Manchetes de domingo (18/07/2021)

Manchetes de domingo (18/07/2021)

 

Edição – Chico Bruno

Manchetes de domingo (18/07/2021)

FOLHA DE S.PAULO – Youtubers cubanos desafiam a ditadura

Chamados de delinquentes e de “manipuladores das emoções da população”, pelo líder cubano Miguel Díaz Canel, youtubers que aderiram aos protestos na ilha irritam o regime com vídeos de humor e política. No domingo (11), Dina postou um vídeo direto dos protestos que explodiram contra o regime cubano em toda a ilha. Na terça (13), ela foi presa em sua casa, quando dava uma entrevista para uma TV espanhola. Olhando direto para a câmera, declarou: "Torno o governo responsável por qualquer coisa que possa me acontecer." Ficou um dia na prisão. Segundo familiares, três influenciadores digitais continuam presos. O cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, disse que esses youtubers são cubanos de ultradireita, respaldados financeira e politicamente pelos EUA. Para o brasileiro David Nemer, professor da Universidade da Virgínia que estuda a internet em Cuba, influenciadores digitais são novidade no país, com a qual as autoridades não sabem lidar. “Essa é a primeira geração digital de Cuba. Estão acostumados com a forma de se comunicar da rede, de emitir opinião do jeito que querem”.

CORREIO BRAZILIENSE – Expectativa de vida no DF cai 4 anos com pandemia

O grande número de jovens mortos pelo novo coronavírus está reduzindo, de forma acelerada, o tempo de vida esperado para os brasilienses. Entre 2020 e 2021, a idade média na capital federal baixará de pouco mais de 78 para 74 anos – o oitavo pior resultado do país – , mostra estudo realizado pela Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos. O impacto da crise sanitária é maior entre os homens, cuja expectativa de vida baixou de 76 para 73,5 anos somente no ano passado. Dados do Portal da Transparência apontam que, em 2021, até 9 de julho, morreram 12.245 brasilienses, quase o total de 2019. O epidemiologista Mauro Sanchez afirma que os efeitos da pandemia serão sentidos por um bom tempo.

O ESTADO DE S.PAULO – Contra impeachment, Lira articula semipresidencialismo

Sob a justificativa de que o presidencialismo virou fonte de crises e para esvaziar a pressão pelo impeachment de Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), articula com aliados a mudança no sistema de governo do País para o semipresidencialismo. Por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), a ideia é introduzir a figura do primeiro-ministro e aumentar o poder do Congresso. O presidente da Câmara, ministros do STF e os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer defendem o ano de 2026 como ponto de partida do novo regime. O semipresidencialismo prevê um modelo em que o presidente delega a chefia de governo ao primeiro-ministro. É ele quem nomeia e comanda a equipe, o “Conselho de Ministros”. Para o PT, a proposta é “golpe” e “parlamentarismo envergonhado”.

O GLOBO – Rede bolsonarista distorceu estudos para difundir fake news sobre Covid

Estudo da UFRJ e UFF identificou 38 sites, a maioria bolsonaristas, que distorcem estudos científicos reais ou citam achados inverídicos para promover medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, lançar dúvidas sobre vacinas e minar medidas de proteção. Eles publicaram ao longo da pandemia pelo menos 57 notícias que simulam a linguagem científica, mas são falsas. Parlamentares da base do governo estão entre os difusores dessas fake news. Os pesquisadores também identificaram links para sites em inglês que são banco de dados falsos e foram altamente compartilhados.   

