Lula sinaliza possível mudança na autonomia do BC
Lula sinaliza possível mudança na autonomia do BC
Independência de autarquia foi aprovada pelo Congresso em 2021, mas tem sido muito criticada pelo petista
Lula tem criticado a taxa de juros e a independência do BC com frequência | Crédito: Adriano Machado / Reuters
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira, que pode buscar rever a autonomia do Banco Central quando terminar o mandato do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, e criticou o empresário Jorge Paulo Lemann pela crise envolvendo a Americanas após a revelação de um rombo contábil na varejista.
“Quero saber do que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão (Campos Neto) terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o banco central independente”, disse Lula em entrevista à RedeTV.
Questionado se poderia haver mudança em relação à autonomia, o presidente da República confirmou. “Eu acho que pode, mas… quero dizer que isso é irrelevante para mim. Isso é irrelevante, isso não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juro”, disse.
Lula tem criticado a taxa de juros e a independência do BC com frequência, afirmando que a instituição não faz mais agora do que quando seu presidente era trocado sempre que um novo governo assumia. Durante a campanha, no entanto, Lula afirmou mais de uma vez que não pretendia propor, ao menos inicialmente, uma legislação que revertesse a independência do BC.
A independência do Banco Central foi aprovada pelo Congresso e sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro em fevereiro de 2021. Os mandatos do presidente e dos diretores do BC, com duração de quatro anos, não coincidem com os do presidente da República, de forma que os governos que tomam posse tenham de conviver por mais algum tempo com autoridades monetárias indicadas pela gestão anterior.
Indicado por Bolsonaro, Campos Neto permanecerá no cargo até dezembro de 2024.
Americanas
Durante a entrevista à RedeTV, Lula também criticou o empresário Jorge Paulo Lemann pela crise envolvendo a Americanas após a revelação de um rombo contábil na varejista.
“Esse Lemann era vendido como suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudar em Harvard para formar um novo governo. Ele era o cara que falava contra a corrupção todo dia. E depois ele comete uma fraude que pode chegar a 40 bilhões de reais? As pessoas vendem uma ideia, sabe, que eles não são na verdade”, disse o presidente.
“E o que eu fico chateado…é o seguinte: é que qualquer palavra que você fale na área social, qualquer palavra que você fala ‘eu vou aumentar o salário mínimo 10 centavos, nós vamos corrigir o imposto de renda, nós vamos melhorar os pobres’, o mercado fica nervoso, o mercado fica muito irritado. E agora um deles joga fora 40 bilhões… de uma empresa que parecia ser uma empresa mais saudável do planeta e esse mercado não fala nada”, acrescentou.
A Americanas, que tem o trio de bilionários da 3G Capital formado por Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles como acionistas de referência, revelou em janeiro inconsistências contábeis de cerca de 20 bilhões de reais.
O fato gerou uma crise que levou à recuperação judicial da varejista, diante de dívidas que ultrapassam os 40 bilhões de reais. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processos de investigação para apurar eventos ligados a Americanas.
Não foi possível contactar de imediato um representante de Lemann para comentar a declaração de Lula. (Reuters)