Falcões da guerra derrotam Trump

Até final do ano passado, Trump vinha contrariando os falcões da guerra, insistindo numa linha pacifista.

Falcões da guerra derrotam Trump

Pacifismo dança

Os generais do Pentágono, aliados mais firmes dos democratas, dos Clinton, não toleraram decisão trumpiana de desarmar as tropas na Síria, no Afeganistão e de manter relações com Putin, acusado de espionar eleição americana, para beneficiar Trump etc.

O presidente americano saiu por cima, com o argumento de que o governo americano estava tirando pão da boca do povo para sustentar guerras impossíveis de serem vencidas, como as do Oriente Médio.

Trump incomodou, também, ao dar xeque-mate na OTAN, dizendo que Tio Sam não ia mais financiá-la.

Defendeu imposto sobre a OTAN, para tirar mais recursos dos europeus, a fim de sustentar despesas de guerra.

A Europa não gostou e se aproximou, estrategicamente, de Putin e Jiping.

Trump, com seu discurso pacifista, puxado pela defesa da América em primeiro lugar, ganhou popularidade para tentar faturar segundo mandato em 2020.

Guerra comercial
A guerra comercial com China, por sua vez, encaixou-se no American First e bombeou o nome do presidente no eleitorado americano, cuja preocupação principal é com o emprego nos Estados Unidos.

A imposição de tarifas sobre produtos industrializados chineses aumentou o orgulho americano, embora as retaliações chinesas impusessem a força da China na disputa comercial, dobrando, principalmente, os agricultores americanos.

As vendas de soja e milho dos Estados Unidos para a China sofreram quedas, fazendo Trump flexibilizar nas tarifas e acomodar o ritmo da luta entre as duas potências, que continuam brigando feito cachorro e gato.

Ademais, a confiança em Trump cresceu ao segurar juros para aliviar finanças do governo, das famílias e dos empresários.

A taxa de juro zero ou negativa manteve o mercado otimista e as expectativas de crescimento interno se solidificaram ao longo de 2019.

O FMI sinaliza crescimento do PIB americano na casa dos 3,5%.

Nesse novo contexto, Trump, sem deixar de votar orçamentos gordos para o Pentágono – destinou 600 bilhões de dólares à economia bélica e espacial em 2019 – descolou o foco da política dos Estados Unidos da guerra bélica e espacial para a guerra comercial.

Os falcões da guerra sentiram cheiro de paz e amor no ar global, contrário às pretensões permanentes da economia de guerra americana que defendem.

Trump sinalizaria novo tempo, mudando o status psicológico americano de guerra para a paz, ao abandonar o espírito militar guerreiro do Pentágono, a reclamar, sempre, prioridade, custe o que custar.

Arma do impeachment
O contra-ataque ao chefe da Casa Branca, por sua posição pacifista, contra posição de guerra dos falcões, veio por meio do impeachment.

Sujou a imagem do presidente, fragilizou-o, psicologicamente, e ganhou força resistência contra ele entre os generais.

Eles passaram a exigir de Trump atitudes machas, duras, contra os principais adversários Rússia, China e Irã, resistentes ao poder de Tio Sam.

Os falcões insistiram em boicotes comerciais à Rússia, como resposta aos fakenews de Steve Banon de que Putin interferira no processo eleitoral americano.

Vendiam narrativa de discurso de interferência russa no processo eleitoral de Tio Sam.

Intrigas e mais intrigas contra Putin se multiplicaram.

Trump, pressionado pelos falcões, abriu confronto com Irã.

Retirou-se do acordo de armas nucleares, para pressionar os aiatolás a abandonarem política atômica; sofreram e ainda sofrem dificuldades, mas não entraram em bancarrota.

Fortaleceram suas relações com China e Rússia, para suportar as pressões comerciais americanas, e se deram, relativamente, bem.

Os aiatolás mostraram capacidade de resistência econômica, social, militar e política, ao mesmo tempo em que se aliaram aos chineses e russos, costas quentes para se protegerem de Washington.

As manobras militares realizadas por Moscou, Teerã e Pequim, no golfo pérsico, no final de 2019, soaram perigo fatal para os militares americanos.

A supremacia bélica e espacial russa sobre os americanos, depois de Putin, no final do ano, anunciar o hipersonic, vanguarda da vanguarda tecnológica de mísseis atômicos, deixou os generais americanos em polvorosa.