Notícia do dia: Nenhuma notícia que possa ser classificada como do dia

Primeiras páginas

No CCJ, Mendonça está a um voto de obter assento no STF - Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado-geral da União, André Mendonça, já conquistou quase todos os votos necessários para ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a primeira prova no Senado, de acordo com pesquisa do Globo. Apesar desse cenário favorável para Mendonça, a margem de pontuação no CCJ pode ser uma das mais apertadas, se comparada aos resultados obtidos pelos atuais ministros do STF na comissão. Para ser aprovado na CCJ, o candidato a tribunal deve obter maioria simples dos votos. De acordo com o levantamento, Mendonça obteve, até o momento, 13 dos 14 votos que formam a maioria absoluta na comissão, composta por 27 membros. O resultado final é incerto, pois o voto é secreto e pode haver traições. Mendonça foi indicado para o cargo de ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentou. Ao todo, nove senadores disseram ter posição indefinida,  enquanto quatro não responderam. Apenas dois disseram que vão rejeitar o indicado: Jorge Kajuru (Podemos -GO) e Renan Calheiros (MDB-AL). Para aumentar o número de votos a seu favor, Mendonça se compromete com a conversão de pelo menos quatro senadores classificados como indefinidos: Simone Tebet (MDB-MS), Antonio Anastasia (PSD-MG), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Esperidião Amin (PP-SC). Mesmo que consiga quebrar a Resistência, o advogado-geral da União terá de enfrentar uma votação difícil, fruto da tensa relação entre o Senado e o Palácio do Planalto. Na última indicação ao STF feita pelo governo Bolsonaro, em outubro, o ministro Nunes Marques tinha 22 apoiadores e 5 senadores opositores na CCJ.

Startups combinam impacto social com lucro - Ventilador pulmonar, detector de incêndio florestal, plataforma de dados para municípios. As empresas que usam a tecnologia para criar soluções sociais sem abrir mão do lucro mais que dobraram em quatro anos no país. Já são mais de 1,2 mil empresas, que entraram no radar dos investidores. Desde o ventilador pulmonar que salva vidas na pandemia até o aplicativo que permite que alunos com deficiência visual ouçam o que está escrito na lousa; desde a plataforma que fornece às cidades informações e soluções capazes de gerar economia aos cofres públicos até o detector de fumaça que informa o início de um incêndio florestal em três minutos. Por trás dessas inovações estão empresas que usam a tecnologia para resolver problemas coletivos, mas também geram lucros e atraem investimentos em um segmento ainda pouco desenvolvido no Brasil, o de empresas com impacto social. Este movimento ainda está em sua infância, mas está se acelerando. O número de startups mais que dobrou em quatro anos. Já são 1.272 empresas com esse perfil mapeadas pelo Pipe Social, que acompanha o setor. Em 2017, eram 579. - Em 2009, quando começamos, ninguém entendia do que estávamos falando. O problema começou a ganhar corpo em 2016 e 2017 e acelerou na pandemia.

Executivos do País são menos otimistas com agenda ESG - Na pandemia, aumentou pressão para que CEOs e conselhos adotem ações ambientais, sociais e de governança; especialistas afirmam que posições do governo do País, contrárias às tendências globais em sustentabilidade e diversidade, podem influenciar humor de líderes. A pandemia de covid-19 serviu não só como um despertar para a atuação digital, mas também para mostrar que negócios precisam ter um propósito. Por isso, ao longo dos últimos 18 meses, um conceito representado por três letrinhas – o ESG (sigla em inglês para as atuações nas áreas ambiental, social e de governança) – virou mantra no alto escalão das organizações. Mas será que o discurso se reflete nas práticas do dia a dia das organizações? Nem tanto, na opinião dos próprios executivos brasileiros. Pesquisa da consultoria Russell Reynolds, referência em recrutamento de alto escalão, que testou o humor de 1,3 mil líderes globais no mundo todo – entre CEOs, conselheiros e diretores de grandes empresas – mostra que, quando o assunto é ESG, o brasileiro está mais pessimista do que a média global. Na amostra local, 53% dos executivos disseram ter confiança nas estratégias sociais, ambientais e de diversidade das companhias. Todas as demais regiões atingiram índices de confiança acima de 60% no que se refere ao ESG. Mas o pessimismo dos brasileiros se destacou em outros aspectos, como os que medem a confiança em planos de sucessão e na boa relação entre conselhos de administração e corpo executivo.

