De quem é a culpa pela derrota na constituinte chilena?

De quem é a culpa pela derrota na constituinte chilena?

De quem é a culpa pela derrota na constituinte chilena?

Diogo Fagundes·

De quem e a culpa pela derrota no Chile

 

A velha cantilena impotente e sem balanço autocrítico se repete com a vitória da ultradireita para a formação da nova Assembleia constituinte chilena. “O fascismo é muito forte”, “a sociedade é conservadora mesmo”, “não dá pra ir tão à esquerda”, etc.

Uma das coisas que aprendi no movimento estudantil foi a nunca culpar a “base” em qualquer processo político. A responsabilidade pelas derrotas e fracassos recai sempre sobre quem dirige a política.

Não há nada de surpreendente no crescimento da reação conservadora após movimentos políticos de esquerda com grande envergadura. A lei da política envolve justamente a divisão em campos antagônicos. A única questão é saber como que a esquerda passou da ofensiva, ditando a pauta do país, para uma situação defensiva em tão curto tempo, tendo a chefia do Estado às mãos.

Isentar a direção falha e deletéria de Boric e sua coalizão, queridinho por certos progressistas por representar uma suposta “renovação” da esquerda latino-americana, é contribuir com o não esclarecimento da situação, com a não imunização política contra eventuais repetições e erros futuros. O jovem presidente provavelmente passará à história como um “professor pelo exemplo negativo”, como gostavam de falar os revolucionários chineses.

Não tenho a pretensão de fazer qualquer avaliação definitiva das causas do fracasso, mas permitam-me apontar um sintoma das debilidades políticas do nosso tempo: a concepção da política como “federação” de vários movimentos sociais.

Esta visão, muito em voga, estabelece como objetivo uma somatória de demandas de movimentos sociais, como se a política fosse uma espécie de justaposição de feedbacks positivos entre diversos movimentos setoriais. Por exemplo, em vez de o “partido” formular diretrizes táticas precisas para ganhar apoio de massas e isolar a direita, focando em alguns poucos pontos centrais (serviços públicos, seguridade social, combate à desigualdade, reversão de privatizações), resolve ser uma imensa caixa de ressonância de demandas e reivindicações particulares. Precisamos voltar a Lenin: politicamente essa visão sobre a organização é liberal e leva à incapacidade política. A política não é coextensiva às reivindicações de movimentos, mas se nutre deles para criar uma visão afirmativa própria sobre o futuro.