Patrão diz que vítima da polícia em Guarujá morreu “por ser negro e morar em favela”
Patrão diz que vítima da polícia em Guarujá morreu “por ser negro e morar em favela”
Filipe do Nascimento, de 22 anos, trabalhava em uma barraca de praia e, de acordo com o patrão e a família, foi assassinado ao sair para comprar macarrão
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Filipe é uma das 16 vítimas fatais da operação da Polícia Militar (PM) em Guarujá, que tem por objetivo prender o assassino de Patrick Bastos Reis, agente das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).
Douglas Brito, proprietário da barraca de praia em que o rapaz trabalhava, afirmou que Filipe tinha passagem por tráfico de drogas, mas não estava mais envolvido com o crime.
“Ele trabalhava comigo há mais ou menos três anos. Era um rapaz que não tinha costume de faltar, era pontual, era uns do que mais vendiam, o pessoal do trabalho e os clientes gostavam dele. Ele trabalhou esse fim de semana comigo, paguei ele no domingo e, na segunda, mataram ele”, declarou Brito, em entrevista ao Terra.
A companheira do rapaz contou ao patrão de Filipe, no dia do crime, que ele foi ao mercado comprar produtos com o dinheiro que tinha recebido no trabalho. “Eles [Filipe e a companheira] iriam fazer uma comida rápida, mas viram que não tinha macarrão e ele retornou em outro mercadinho mais próximo à casa dele, por volta de 20 horas”, disse.
Ela relatou, ainda, que, poucos minutos após o marido sair para ir ao mercado, ouviu barulhos de tiro. "Já com receio, em seguida, ela foi atrás. Assim que ela abriu a porta e desceu o beco, viu o policial jogando a bicicleta que Filipe estava usando dentro do mangue. Ela questionou o que havia acontecido e onde estava o marido, mas os policiais disseram para ela que ela não devia sair aquele horário, porque estava tendo operação”.
Ainda segundo relatos, os policiais mandaram ela entrar na casa de outra família. Depois de não ouvir mais barulhos de tiros, a mulher saiu novamente e mostrou fotos do marido aos policiais. Recebeu a informação de que nenhum dos mortos era Filipe.
“Ela foi na delegacia por volta de 1 hora, questionar se tinha alguma informação dele”. Não havia registros com o nome do jovem.
“Quando ela voltou, viu os vizinhos todos em volta de outra casa que fica próxima da dela. Aí ela foi ver o que estava acontecendo e ouviu eles falando que os policiais pegaram um rapaz, moreno, alto, com casaco e boné. Ela falou que pela descrição seria o marido dela. Aí os vizinhos contaram que os policiais o jogaram em um barraco vazio e dispararam contra ele. Falaram que ele ficou um bom tempo caído e os policiais teriam colocado um saco na cabeça dele e retiraram o corpo”, acrescentou.
Como a companheira e Filipe não eram casados no cartório, ela e Brito foram reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande. De lá voltaram ao Guarujá para solicitar autorização para que o jovem não fosse enterrado como indigente.
“Agora, a esposa está abalada e com medo de ficar aqui [no Guarujá]. Eu tinha fotos dele trabalhando, comprovante de pagamento, argumentos que contradizem a polícia. Ele tinha, sim, passagem pela polícia, mas já trabalhava comigo faz tempo. Então, tem uma base sólida que ele não era envolvido. Realmente aconteceu por essa questão de classe, preconceito por ser negro, ter passagem”, disse o patrão.
Onde denunciar violência policial
A Defensoria Pública de São Paulo (DPE-SP) divulgou uma mensagem nas redes sociais: “A DPE-SP vai prestar atendimento e colher relatos de vítimas e testemunhas de violência policial decorrente da operação na cidade de Guarujá. O atendimento será prestado pela Unidade Guarujá, localizada na Avenida Adhemar de Barros, 1.327, e pelo Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos (NCDH), localizado na capital paulista”.