BRB apresenta prejuízo contábil de R$ 42,922 milhões no 1º trimestre de 2024
BRB apresenta prejuízo contábil de R$ 42,922 milhões no 1º trimestre de 2024
Autor: Chico Sant'Anna
Embora a Demonstração do Resultado do BRB no 1º trimestre de 2024 aponte um lucro líquido recorrente de R$ 8,7 milhões – 89,9% menor do que o desempenho verificado no último trimestre do ano passado – esses valores escodem um prejuízo contábil de quase R$ 250 milhões. O desempenho positivo foi alcançado graças a uma contabilidade que computou créditos tributários e venda de carteira de créditos.
Por Chico Sant’Anna
O Banco de Brasília (BRB) apresentou no primeiro trimestre de 2024 um prejuízo contábil de R$ 42,922 milhões. A informação consta da “Demonstração do Resultado do BRB no 1º trimestre de 2024”, enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos – Dieese, o banco conseguiu, no entanto, demonstrar a existência de um lucro líquido recorrente, da ordem de R$ 8,7 milhões, mas isso ocorreu em decorrência da contabilização de créditos tributários, em montantes superiores a R$ 70 milhões.
A preocupação com a saúde futura do BRB, se deve ao fato de que esses créditos não são rotineiros. Outro ponto que chamou a atenção dos economistas foi o fato de o BRB ter antecipado receita da ordem de R$ 92 milhões com a venda de carteiras com valor estimado de R$ 900 milhões. Sem o crédito tributário de 70 milhões e a receita de R$ 92 milhões dessas carteiras de crédito, o prejuízo total nesse primeiro trimestre seria de R$ 204,922 milhões. Mesmo se valendo dessa arquitetura contábil, o lucro líquido recorrente de R$ 8,7 milhões do BRB, no primeiro trimestre, é considerado pequeno.
Representa, segundo o Dieese, uma queda de 89,9% no desempenho em comparação ao verificado no último trimestre do ano passado. O Banco, por sua vez, afirmou a esse blog que “todos os itens da Demonstração do Resultado seguiram o planejado no orçamento do BRB, com destaque para o aumento na margem financeira em mais 45% e nas operações de seguros, que cresceram – segundo informa a instituição – 52% em relação ao mesmo período do ano passado”.
“Importante observar que as receitas com operações de crédito cresceram 15,8%, enquanto as despesas de pessoal, somadas às despesas administrativas, cresceram a metade disso, 7,6%, na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. A carteira de crédito do BRB cresceu 12,2% nos últimos 12 meses, atingindo R$ 36 bilhões. Destaque para a evolução de mais de 83% na carteira rural, 34% nos financiamentos imobiliários e 29,5% na carteira de pessoa jurídica. O BRB encerrou o primeiro trimestre deste ano com 7,7 milhões de clientes, crescimento de 8,7% na comparação com o mesmo período de 2023.” – detalha o banco.
Entretanto, na visão de analistas, grande parte dessa clientela é considerada não rentável ou mesmo geradores de prejuízos, pois uma boa parte dos 7,7 milhões de clientes é na verdade do Banco Digital Nação BRB-Fla, que deram prejuízos ao BRB ao não pagarem as operações de créditos realizadas para esse segmento.
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A análise do Dieese é assinada pelos economistas Paula Reisdorf e Daniel de Oliveira. O documento salienta que a carteira de crédito foi ampliada – “foi um dos poucos resultados financeiros que registrou crescimento em três meses” -, totalizando R$ 36,1 bilhões, aumento de 0,7% em três meses, e 12,2% em doze meses. “Destacam-se os segmentos de crédito rural (+83,8% em doze meses), crédito imobiliário (+34,4% em doze meses), pessoa jurídica (+29,5% em doze meses) e cartão de crédito (+28,4%). O único segmento a registrar queda foi o de pessoa física, que recuou 4,9% em doze meses, e 2,6% em três meses.”
Inadimplência
Entretanto, a inadimplência cresceu, obrigando o banco a aumentar em 50,8% (R$ 337 milhões) o provisionamento para cobrir crédito de liquidação duvidosa (PCLD). O provisionamento funciona como uma espécie de vacina em caso de confirmação de calote. O índice de inadimplência referente a 90 dias fechou o trimestre em 3,17%, um aumento de 0,92 ponto percentual, em relação ao quarto trimestre de 2023, mas ainda levemente abaixo da inadimplência média do Sistema Financeiro Nacional (3,21%). O BRB diz que está trabalhando para reduzir a inadimplência e que “tomou uma série de medidas de cobrança e recuperação de crédito com o objetivo de reverter esses impactos, cujos resultados positivos serão percebidos já no segundo trimestre e que estarão completamente refletidos até o fim do ano”.