Brasil deve ter 70% de vacinados em dezembro - O Brasil tem capacidade para imunizar 70% da população com as duas doses da vacina contra a covid-19 até dezembro, caso mantenha a média atual de um milhão de doses aplicadas por dia. A taxa é considerada ideal para que a vacina seja capaz de controlar a transmissão do vírus. No entanto, especialistas afirmam que o País precisa superar problemas como a imprevisibilidade na entrega de vacinas e a baixa adesão à 2ª dose para atingir a marca. É preciso vacinar completamente cerca de 147 milhões de brasileiros para alcançar essa cobertura. Entre compras e doações, o Brasil terá 41 milhões de doses da Janssen, de aplicação única, até o fim do ano — 3,8 milhões já chegaram. Outras 106 milhões de pessoas terão de ser vacinadas no esquema de duas doses. Ao todo, o País deve aplicar 253 milhões de doses para imunizar 70% da população. Considerando que o Brasil já aplicou cerca de 115,7 milhões de vacinas — entre 1ª dose, 2ª dose e dose única —, ainda precisamos aplicar 137,3 milhões de doses. Os dados são do Ministério da Saúde e podem ter defasagem. O País tem vacinado um milhão de pessoas por dia, em média, há pelo menos um mês. Por isso, e com base nas entregas previstas para os próximos meses, estima-se que esse volume irá se manter.

‘EUA usam o 5G para fazer bullying tecnológico’ - Em meio ao centenário do Partido Comunista Chinês, o avanço da vacinação para combater a pandemia de covid-19 e um novo governo americano, o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, vê uma nova encruzilhada nas relações entre Pequim e Washington. “A chave da questão é saber se os EUA reconhecem ou não que o povo chinês também tem o direito de buscar o progresso”, avaliou Wanming em entrevista ao Estadão. O diplomata garantiu que seu país não tem a intenção de “desafiar ou substituir” ninguém, nem exportar ideologia ou buscar a hegemonia do mundo. Quer, no entanto, ser visto com uma visão “racional e objetiva”. Um dos pontos mais delicados no momento é em relação à tecnologia 5G, usada pelos EUA, segundo ele, como “bullying tecnológico”. Sobre o Brasil, Wanming afirmou ter uma sintonia na visão das relações diplomáticas entre a China e o Brasil depois da troca de comando no Itamaraty de Ernesto Araújo para Carlos Alberto Souza Franco. O chanceler vê ainda disposição em novas parcerias em vacinas e oportunidades para a exportação de produtos com maior valor agregado do Brasil para seu país.

Dobram os casos de alta patente impunes na Justiça - Avessas às investigações da CPI da Covid no Senado, ao ponto de comandantes subscreverem uma ameaça aos senadores, as altas patentes das Forças Armadas estão acostumadas à impunidade em IPMs (inquéritos policiais militares) abertos para investigar suspeitas de crimes. De uma década para outra, mais do que dobrou a quantidade de inquéritos que investigaram generais, brigadeiros e almirantes e que acabaram arquivados pela Justiça Militar. Não existe nem aprofundamento das investigações abertas na caserna nem qualquer tipo de punição na Justiça. Um levantamento feito pela Folha na parte aberta do sistema de processos do STM (Superior Tribunal Militar) identificou 41 IPMs que foram abertos diante de indícios de crimes militares cometidos por oficiais-generais e que acabaram arquivados entre 2011 e 2020. Na década anterior, entre 2001 e 2010, o sistema mostra 22 inquéritos arquivados. Por existir sigilo e ocultação em boa parte do sistema de consultas de processos do STM, tribunal que tem a atribuição exclusiva de julgar oficiais-generais, a reportagem questionou o órgão sobre a exatidão dos dados levantados. O STM informou que, entre 2011 e 2020, foram arquivados na verdade 52 IPMs envolvendo oficiais-generais. Isso significa que um militar de alta patente se livra de punição a cada dois meses e dez dias, em média. Na década anterior, conforme os dados fornecidos pelo STM, foram arquivados 25 inquéritos –um a cada cinco meses.

