Com Ibaneis, pandemia nunca vai acabar

Com Ibaneis, pandemia nunca vai acabar

Com Ibaneis, pandemia nunca vai acabar

 

Enquanto outros estados seguem adotando medidas para, pelo menos, minimizar impacto do vírus na vida das pessoas, no DF, o governador Ibaneis Rocha (MDB) tem deixado a população à própria sorte

 Publicado: 16 Fevereiro, 2022 - 15h12 | Última modificação: 16 Fevereiro, 2022 - 17h29

Escrito por: Leandro Gomes

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Quando as primeiras vacinas contra a Covid-19 foram disponibilizadas para a população, trouxeram consigo uma sensação de esperança. Um sentimento coletivo de que logo tudo voltaria à normalidade. Infortunadamente, novas variantes surgiram e, com elas, a necessidade de repensar regras sanitárias mais rígidas  ─ tais como as implementadas no início da pandemia ─ para controlar o avanço do vírus.

Entretanto, enquanto governantes de outros estados seguem adotando medidas para, pelo menos, minimizar impacto do vírus na vida de milhares de pessoas, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), vai na contramão e tem deixado a população à própria sorte.

O próprio governador reconheceu que o DF atravessa a terceira onda da pandemia, devido aos altos índices de contágio, mas, mesmo assim, descartou a adoção de restrições da circulação de pessoas. 

Nem mesmo a testagem em massa de forma fácil e rápida foi disponibilizada para a população. Quem apresentar sintomas da Covid-19 e quiser fazer o teste em algum dos postos de atendimento, precisa estar disposto a encarar filas longas, com até três horas de espera. Para a testagem gratuita nas farmácias conveniadas da Secretaria de Saúde do DF, o cenário não é muito diferente. São inúmeros os relatos de pessoas que não conseguem ter acesso ao exame ou sequer fazer o agendamento.

Saúde

Quando se olha para os hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou Unidades Básicas de Saúde (UBS), o descaso de Ibaneis com a pandemia fica ainda mais evidente. Apesar de, há meses, autoridades competentes alertarem sobre o risco da terceira onda da Covid, o GDF não se antecipou e não preparou os locais com equipamentos e profissionais suficientes para atender a demanda.

Como resultado de tamanha negligência, o DF ocupa hoje o segundo lugar no ranking de ocupação de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para a Covid-19, ficando atrás apenas do Mato Grosso do Sul. Até o fechamento desta matéria, a taxa de ocupação na capital federal era de 95,37%.  

SINDENFERMEIROSSindEnfermeiros

A presidenta do Conselho de Saúde do DF, Jeovânia Rodrigues, avalia que a organização para o enfretamento da nova onda da pandemia ─ tanto em âmbito federal como distrital ─ segue equivocada. Entre os erros, ela destaca a ausência de uma campanha de incentivo à vacinação massiva ─ visto que 90% dos pacientes da UTI estão imunizados.  

"Infelizmente, vemos, mais uma vez, os mesmos erros acontecendo e que poderiam ter sido evitados com planejamento do ponto de vista epidemiológico, mas sensível, por salvar as vidas com a capacidade que o Sistema Único de Saúde (SUS) já tem, de que poderíamos ter um sucesso bem maior no enfrentamento ao novo pico da pandemia, que é o que estamos vivenciando nesse começo de 2022", disse.

Volta às aulas

Assim como tem sido negligente na área da saúde, na educação Ibaneis também se mostrou um péssimo gestor. Na última segunda (14), milhares de alunos retornaram salas de aula e, como era de se esperar, o governador não fez qualquer esforço para dar segurança sanitária à comunidade escolar.

A diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, lembra que a região enfrenta um caos na saúde e que a entidade sindical tentou dialogar com o governo o retorno seguro para todas e todos. Porém, o GDF se negou em abrir as portas para o diálogo.

Na terça (8), por exemplo, a Comissão de Negociação do Sinpro foi barrada na portaria do Edifício Phenicia, sede da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). Por ordem do Subsecretário de Apoio às Políticas Educacionais (SUAPE), Isaías Aparecido da Silva, cinco diretores da entidade, que queriam debater, entre outros pontos, o retorno seguro das aulas presenciais, foram impedidos de adentrar a sede do órgão.

SINPRO-DFSinpro-DF "Isso significa colocar em risco a vida de pessoas que poderiam passar por essa situação com maior segurança e tranquilidade. Então, nós (Sinpro) temos uma preocupação muito grande com esse retorno e já nos colocamos à disposição para discutir o tema com a Secretaria de Educação. Não estamos dizendo que não tem que voltar ninguém. Não se trata disso. Mas é como fazer isso com segurança.

Como se não bastasse, em plena alta do contágio pela Covid-19, o GDF decidiu ampliar em até 60% o número de estudantes por turma na rede pública de ensino. A determinação, que está na Estratégia de Matrícula para a Rede Pública de Ensino do Distrito Federal 2022, foi tomada sem qualquer diálogo com o Sinpro-DF e com a comunidade escolar.

