O dia em que a ditadura impediu o Inter de homenagear João Goulart

O dia em que a ditadura impediu o Inter de homenagear João Goulart

Nando Gross

O dia em que a ditadura impediu o Inter de homenagear João Goulart

por 

 

 

Recebi um recorte de jornal e uma foto do meu amigo e professor, Fábio Catani, lembrando o episódio ocorrido em 1976. Para quem não sabe, o ex-presidente João Goulart atuou nas categorias de base do Inter e teve sua carreira nos gramados interrompida devido a um problema na perna esquerda, quando tinha 16 anos. Mas sua ligação com o futebol sempre foi muito forte. Anos mais tarde, ele assumiria a presidência do Brasil em um período turbulento, marcado por uma crise política profunda, sucedendo à renúncia de Jânio Quadros.

Jango implementou suas políticas progressistas e suas propostas de reformas, desagradando os setores conservadores e militares, culminando com o golpe militar de 31 de março de 1964 e o início de um regime de repressão de mais de 20 de duração. Entre torturas e assassinatos, as restrições à liberdade eram a marca da ditadura e o futebol era especialmente vigiado.  

Em 1976, dias após a morte de Jango, o Internacional planejou homenagear seu ex-atleta durante a final do Campeonato Brasileiro, no Estádio Beira-Rio, mas foi impedido pela ditadura. O filho do ex-presidente, João Goulart Filho, lembra o episódio:

– Em 1976, ano que meu pai tinha morrido (no exílio, em Mercedes, na Argentina). O Internacional iria jogar a final do Brasileiro contra o Corinthians. Aí, o clube falou que iria homenagear seu ex-atleta com um minuto de silêncio. Era uma forma de driblar a Ditadura, mas João Goulart não deixa de ser um ex-atleta do Internacional de fato! Alguém da Ditadura ficou sabendo que era o João Goulart e impediu a homenagem – antes do jogo que deu o bicampeonato brasileiro para o Colorado, em 12 de dezembro daquele ano.

Anos depois, o Inter acabou homenageando João Goulart, em 2013, na gestão do então presidente Giovanni Luigi, na partida contra a Ponte Preta. Luigi, sempre defendeu que a homenagem era mais do que justificada, uma vez que João Goulart não só havia sido um ex-atleta do clube, mas também um presidente da República que mantinha sua torcida pelo time.