Lula está perdendo espaço junto aos pobres, evangélicos ou não, por Luís Nassif

Lula está perdendo espaço junto aos pobres, evangélicos ou não, por Luís Nassif

Lula está perdendo espaço junto aos pobres, evangélicos ou não, por Luís Nassif

Até agora, Lula não conseguiu desenvolver um projeto de Nação tendo como foco central os pobres. Eles só aparecem nos discursos

Luis Nassif[email protected]

 

Ricardo Stuckert


 

Pode haver um engano na avaliação de que, porque caiu a popularidade de Lula entre evangélicos pobres e jovens, a razão pode ter sido suas afirmações sobre o Holocausto. A popularidade caiu por serem pobres e jovens, não necessariamente por serem evangélicos.

A decepção com Lula, nesta camada, pode ter facilitado o discurso religioso, mas o fator central é a decepção.

Até agora, Lula não conseguiu desenvolver um discurso, um projeto de Nação tendo como foco central os pobres. Eles só aparecem nos discursos.

É muito bonito e sofisticado falar em transição energética, digitalização, meio ambiente. Mas qual a participação dos mais pobres, dos empregos não qualificados. Mas, e eles?

Em certo momento da economia brasileira, quando o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estava a pleno vapor, antes que a Lava Jato acabasse com a engenharia brasileira, o governo Dilma Rousseff montou um acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Como havia um cronograma de início das obras, as construtoras consultariam o Cadastro Único, com todos os inscritos no Bolsa Família. Selecionariam aqueles com potencial para o trabalho e ministrariam treinamento.

Como depois disso veio o dilúvio, não sei do resultado final dessa parceria.

Em todos caso, ela mostrou um enorme potencial inaproveitado do país: as extensas redes de instituições distribuídas por todo o país, estruturas empresariais, sindicais, cooperativas, agricultura familiar, bancos públicos, Correios.

O grande papel do presidente seria montar um grupo de conselheiros – líderes ou presidentes de cada agência, mas que colocam a mão na massa – e trabalhar formas de organizar os pequenos, de montar arranjos produtivos, de desenvolver pesquisas que melhorassem a competitividade intrínseca de cada grupo, fundos garantidores de crédito.

Fala-se muito em tecnologias de ruptura. Mas melhorias incrementais em pequenas e médias empresas – dada sua quantidade no país -, tem muito mais impacto sobre o PIB.

O golpe dos precatórios

Ciro Gomes é sabido mas não é esperto. Em programa na CNN, denunciou que o governo federal estava beneficiando apenas os bancos e os investidores ao quitar os precatórios. Falou uma meia verdade. E, como dizia São Tomaz de Aquino, meia verdade é uma das formas de mentira.

O jogo consiste no seguinte.

  1. Anualmente o governo é obrigado a colocar no orçamento recursos para quitar precatórios – que são o resultado de ações já julgadas contra o governo.
  2. Aí o governo atrasa o pagamento. Apertados, os donos de precatórios vendem para especuladores de mercado, com um deságio médio de 30 a 50%. Segundo o TCU, apenas em 2022, 65% dos precatórios haviam trocado de mão.
  3. O investidor usa os recursos para pagar concessões ou quitar dívidas, pelo valor de face.

Portanto, é um golpe. Qual a parte da história que Ciro não contou:

  1. Esse golpe foi aplicado por Paulo Guedes, que atrasou o pagamento, em parte para poupar recursos para jogadas eleitoreiras, em parte para beneficiar seus parceiros do mercado.
  2. O Supremo Tribunal Federal ordenou que o governo quitasse os precatórios.
  3. Portanto, não havia nenhuma possibilidade do governo Lula não pagar os precatórios.

A injustiça nessa história é que os precatórios equivaliam a R$ 90 bilhões. Desses, R$ 49 bilhões eram de ações alimentares, e R$ 41,8 bilhões de ações comuns.

De quem o mercado roubou o dinheiro?

Apresentação

Créditos alimentares: o Art.100 da Constituição federal define os créditos alimentares como “aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado”, tais como os créditos decorrentes de causas previdenciárias e de servidores públicos.