Pazuello nega ter negociado compra de doses com intermediários - O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello divulgou na noite desta sexta-feira (16) uma nota à Folha na qual afirma que, no período à frente da pasta, não negociou aquisição de vacinas com empresários. "Enquanto estive como ministro da Saúde, em momento algum negociei aquisição de vacinas com empresários, fato que já foi reiteradamente informado na CPI da Pandemia e em outras instâncias judicantes", escreveu o general da ativa. Encaminhada à Folha como "Notificação Extrajudicial", com pedido de direito de resposta, a nota foi publicada na sequência a toda a imprensa pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), da Presidência da República. A Folha negará o direito de resposta. A secretaria do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou ainda que o mesmo procedimento seria adotado em relação à CNN Brasil e ao jornal O Globo. Reportagem da Folha nesta sexta-feira revelou que, em um encontro fora da agenda, Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac que foram formalmente oferecidas ao governo federal por quase o triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan. Apesar de Pazuello ter dito no vídeo que havia assinado um memorando de entendimento para a compra, a negociação não prosperou.

Na crise, Congresso tenta emplacar reforma - Sob condução principalmente da Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional tentará emplacar nos próximos dois meses a maior reforma eleitoral e política desde a Constituição de 1988. Atualmente há cinco frentes de debate já formalizadas e uma sexta em gestação, todas elas iniciadas em 2021, em meio à pandemia da Covid. As mudanças pretendidas incluem temas como mudança do sistema de eleição de deputados e vereadores, exigência da impressão do voto eletrônico, simplificação de regras de transparência, amarras ao poder de regulação da Justiça Eleitoral, afrouxamento de punição pelo mau uso de verbas públicas e relaxamento das cotas criadas para incentivar a presença de mulheres e negros na política. Um dos pontos de maior interesse dos parlamentares já saiu do papel, com a aprovação na quinta-feira (15) de proposta que triplica o Fundo Eleitoral —a verba para abastecer candidatos em 2022 pode saltar de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões. O aumento, incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias, ainda tem um caminho a percorrer para entrar em vigor. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que é crítico do fundão, tem prerrogativa de vetar o dispositivo na LDO ou, posteriormente, no Orçamento-2022, que será votado a partir de setembro. A palavra final em ambos os casos, porém, cabe ao Congresso, que pode derrubar eventual veto. Bolsonaro terá que optar entre desagradar sua base eleitoral e entrar em contradição com seu próprio discurso ou irritar sua base de apoio no Congresso. Em 2020, quando passou pela mesma situação, o presidente escolheu a primeira opção e sancionou o fundão de R$ 2 bilhões.