Ao lado desse aliado poderoso, Teerã elevou sua confiança em apoiar milícias para continuar combatendo resquícios de estado islâmico, atuante no Iraque.

O general iraniano Soleimani, cérebro por trás das manobras, junto com estrategistas iraquianos e hezbollah, humilhavam os falcões do Pentágono, sem credibilidade para atuar no Iraque, onde perderam a confiança da população, desde a guerra de invasão de W. Bush.

Os ataques, com drones, dos aliados houtis do Irã contra petroleiras sauditas, ações com curdos e invasões milicianas iraquianas, apoiadas por Teerã, contra embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, levaram Washington a construir narrativas explosivas para mudar, à força, opinião pacifista de Trump, tornando-o favorável à guerra contra os aiatolás.

O atentado terrorista trumpiano que matou o general Soleimani, no aeroporto de Bagdá, é desfecho dessa batalha, que abre novo capítulo de guerra.

Novo choque do petróleo
Acendeu-se, em todo o Oriente Médio, sentimento antiamericano, cujas consequências podem ser novo choque mundial do petróleo, com possível fechamento do estreito de Ormuz, controlado pelos iranianos, apoiados pela Rússia.

O barril de petróleo voltaria aos picos de 150 a 200 dólares, depois de baixarem para 50 desde 2014/15?

Como se sabe a aliança EUA-Arábia Saudita, para achatar preço do petróleo, visou dois alvos: 1 – desestabilizar países produtores como Rússia, Venezuela, Irã, Brasil, México, e 2 – viabilizar exploração do petróleo de xisto nos Estados Unidos, a preço barato.

Paralelamente, Trump intensificou boicote comercial sobre Rússia, Venezuela e Irã, denominado eixo do mal pela direita ideológica americana.

A queda no preço do petróleo favoreceu Estados Unidos e aliados, mas não conseguiu derrubar, totalmente, os adversários, que resistiram.

China e Rússia se transformaram em fortes aliados, rachando os europeus e criando nova geopolítica do Oriente Médio, ao aproximar Irã, Iraque, Síria, Turquia, antes facilmente manipuláveis por Washington, enquanto tinha fôlego para sustentar economia de guerra.

Tio Sam em fôlego
Essa fase ficou para trás, porque Tio Sam não tem mais gás para bancar guerra ampliando, sem limites, a dívida pública, sob pena de provocar instabilidade monetária global.

O mercado financeiro internacional evidenciou ainda estar contaminado pelo crash de 2008, como mostra o insuficiente crescimento do capitalismo ocidental, desde então.

Relatório do FMI – setembro/2019 – prevê crescimento de 3% dos Estados Unidos; 1,5%, Europa; 1%, América Latina; já a Asia, embalada: China, 6,1%; Índia, 6%; sudeste asiático, 6%; a Rússia, penalizada pela queda dos preços do petróleo, 1,5%.

O ocidente capitalista perde de lavada para oriente puxado pelo partido comunista chinês, no comando do capitalismo na China, rumo à construção da Eurásia.

Tio Sam está, conforme o FMI, baleado por dívida pública interna, que não suporta mais juros positivos.

Se o juro positivo se tornou inviável para sustentar guerra, por outro lado, garantiu, com juro zero ou negativo, PIB puxado pelas atividades produtivas, submetidas ao protecionismo nacionalistas trumpiano.

Por que então Trump se rendeu, agora, aos generais, sabendo que o fôlego financeiro de Tio Sam para bancar guerras se esgotou?

A psicologia americana favorável às guerras, sempre ativadas em ano eleitoral, permaneceria a mesma depois da estratégia pacifista vitoriosa de Trump contra os falcões do Pentágono?

Ao cair na rede dos generais, rendendo-se à guerra e abandonando o discurso pacifista, Trump mudou sua política.

Vai agradar seus eleitores?

As manifestações contra a guerra já se fazem sentir e lançam dúvidas, dando conta de que Trump pode ter dado tiro no pé.

Por que se rendeu à guerra, contra a qual iniciou cruzada e ganhou popularidade, ao adquirir perfil pacifista, nacionalista protecionista, com seu slogan American Firsh?

Estaria ou não diante do perigo de repetir John Kennedy, se continuasse contrariando os senhores da guerra?

A volta da economia keynesiana de guerra é derrota de Trump e vitória do Pentágono.

O resultado imediato desse novo cenário, certamente, será novo choque do petróleo e novo status quo bélico e espacial, adequado aos interesses do estado industrial militar norte-americano, cuja continuidade é incógnita total..