O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu o silêncio ao encerrar sua participação na abertura do 13º Fórum Jurídico de Lisboa, nesta terça-feira (2). Embora tenha participado da mesa inaugural do evento ao lado de ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades brasileiras, Motta optou por sair pelos fundos da Reitoria da Universidade de Lisboa, evitando jornalistas que o aguardavam para uma entrevista previamente anunciada por sua assessoria.

Segundo profissionais da imprensa presentes, a equipe do deputado havia confirmado uma coletiva em espaço reservado para cobertura jornalística, com estrutura montada especificamente para isso. O aviso mobilizou dezenas de repórteres e cinegrafistas, mas a espera foi frustrada: Motta deixou o prédio por uma saída lateral, sem qualquer declaração.

A atitude reforçou a percepção de desconforto do parlamentar diante do atual ambiente político. Alinhado a setores bolsonaristas no Congresso e aliado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), Motta tem liderado votações que impõem derrotas ao governo Lula, como a derrubada do decreto que reajustava alíquotas do IOF — medida que agora será contestada no Supremo Tribunal Federal por iniciativa da Advocacia-Geral da União.

Uma das várias postagens que criticam o presidente da Câmara dos Deputados nas redes sociais

Motta foi a Lisboa em jato da FAB

Desde então, Motta passou a ser o principal alvo de uma série de críticas feitas ao Congresso e rotulado nas redes sociais como “inimigo do povo”. A enxurrada de ataques aos parlamentares, por privilegiarem os interesses de empresários ricos contra os direitos dos pobres e da classe média, tem batido recordes nas plataformas digitais, com uma quantidade imensa de vídeos feitos com Inteligência Artificial.

A viagem a Lisboa também gerou questionamentos. O deputado chegou à capital portuguesa em aeronave da Força Aérea Brasileira, sob autorização baseada em decreto da era Bolsonaro. A escolha por um voo da FAB, segundo interlocutores, foi motivada pela intenção de evitar contato com passageiros e possíveis cobranças sobre sua atuação legislativa.

O presidente da Câmara só concedeu entrevista ao podcast da associação de empresários denominada Esfera Brasil.

Nos bastidores, a ausência de Motta na entrevista coletiva foi lida como um gesto calculado para evitar temas sensíveis. A expectativa entre jornalistas era que o presidente da Câmara se manifestasse sobre o desgaste crescente na relação entre Legislativo e Executivo, em especial após o embate envolvendo a política fiscal.

Até o momento, nem o gabinete de Motta nem a organização do evento se pronunciaram sobre o episódio.