Grupo mirava vender mais de 1 bilhão de doses - O grupo de vendedores informais de vacinas que negociou com o governo federal mirava a entrega de mais de 1 bilhão de doses e citava acesso ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As menções às autoridades estão registradas em mensagens de celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, recolhidas pela CPI da Covid, mas eram vistas como blefes por parte dos próprios comerciantes. Em plena disputa global por imunizantes, o militar que denunciou suposto pedido de propina no governo federal participou de negociações de pelo menos quatro marcas: Astrazeneca, Coronavac, Sputnik e Janssen. As ofertas eram apresentadas em papéis de empresas que não têm aval das fabricantes, como a Davati Medical Supply. Apesar de caricatas, as negociações chegaram à cúpula da Saúde, motivaram duas demissões na pasta, após a Folha revelar o caso, e constrangeram líderes do governo Jair Bolsonaro na CPI da Covid. Os diálogos guardados pela CPI citam suposto envolvimento de Bolsonaro nas tratativas em pelo menos sete dias distintos, mas não há indícios de que o mandatário sabia do grupo de Dominghetti. Já Michelle é mencionada uma vez, em 3 de março, quando o PM disse a um colega que a primeira-dama "está no circuito". As conversas do grupo de Dominghetti com o governo federal foram facilitadas por militares e nomes ligados à Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), ONG evangélica que prometia disparar as ofertas de vacina pelo mundo. Pessoas ligadas à ONG disseram a Dominghetti, em mensagens de celular, que o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da entidade, esteve com Bolsonaro em 15 de março. Nesta data, o mandatário recebeu líderes religiosos. Bolsonaro afirmou a jornalistas, em 12 de julho, que não se lembra do reverendo. "Se eu vi a cara dele, pode ser que eu lembre de algum lugar. Mas não estou lembrando dele aqui", afirmou. Não há nos diálogos de Dominghetti prova do encontro, como fotos. O próprio reverendo se contradiz sobre o acesso ao presidente.
Ao policial militar, Amilton afirmou, em 16 de março, que esteve com "quem manda", mas ele negou à TV Globo que tratou de vacinas ou ao menos se encontrou com Bolsonaro. Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou sobre as conversas de Dominghetti.

Distritão favorece candidatos de milícias - A pouco mais de um ano para as eleições de 2022, está em discussão no Congresso Nacional uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que busca alterar as regras para a escolha de deputados federais, estaduais e distritais e vereadores. De acordo com o texto, a ideia é acabar com o sistema proporcional, utilizado atualmente para se eleger os parlamentares e implementar, no ano que vem, o chamado distritão, que funcionaria nos moldes do sistema majoritário aplicado nas eleições para presidente, governadores, senadores e prefeitos. A proposta está em análise pela comissão especial criada na Câmara para tratar do tema, mas não é consenso entre os deputados do colegiado. Segundo a relatora da matéria, Renata Abreu (Podemos-SP), o sistema proporcional de lista aberta contribui para “consolidar e ampliar a distância que separa representantes de representados”. “O sistema eleitoral majoritário proporciona maior fidelidade entre a votação verificada nas urnas e a representação parlamentar. É, sem dúvida, o sistema mais justo e que mais prestigia a soberania popular”, defende. Mas a mudança para o distritão é criticada por outros parlamentares, que classificam o sistema como um retrocesso. O presidente da comissão, Luis Tibé (Avante-MG), pondera que “o distritão inviabilizaria o surgimento de novas lideranças no Congresso e facilitaria a eleição de candidatos apoiados por milícias e pelo tráfico”. “Nós teríamos deputados sem representação popular e com poucas ideologias, sem falar que estaríamos acabando com a fidelidade partidária, pois o mandato não seria do partido. Os candidatos chegariam lá apenas pelos interesses de algum grupo. Isso é ruim para a democracia”, observa.

Destaques

"Presidente pode ser indiciado" - O Congresso entra em recesso a partir de hoje até dia 31, após aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 na sexta-feira. Com a suspensão dos trabalhos, duas dúvidas pairam no ar: se a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid perderá relevância política e qual será o peso da desaceleração dos trabalhos. Um dos membros mais ativos do colegiado, o senador Humberto Costa (PT-PE), em entrevista ao Correio, faz um balanço sobre o que foi feito desde 27 de abril e qual será o peso da CPI no segundo semestre. O parlamentar não descarta o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro. “Não tenho dúvida nenhuma”, afirma. Segundo ele, o chefe do Excutivo cometeu crimes contra os direitos humanos e, se for aprovado na Comissão, também cabe uma representação junto ao Tribunal Penal de Haia. O senador demonstra preocupação com a dissminação de fake news, que extrapola a pandemia do novo coronavírus e a questão das vacinas e, por conta disso, a CPI deverá atuar em mais de uma frente, sem desviar o foco na corrupção.

