Ciro fora? Apoio do PDT à PEC dos Precatórios muda cenário para 2022
Ciro Gomes anunciou, em seu Twitter, que sua pré-candidatura a presidente está “em suspenso”.
Ciro fora? Apoio do PDT à PEC dos Precatórios muda cenário para 2022
Ciro Gomes anunciou, em seu Twitter, que sua pré-candidatura a presidente está “em suspenso”.
A decisão foi anunciada após o PDT, seu partido, garantir 15 votos fundamentais para a aprovação, em primeiro turno, da PEC dos Precatórios, projeto que abre espaço no orçamento para burlar o teto de gastos, adiar o pagamento das dívidas assumidas pela União e garantir recursos para o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil, principal carta na manga do presidente em busca da reeleição.
A PEC foi aprovada com 312 votos, quatro a mais do que o mínimo necessário para avançar. Ou seja, os votos dos pedetistas foram decisivos para pavimentar o caminho de Bolsonaro até 2022 —o que teria irritado o ex-governador do Ceará, que na mesma sequência de postagens se disse surpreso negativamente.
Ciro chamou a PEC dos Precatórios de “famigerada” e anunciou que sua pré-candidatura está suspensa até que a bancada do seu partido reavalie a posição.
“Não podemos compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas. Justiça social e defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, erros administrativos graves, desvios de verbas, calotes, quebra de contratos e com abalos ao arcabouço constitucional”, escreveu o pedetista.
O “auto-gancho” deve durar até terça-feira 9, quando a Câmara votará a PEC em segundo turno.
É provável que, diante da ameaça, os 12 deputados da legenda que endossaram a PEC de Bolsonaro revejam seus votos. Mas há detalhes que impedem observar a posição como uma “traição”
O PDT não foi o único partido da oposição que ajudou a aprovar a proposta. O PSB, partido que neste momento articula uma aliança com o PT para concorrer em 2022 à Presidência, provavelmente com Luiz Inácio Lula da Silva à frente, garantiu 10 votos para o texto —quase um terço de sua bancada da Câmara. PSDB, Podemos e PSD também ajudaram a aprovar a PEC.
No caso dos pedetistas, contou para a decisão um acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que priorizaria o pagamento das dívidas para professores.
Além disso, com o fim do Bolsa Família, obra do governo Bolsonaro, é possível presumir que muitos parlamentares entenderam ser um suicídio político vetar um projeto que garantirá, mesmo que por apenas 14 meses, R$ 400 no bolso das famílias mais vulneráveis em um contexto de crise sanitária e econômica.
A bancada do PT, por exemplo, votou contra e foi alvo de ataques nas redes sociais do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Detalhe é que Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, disse ao colunista Chico Alves, do UOL, que não orientou a bancada do partido a votar contra a PEC. Ou seja: os próprios arquitetos da candidatura de Ciro assumiram o risco de seus deputados darem a Bolsonaro, seu provável adversário no ano que vem, um trunfo para a disputa.
A surpresa de Ciro com a atitude dos correligionários pode, portanto, ser jogo de cena.
A suspensão da candidatura, que pode não passar de blefe, acontece no momento em que o ex-juiz Sergio Moro está prestes a assinar sua filiação ao Podemos. Não se sabe se ele concorrerá em 2022 para uma vaga no Senado ou à Presidência. Mas sabe-se que estará no jogo.
Ciro tem apostado alto no discurso antipetista, numa tentativa de servir como ímã de votos para os ex-bolsonaristas arrependidos que não querem ouvir falar de Lula. Com Moro eventualmente no páreo, essa estratégia estará automaticamente enterrada: o ex-juiz, se estiver mesmo em campo, certamente será o maior beneficiário desse espólio.
Mesmo que ele seja dividido, será insuficiente para que um dois dois chegue ao menos ao segundo turno.
Ciro talvez esteja mais preocupado com a inviabilidade da eleição do que com a “traição” dos deputados de seu partido.