190 bancos norte-americanos correm risco de repetir colapso do SVB, adverte estudo de economistas
190 bancos norte-americanos correm risco de repetir colapso do SVB, adverte estudo de economistas
Por Hora do Povo
Elevação das taxas de juros pelo FED deixa dezenas de bancos norte-americanos a descoberto (Reprodução)
Estão acossados por perdas não realizadas causadas pelo rápido aumento das taxas de juros, atingindo especialmente os títulos do Tesouro que detêm
Em torno de 190 bancos norte-americanos estão enfrentando riscos semelhantes aos que levaram à implosão e à falência do Silicon Valley Bank (SVB), de acordo com um artigo publicado esta semana na Social Science Research Network.
O SVB, o “banco das startups e da tecnologia”, que existia há 40 anos, foi fechado pelos reguladores na semana passada após enorme evasão de depósitos.
No estudo, quatro economistas de importantes universidades americanas estimaram quanto em valor de mercado os ativos mantidos pelos bancos americanos perderam devido aos recentes aumentos das taxas de juros.
“De 07 de março de 2022 a 6 de março de 2023, a taxa dos fundos federais subiu acentuadamente de 0,08% para 4,57%, e esse aumento foi acompanhado de aperto quantitativo. Como resultado, ativos de longo prazo semelhantes aos mantidos em balanços bancários sofreram quedas significativas de valor durante o mesmo período”, escreveram eles.
Grande parte desses “ativos de longo prazo” eram Títulos do Tesouro norte-americano, até aqui tidos como um refúgio de segurança por excelência.
O artigo é assinado por Erica Xuewei Jiang, da Universidade do Sul da California; Gregor Matvos, da Northwestern University – Kellogg School of Management; Tomasz Pikorski, da Columbia University – Columbia Business School; e Amit Seru, da Universidade de Stanford.
“Analisamos a exposição dos ativos dos bancos norte-americanos a uma recente subida das taxas de juro com implicações para a estabilidade financeira”, destaca o artigo.
US$ 2 TRILHÕES MENOR
“É US$ 2 trilhões menor o valor de mercado dos ativos do sistema bancário dos EUA do que o sugerido pelo valor contábil dos ativos contabilizados para carteiras de empréstimos mantidas até o vencimento”, registra o artigo.
“Os ativos bancários marcados a mercado caíram em média 10% em todos os bancos”, o que se agrava no 5º percentil inferior que sofreu “um declínio de 20%”, destacam os economistas.
“Ilustramos que a alavancagem não segurada (isto é, dívida/ativos não segurados) é a chave para entender se essas perdas levariam à insolvência de alguns bancos nos Estados Unidos – ao contrário dos depositantes segurados, os depositantes não segurados podem perder uma parte de seus depósitos se o banco falhar, potencialmente dando-lhes incentivos para ‘correr’”.
EMBLEMÁTICO
Um estudo de caso do recentemente falido Silicon Valley Bank (SVB) é ilustrativo, acrescentam os economistas. “10% dos bancos têm perdas não reconhecidas maiores do que as do SVB. O SVB – observam -também “não foi o pior banco capitalizado, com 10% dos bancos tendo uma capitalização menor que o SVB”.
Por outro lado, o SVB tinha a particularidade de ter uma parcela desproporcional de financiamento não segurado: apenas 1% dos bancos tinham maior alavancagem não segurada.
Combinadas – adverte o estudo -, as perdas e a alavancagem não segurada forneceram “incentivos para uma corrida de depositantes não segurados do SVB”.
“Calculamos incentivos semelhantes para a amostra de todos os bancos dos EUA. Mesmo que apenas metade dos depositantes não segurados decida sacar, quase 190 bancos correm um risco potencial de prejuízo para os depositantes não segurados, com potencialmente US$ 300 bilhões em depósitos não segurados em risco”, adverte o estudo.
DESCOMPASSO
Embora as taxas de juros mais altas possam beneficiar os bancos, permitindo-lhes emprestar a uma taxa mais alta, muitos bancos dos EUA aplicaram parte significativa de seu excesso de caixa em títulos do Tesouro dos EUA. Isso foi feito quando as taxas de juros estavam em níveis próximos de zero.
O valor desses títulos agora diminuiu muito devido aos aumentos das taxas – os investidores podem simplesmente comprar títulos recém-emitidos que oferecem uma taxa de juros mais alta. A queda nas carteiras dos bancos não foi realizada, o que significa que o valor dos títulos caiu, mas a perda ainda está apenas “no papel”.
O problema surge quando os clientes solicitam seus depósitos de volta e os bancos são forçados a vender seus títulos – com uma perda significativa – para pagar os depositantes de volta.
Em casos extremos, isso pode levar à insolvência de um banco ou, como aconteceu com o Silicon Valley Bank, a perda de confiança gerada por essa circunstância pode desencadear uma corrida aos bancos.
RISCO
Os autores do relatório analisaram quanto do financiamento dos credores americanos vem de depósitos não garantidos: quanto maior a parcela, mais suscetível o banco fica a uma corrida. Por exemplo, no SVB, onde 92,5% dos depósitos não eram segurados, a fuga de depósitos causou o colapso do banco em apenas dois dias.
Os autores calcularam que 186 bancos americanos não têm ativos suficientes para pagar a todos os clientes, mesmo que metade dos depositantes sem seguro decida sacar seu dinheiro.
“Nossos cálculos sugerem que esses bancos certamente correm um risco potencial de corrida, na ausência de outra intervenção ou recapitalização do governo …”, concluíram os economistas, observando que o número de bancos em risco poderia ser “significativamente ” maior se “retiradas de depósitos não segurados causarem até mesmo pequenas vendas de liquidação”.
A falência do SVB causou repercussões em todo o setor bancário dos Estados Unidos e causou o fechamento de outro credor, o Signature Bank. Na mesma semana, o Silvergate, ligado às criptomoedas, também faliu.
Muitas outras instituições financeiras viram suas ações despencarem, com os seis maiores bancos de Wall Street perdendo cerca de US$ 165 bilhões em capitalização de mercado, ou cerca de 13% de seu valor combinado. Por sua vez, a agência de classificação Moody’s rebaixou sua perspectiva para o sistema bancário dos EUA de ‘estável’ para ‘negativa’, citando a “rápida deterioração do ambiente operacional”.