Patrocínios
Vanderley Batista Barbosa, ex-diretor do BRB, analisa que o Banco apresenta gastos desproporcionais com patrocínios de duvidoso retorno. “No primeiro trimestre do ano, o banco já gastou R$ 28 milhões com patrocínios, apesar de ter apresentado prejuízo contábil de R$ 42,9 milhões. Em comparação, juntos o Banestes e o Banrisul – dois bancos públicos como o BRB -, que deram um lucro de 1,2 bilhão em 2023, gastaram menos em patrocínio no ano todo (R$ 27 milhões – R$ 6 milhões do Banestes e R$ 21 milhões do Banrisul)” – relata ele.
O BRB tem uma política de patrocínio que, no mínimo, pode ser considerada ousada. Segundo informa o Dieese, em 2023, foram gastos R$ 45 milhões com o Flamengo e mais R$ 81 milhões com outros patrocínios, “gastando o equivalente de 63% do seu lucro líquido recorrente em patrocínios em 2023″. Também é substancial o gasto com as quatro salas VIP do BRB nos aeroportos de Brasília, Rio de Janeiro (Santos Dumont), Goiânia e um espaço coworking, em Congonhas. O custo mensal é superior a R$ 2 milhões, segundo os economistas.
Só no último trimestre de 2023, o BRB dispendeu cerca de R$12,6 milhões para pilotos e provas de automobilismo, R$ 227 mil para o Museu do Flamengo e R$ 1,2 milhões para o basquete rubro-negro. Esses patrocínios tem retorno duvidoso e não é de conhecimento público nenhuma análise técnico financeira de sua eficácia. Segundo o Dieese não é possível avaliar os reflexos positivos ou negativos do acordo com o Flamengo, pois o BRB não separa os resultados da parceria, o que impede uma análise clara do impacto financeiro dessa parceria.
Santa Cruz
Se não bastasse a polêmica parceria rubro-negra, que tem previsão de consumir R$ 25 milhões anuais, até abril de 2026, a imprensa nordestina noticia agora que o Banco de Brasília irá patrocinar o Santa Cruz, de Pernambuco. O time, que é do coração do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, está em decadência e hoje se encontra na Série D do Campeonato Brasileiro, a mesma em que times da Capital Federal jogam. Quando da redação desse artigo, estava na sexta posição, do grupo C, que possui oito times. Pelas regras do torneio, em cada uma das chaves, apenas os quatro primeiros se classificam para a segunda fase do torneio. O Brasiliense, por sua vez era o primeiro no grupo E.
Os entendimentos estariam sendo intermediados pelo deputado federal, Augusto Coutinho (Republicanos-PE). As notícias são contraditórias, ora a imprensa pernambucana diz que o BRB será um patrocinador do time, ora fala em o BRB comprar parte do time que está se transformando numa Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e ora o relacionamento seria com uma empresa de consultoria de propriedade de Paulo Henrique Costa. Já o portal Relatório Reservado afirma que a demandada do Santa Cruz envolve as três opções conjuntamente: Patrocínio, consultoria para a formação da SAF e aquisição pelo BRB de parte das ações da nova sociedade.
O Banco nega as três possibilidades: “não existe nenhuma parceria ou patrocínio entre o Banco e o Santa Cruz Futebol Clube, de Pernambuco. O Banco ressalta que não atua, participa ou investe em nenhuma SAF e o presidente Paulo Henrique Costa não possuiu nenhuma empresa de consultoria.”
Por sua vez, o deputado Augusto Coutinho informou a esse blog que a ajuda do presidente do BRB ao time tem sido de forma informal, com orientações à direção do Santa Cruz. O clube, na avaliação do parlamentar, necessitaria de uma injeção de R$ 100 milhões. “Eu adoraria que fosse com o BRB, mas em Pernambuco a operação do banco é muito pequena. Nós estamos conversando com um grupo do Rio de Janeiro e outro do exterior” – concluiu Coutinho. No portal do Sindicato dos Bancários do DF, nota publicada diz que o medo é que essa gestão criativa deteriore o patrimônio do BRB.
Percepção dos investidores
O desempenho financeiro negativo pode afetar, na opinião de Vanderley Barbosa, a percepção dos investidores e, consequentemente, a oferta de ações do BRB. “A queda no lucro recorrente e o prejuízo contábil podem gerar desconfiança quanto à capacidade do banco de gerar resultados positivos de maneira sustentável, o que pode reduzir o interesse dos investidores e impactar negativamente o preço das ações devido à percepção de maior risco” – comenta ele. Em maio passado, duas agências internacionais de classificação de risco de crédito, a Fitch Ratings e a Moody’s, rebaixaram avaliação do Banco de Brasília.
Ele também questiona a falta de transparência na gestão da instituição bancária. “O BRB nunca explica o motivo por trás de resultados negativos, então ele não especifica em nenhum lugar do relatório de administração quais medidas estão sendo adotadas para reverter o desempenho. Porém, o banco diz que vai continuar seu plano de aumentar a carteira de crédito, expandir sua base de clientes e fortalecer e diversificar seu portfólio de produtos e serviços financeiros.”