últimos anos. Em 1984, nos anos finais da chamada “redemocratização”, o monopolista global Roberto Marinho afirmou orgulhosamente em um editorial: “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas [...] Temos permanecidos fiéis aos seus objetivos”, e prossegue rasgando elogios ao projeto de submissão ao capital internacional como um verdadeiro “avanço impressionante” no campo econômico. Fica claro o compromisso da Globo com a dependência nacional às potências estrangeiras.

Vários desses jornais se “autocriticaram” em seus editoriais posteriores, sobretudo em decorrência dos 50 anos do golpe militar em 2014. Ainda assim, é notável a tentativa de justificar o injustificável: “justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos”, afirma o editorial d’O Globo de 2013. Fizeram sua mea-culpa, obviamente, afinal, não pega bem para tais instituições terem um passado tão nefasto quando precisam se contrapor ao radicalismo fascista, que predica uma ditadura escancarada e que arrastará o Brasil à guerra civil aberta, lançando uma multidão de massas à luta radical pelos seus direitos.

Mas será que mudaram seu caráter de classe? Será que, diante de um cenário revolucionário em benefício das classes populares, os monopólios de imprensa abdicariam de apoiar atentados reacionários à “legalidade democrática”? Sua hipocrisia é, de fato, notável, pois enquanto dizem ser a democracia “um valor absoluto”, que “quando em risco, só pode ser salva por si mesma”, nem corados ficam ao apoiar, como sempre apoiaram, o regime de exceção, de terror fascista contra o povo revolucionário. Já sua suposta “intransigência legalista”, nem é preciso que a revolução rebente para que eles passem a deformá-la, a alcunhar-la de reacionária e “ditatorial”, em benefício da repressão, da negação de direitos, conforme fica claro no atual golpe de Estado em marcha, desatado via “Lava Jato” por vias brancas e mantendo cara de democracia, como tem denunciado à exaustão o AND. Tais fatos, por si só, desmontam essa narrativa hipócrita.

O monopólio de imprensa hoje, sem exceção, está comprometido com um único projeto: o crescente e ininterrupto desmonte da nação brasileira em sua subjugação ao imperialismo e o reforço de seus sustentáculos capitalistas burocráticos e semifeudais. Portanto, brademos: A verdade é dura, o monopólio de imprensa apoiou a ditadura!