Lula e o PT: o adeus à luta de classes
Lula e o PT: o adeus à luta de classes
Publicamos a seguir uma tribuna aberta, artigo do jornalista André Lobão.
Lula assim como Vargas e Jango tem sua base política formada a partir do movimento sindical, no berço operário do ABC paulista dos anos 1970, que culminou com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980.
Mas em seu terceiro mandato presidencial, Lula se desvincula dessa base, e isso fica evidente quando acolhe de forma clara a aplicação de preceitos neoliberais na condução de sua presidência.
Lula assim como Vargas e Jango tem sua base política formada a partir do movimento sindical, no berço operário do ABC paulista dos anos 1970, que culminou com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980. Mas em seu terceiro mandato presidencial, Lula se desvincula dessa base, e isso fica evidente quando acolhe de forma clara a aplicação de preceitos neoliberais na condução de sua presidência.
O fato é que infelizmente, o atual líder mais popular da esquerda brasileira e seu partido optaram por descartar históricas bandeiras de luta na defesa dos trabalhadores.
O arcabouço fiscal e a privatização da saúde
O grande marco deste atual governo é sem dúvidas o arcabouço fiscal gerido por seus ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, respectivamente ministros da Economia e Planejamento.
O controle de gastos, um dos marcos mais importantes do receituário neoliberal segue sendo aplicado, mesmo que isso custe a perda de confiança de sua base popular, como o movimento sindical. E isso fica claro quando o governo promove processos de privatização como acontece na área de saúde em hospitais federais, no caso específico no Hospital de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, que teve entregue sua gestão integral para uma Organização de Saúde (OS), par ao Grupo Hospitalar Conceição.
A bandeira liberal e o abandono da luta de classes
Mas por que Lula, ao contrário de ex-presidentes apoiados por movimentos populares como Getúlio Vargas e João Goulart (Jango), faz a opção de ter suas ações de governos a partir de uma orientação de direita?
A resposta existe a partir de um levantamento da Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, lançou um estudo "Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo" que mostra claramente o descarte do conceito de luta de classe. O trabalho foi produzido entre 22 de novembro de 2016 e 10 de janeiro de 2017.
Foram realizadas entrevistas com moradores de bairros periféricos de São Paulo, acima de 18 anos, com renda familiar mensal de até cinco salários-mínimos e que deixaram de votar no PT. Segundo o estudo, lançado em 2017, ao menos 30% dos entrevistados são ou foram beneficiários de programas sociais implementados pelos governos do PT.
"No imaginário da população não há luta de classes; o ‘inimigo’ é, em grande medida, o próprio Estado ineficaz e incompetente. Abre-se espaço para o ‘liberalismo popular’ com demanda de menos Estado", diz um trecho do estudo.
Ainda, o estudo afirma que o padrão de vida na periferia melhorou como resultado direto das políticas dos governos petistas, mas essa melhoria levou os moradores a “se identificarem mais com a ideologia liberal, que sobrevaloriza o mercado”.
Isso é nitidamente uma mudança na orientação do partido que na sua fundação e ao longo de sua história chegou a defender o socialismo como uma alternativa ao sistema capitalista. Assim, o PT se conforma e abraça o discurso da direita e extrema-direita brasileira que emplacam nomes como Bolsonaro e Pablo Marçal nas camadas mais populares da população.
Lula abandonou as causas populares
Em 1995, o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC) decretou o “fim da era Vargas”, quando sancionou o regime de concessões de serviços públicos no Brasil, quando o Estado deixou de ser o investidor, regulamentador e fiscalizador. Assim, o Brasil abriu suas porteiras para grandes processos de privatização de sua infraestrutura, com a Petrobrás, por exemplo, tendo perdido o monopólio da exploração e produção de petróleo.
Vargas e Jango, obviamente, não eram socialistas, mas calcaram suas histórias políticas erguendo bandeiras importantes como a defesa dos direitos dos trabalhadores e na soberania nacional. Getúlio Vargas abraçou a campanha do ’Petróleo é Nosso”, criando em 1953 a Petrobrás, além de instituir a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em que criou um arcabouço de leis em proteção aos trabalhadores.
Por sua vez, Jango defendia as chamadas reformas de base que incluíam as reformas: agrária, educacional tributária, administrativa e urbana, além de um controle maior na remessa de lucros de empresas estrangeiras para o exterior.
O eleitoralismo e o mundo dos bacanas
E o resto é história. Ambos, Vargas e Jango foram combatidos ferozmente pela burguesia brasileira, gerando um suicídio e golpe civil militar. Já Lula e PT jogam as bandeiras de luta históricas dos trabalhadores no limbo, adotando uma conciliação de classes, em nome de um eleitoralismo que só ouve banqueiros e os novos barões do capitalismo, da mesma forma que FHC.
Lula nada mais é hoje do que um “popstar” , preocupado somente em manter sua imagem internacional de líder global, está aí o encontro do G20 para comprovar isso em que será o mestre cerimônia do “clube dos bacanas”
O terceiro governo de Lula, e o quinto do PT, sequer colocam em discussão a revogação de reformas como a Trabalhista e da Previdência, e seguem cozinhando em banho maria o movimento sindical ligado à esfera petista como a CUT e seus sindicatos filiados, que se tornam peças decorativas e empoeiradas de um sindicalismo sem forças e bases.