No documento, o GDF determina a ampliação do número de estudantes por turma em praticamente todos os anos da Educação Básica, permitindo salas de aula com até 42 estudantes. Apenas o Novo Ensino Médio não teve alteração, mas, mesmo assim, aponta até 38 estudantes por turma, de acordo com o Sinpro-DF.

“Desde 2007, Sinpro e GDF definem em conjunto as Estratégias de Matrícula, equilibrando as possibilidades da rede pública, a qualidade de vida e valorização de professores e professoras e a qualidade do ensino proposto à população. Neste ano, a atual gestão do DF deu seguimento à política de diálogo zero e decidiu unilateralmente sobre o importante instrumento”, afirma a diretora do Sinpro-DF Berenice D’arc.

Transporte público

Outra área crítica, mesmo antes da Covid, e que merecia atenção especial do governo durante a pandemia é o transporte público. Com a tarifa mais cara do Brasil ─ R$ 5,50 ─, os ônibus coletivos da capital federal circulam absurdamente lotados e, consequentemente, se tornaram um epicentro para transmissão do vírus. E mesmo durante os altos picos de contágios do vírus não houve ações do GDF para mudar esse quadro. 

Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação (SBCC) aponta que o transporte público brasileiro é o ‘grande vilão’ para a disseminação da variante Ômicron da Covid-19.

“A contaminação no transporte público acontece pelo ar, mesmo com as pessoas utilizando máscara. Não há renovação de ar principalmente nos veículos com ar-condicionado, o que torna muito grande a chance de contágio pela Covid-19“, disse o diretor do SBCC e especialista em climatização e refrigeração, Ricardo Salles

O militante do Movimento Passe Livre (MPL), Paique Santarém,  explica que transporte público no DF ─ assim como em outras capitais do Brasil ─ é superlotado porque está estruturado para dar lucro aos empresários e não em forma de direito, como é assegurado constitucionalmente. "É mais lucrativo para qualquer empresário um ônibus com 120 pessoas do que dois ônibus com 60 sentadas", disse.

 YAN MARCELO Yan MarceloEle destaca também que, nesse sistema que coloca o lucro acima da segurança e do bem-estar do passageiro, a tarifa dos ônibus é calculada com base no Índice de Passageiros por Quilômetro rodado (IPK). "Isso faz com que se o ônibus tiver poucos passageiros, ele se torna pouco produtivo. Quanto mais lotado, mais produtivo ele é. É como se pegasse todo o custo da circulação do ônibus e dividisse pelo número de passageiros. Isso é histórico", afirmou.

Com a chegada da pandemia, o número de passageiros diminuiu drasticamente em um primeiro momento. Pensado no lucro, as empresas prontamente diminuíram os ônibus circulando pela capital federal, o que provocou as cotidianas lotações nos coletivos.

"Então, simultaneamente, o transporte ficou com menos veículos. O governo, em vez de implementar ações para melhorar o transporte coletivo, fez coisas para melhorar a vida do empresário, dando subsídio", explicou Santarém.

Só em 2021, as empresas receberam cinco repasses milionários do GDF ─ com o aval da Câmara Legislativa do DF (CLDF) ─, além da cifra já prevista no orçamento daquele ano. Para se ter ideia dos valores absurdos, o último subsídio aprovado pela CLDF no final do ano passado foi de R$ 60 milhões. 

Santarém aponta que várias ações poderiam ter sido tomadas pelo GDF para diminuir a superlotação dos ônibus e dar mais segurança aos usuários. Entre elas, o militante destaca o aumento do número de ônibus, implementação de medidas de higienização e de controle sanitário para que o transporte seja menos transmissível, além da distribuição massiva de testes e máscaras para os passageiros.

"Ou seja, reduzir a lotação com o aumento da oferta e aumentar os equipamentos de proteção para usuários e trabalhadores do transporte coletivo. Nada disso foi propriamente pensado. Havia um conjunto de medidas que poderiam ter sido tomadas e não foram porque o foco principal do governo foi manter o sistema funcionando ─ o lucro das empresas", afirmou.

Números

Desde o início da pandemia, o DF já registrou mais de 662 mil casos de contaminação e quase 11.300 mortes pela Covid-19. Apesar de a vacinação ter atingido mais de 70% da população da capital, sem o distanciamento social e o uso de equipamentos de proteção, o vírus continua se alastrando.

A situação também se agrava, no caso do ambiente escolar, pelo fato de a imunização infantil ter menos adesão. Isso não apenas no DF mas no resto do país, o que ocorre, entre outros fatores, devido à desinformação e à propagação de fake news ─ outro problema que o governo Ibaneis, alinhado com Bolsonaro, não fez questão de combater.  

O presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, destacou o enfrentamento da pandemia deve ocorrer por meio de uma gestão completa, que envolve várias áreas da administração pública.

"O enfrentamento da pandemia vai muito além da compra e disponibilização das vacinas para a população. A luta contra o vírus envolve várias áreas da administração pública, que, infelizmente, foram negligenciadas por Ibaneis. Por ser um território menor e ter recursos, o DF teria mais facilidade de avançar no combate ao vírus. Mas, por omissão do governador, estamos enfrentando mais um período crítico de crise sanitária", afirmou.