Longe do hospital, bem perto da crise - O presidente Jair Bolsonaro terá alta hospitalar neste domingo, segundo informou, ontem, em coletiva de imprensa, o médico Antônio Macedo. Ele é o cirurgião chefe da equipe que cuida do presidente, que está internado, desde a semana passada, no hospital Vila Nova Star, em São Paulo, com um quadro de obstrução intestinal. O médico conversou com os jornalistas na porta do hospital. Segundo ele, o sistema digestivo de Bolsonaro já está em funcionamento, e a próxima etapa é passar da alimentação cremosa para a pastosa. Macedo explicou também que a recomendação de alimentos não fermentados é feita para evitar gases. Outra prática que não poderá ser adotada pelo presidente, pelo menos por enquanto, é andar de motocicleta. Segundo o médico, Bolsonaro tem sido orientado a mastigar bem a alimentação, ter refeições mais leves e fazer exercícios físicos para prevenir o quadro clínico que o levou à internação. Antônio Macedo disse, também, que, dependendo da avaliação médica, Bolsonaro deverá estar apto a dar expediente no Palácio do Planalto a partir de amanhã. Nesta semana, além das descobertas da CPI da Covid, um assunto que também deve trazer dor de cabeça ao presidente é o aumento das verbas do Fundo Eleitoral, de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhões, constante do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2022, aprovado na quinta-feira pelo Congresso. O reforço do caixa do fundo teve uma repercussão bastante negativa, e caberá a Bolsonaro decidir entre o veto e a manutenção desse dispositivo no texto.

Na rua, contra o protagonismo da esquerda - Os grupos Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, que convocaram as manifestações contra Dilma Rousseff em 2016 e reuniram milhares de pessoas contra a petista, se organizam para voltar às ruas em setembro, desta vez pelo impeachment de Jair Bolsonaro. A ação conjunta é uma tentativa de pressionar pelo  impedimento do presidente, evitando que somente os grupos de esquerda sejam protagonistas neste processo. Sindicatos e partidos como PSOL, PT e PCO já têm promovido manifestações pelo País. No cálculo para iniciar o movimento está tanto buscar a saída imediata do presidente que “incorreu em vários crimes de responsabilidade”, segundo afirma a advogada Luciana Alberto, porta-voz do Vem Pra Rua, quanto a avaliação de que, caso o impeachment se consolide, a rivalidade direta entre o presidente e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa se arrefecer. “O Lula se beneficia da candidatura do Bolsonaro”, diz Renan Santos, um dos coordenadores do MBL – para quem os protestos, até aqui, são também atos de pré-campanha do líder petista. Renan afirma que o foco dos atos não é Lula, mas, sim, Bolsonaro. Luciana discorda. “Nossa frase é ‘Eles, não’. Nem Bolsonaro, nem Lula.” Esses grupos avaliam que não são bem-vindos aos atos convocados pela esquerda, e citam como exemplo a hostilidade recebida por um grupo do PSDB no último protesto em São Paulo, em 3 de julho. Mas dizem que qualquer pessoa, incluindo as de esquerda, serão bem recebidas caso compareçam para defender o impeachment de Bolsonaro.

Brasil é o país que mais gasta com partidos - Estudo do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) com dados de 35 nações aponta que o Brasil é o país que mais envia dinheiro público para partidos e campanhas políticas. A aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pelo Congresso, na quinta-feira passada, jogou luz sobre o modo como é feita a distribuição de dinheiro público aos partidos no País. Apesar da repercussão negativa, por ter sido discutida em meio à crise sanitária, o volume dos recursos que os parlamentares destinam às próprias siglas é, há tempos, sem precedentes quando comparado com a realidade de outras democracias. Um estudo do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que reuniu dados de 35 nações entre 2012 e 2020, aponta que o Brasil é o país que mais envia dinheiro público para partidos e campanhas políticas. Juntas, as siglas brasileiras recebem, em média, US$ 446 milhões por ano (R$ 2,2 bilhões) dos fundos eleitoral e partidário. No ano que vem, quando serão realizadas as eleições estadual e federal, o montante será de R$ 5,7 bilhões, graças à LDO. A cifra, sem descontar a inflação, representa um aumento de 185% em relação ao valor que os partidos obtiveram em 2020 para as disputas municipais, o equivalente a R$ 2 bilhões. É, também, mais que o triplo do que foi destinado às eleições de 2018, quando foi distribuído o montante de R$ 1,8 bilhão. No ranking dos países que mais gastam com o sistema partidário, o México vem em segundo lugar, com US$ 307 milhões (R$ 1,5 bilhão) – aproximadamente quatro vezes menos do que o Brasil gastará no ano que vem somente com o fundo eleitoral. Ao excluir o primeiro colocado, a média da amostra cai para US$ 65,4 milhões (R$ 323 milhões), o equivalente a 14% do que o Estado brasileiro investe na manutenção e organização eleitoral dos partidos. “Estamos usando recursos públicos em demasia em comparação com o resto do mundo para o dia a dia da política, em vez de estar investindo diretamente em bens públicos. A quantidade de recurso é finita. Quando você usa muito para determinado fim, acaba faltando para outras coisas”, disse o autor da pesquisa, Luciano Irineu de Castro, do Impa.

MDB e PSL até esboçam chapa rumo a 2022 - Enquanto o eternamente dividido PSDB dá a largada ao seu processo de prévias e, junto com ala do DEM, permanece acoplado ao Centrão na Câmara, MDB e PSL avançam nas conversas ao centro com vistas às eleições. Os dotes dessa possível união são conhecidos: os emedebistas têm o tempo de TV e o ex-partido de Jair Bolsonaro a dinheirama do fundo eleitoral. Dirigentes até já esboçam nomes de chapa presidencial dos sonhos: o apresentador José Luiz Datena, recém-filiado ao PSL, como candidato ao Planalto tendo a senadora Simone Tebet de vice. A recente filiação de Datena ao PSL foi fundamental para afastar o partido do clã Bolsonaro. Em alta na CPI da Covid, Simone Tebet (MDB-MS) tem dito que apoiará uma terceira via no ano que vem e, por isso, não descarta ser vice caso seja necessário abrir mão do sonho do Planalto. Mas há também um plano B, com Luciano Bivar (PSL-PE) como vice de Simone, se Datena não topar. Esse agrada a quem gostaria de ter uma mulher contra Bolsonaro. As conversas entre PSL e MDB não excluem outros partidos de centro, como o Cidadania, o PSD e também o DEM. Nas tratativas com o PSL, o senador Rodrigo Pacheco, hoje no DEM-MG, surge como alternativa central ao Planalto pelo partido de Gilberto Kassab.

O ensaio do discurso para 2022 - Os petistas buscam toda a memória dos programas sociais de suas administrações para tentar alavancar uma candidatura de Lula. Jair Bolsonaro apostará no novo Bolsa Família como alicerce para a reeleição. A aposta do PT é a de que, diante da tragédia da fome que assola milhões de brasileiros desempregados, das escolas públicas com dificuldades por causa da ausência de internet e computadores acessíveis a todos e, de quebra, de um sistema de saúde que não consegue atender de forma adequada, as questões sociais terão apelo nas urnas, tal e qual 2002, quando Lula venceu. Portanto, na avaliação de muitos, será diferente de 2018, quando o combate à corrupção e a segurança pública predominaram, e 1994, quando a economia do Plano Real se sobressaiu sobre os demais. A chamada "terceira via" tentará acoplar todos esses quesitos que fizeram bonito em eleições anteriores para tentar dizer que o PT poderia até ter feito mais, não fossem os malfeitos descobertos na Petrobras. Lula à parte, o fato é que roubo houve, ao ponto de diretores da estatal devolverem dinheiro aos cofres públicos.