Conspirações
Histórias plausíveis, com certeza. Inverossímeis, talvez. Palatáveis? Sim, até certo ponto. Estranhas. Coisas da vida.
Conspirações
Histórias plausíveis, com certeza. Inverossímeis, talvez. Palatáveis? Sim, até certo ponto. Estranhas. Coisas da vida.
Lúcia Brigagão
Especial para o GCN
Antiga edição especial da SuperInteressante intitulada “As Maiores Conspirações – O lado Oculto da Verdade” é instigante e perturbadora. Meros espectadores da história, desconhecemos a verdade por trás dos fatos e, não raro, somos obrigados a engolir a versão mais política, menos polêmica, mais digerível, menos controversa de cada um deles. Desconfiada por natureza, a vida me puniu sempre que desconfiei, duvidei ou não acreditei naquela que seria a versão mais simples ou mais palatável de inúmeros acontecimentos. Por isso, guardei a tal edição entre relíquias. Releitura e análise dos acontecimentos, mostram que, se os textos não apresentam soluções das questões históricas que apresentam – complicadas pela própria natureza – a simples polemização delas – me devolve à categoria de pessoa questionadora, e não louca, como me avaliam sempre que duvido de versões simplistas ou mais digeríveis que me apresentam...
O capítulo, Atentados e Mortes Suspeitas começa com ponderações sobre o 11 de Setembro de 2001 – balanço de quatro aviões sequestrados, quase 3 mil mortos, um país inteiro e o mundo em pânico; prejuízos econômicos, financeiros e sobretudo, humanos. A Casa Branca teria sido alertada pela CIA que haveria atentado terrorista ao país. Alerta ignorado. Bush sabia do atentado? O que fez para impedi-lo? Como essas, há centenas de outras, algumas até bizarras, também sem respostas: ele teria esperado (e subestimado) o ataque para sair-se bem politicamente? Como justificar sua apatia ao ser informado sobre os atentados? Ele teria mandado colocar explosivos nas colunas de sustentação das torres para garantir que elas viriam abaixo?
Aconteceu em 28 de setembro de 1978 e o mundo ainda se pergunta se João Paulo I teria sido vítima de conspiração que envolveria banqueiros, mafiosos sicilianos, maçonaria e o próprio Vaticano. Jovem ainda, aparentava ótima saúde embora sofresse de comprovada arterioesclerose - o Pontífice morreu apenas 33 dias depois de assumir o cargo, supostamente vitimado por ataque cardíaco. Estranha-se que embalsamadores tenham sido chamados logo após a notícia, antes mesmo do chefe do serviço médico. Também antes que a notícia de sua morte vazasse, o chefe do Vaticano Jean Villot limpou a mesa do pontífice, recolheu todos seus remédios, e ordenou minuciosa faxina nos aposentos do Papa. Se houve, talvez o objetivo da conspiração fosse evitar que João Paulo I investigasse negócios sujos, nos quais o Vaticano, através dos seus servidores, estaria envolvido.
Em 13 de maio de 1981 o mundo acompanhou atônito o atentado à vida do papa João Paulo II. Empenhado em criar jeito novo de liderar a Igreja católica, tentou romper a barreira colocada entre o papa e fiéis. Beijava o chão de cada país que visitava, ia ao encontro dos fiéis sem temor ou constrangimento. Acabaria por ser considerado um dos papas mais importantes da história, cuja influência extrapolou – e muito – o campo religioso. No dia do atentado passava em carro aberto, quando recebeu três tiros disparados por Ali Agca, jovem turco de 24 anos, misturado à multidão. Duas balas lhe atingiram o estômago; a terceira feriu sua mão. Ali Agca foi condenado à prisão pérpetua, mas libertado pouco depois. Sofria de sérios problemas mentais. Detalhe: não tinha motivações religiosas que justificassem o atentado, mas políticas: dizia estar a serviço da Bulgária, na época um dos países comunistas do Leste Europeu, que estavam sob a proteção da União Soviética. E se justificou: o papa se declarava ferrenho opositor aos regimes comunistas do mundo.
Quem atirou – e matou - John Fritzgerald Kennedy, em 22 de novembro de 1963? O presidente dos Estados Unidos, enquanto desfilava em carro aberto pela Elm Street, no centro de Dallas, recebeu dois tiros que lhe atingiram o pescoço e a cabeça. Teria sido Lee Harvey Oswald, americano de peculiar currículo: comunista, ex-atirador do corpo de fuzileiros navais, fundador de comitê pró-Fidel Castro, para defender o fim do bloqueio econômico de Cuba imposto por Kennedy, que considerava facínora travestido de bom moço? Décadas depois, mistério jamais resolvido. Lee Oswald é realmente o assassino? Agiu por conta própria ou era apenas a ponta de complicado iceberg, mero fantoche a serviço de estrangeiros? Ou de chefões do crime organizado? Quem sabe do serviço secreto americano? Ainda hoje não se tem uma conclusão. Perscruta-se: Lyndon Johnson, o sucessor, até que ponto estaria envolvido? E Fidel Castro, seu arqui-inimigo, teria alguma responsabilidade no crime? As respostas estão abertas. É provável que o mistério jamais seja solucionado, porque a elucidação talvez provocasse mais polêmica que compreensão.
O cenário político brasileiro também tem histórias de teorias da conspiração. Juscelino Kubitschek, fundador de Brasília, por exemplo. O acidente no qual faleceu, ocorrido na Via Dutra em 22 de agosto de 1976, teria sido provocado por complô do regime militar para assassiná-lo? O motorista Geraldo Ribeiro, motorista que o acompanhou durante décadas e que conduzia o Opala no qual viajavam, pode ter sido atingido por um tiro antes de perder o controle do automóvel e provocar o acidente: é a afirmação da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo. João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964, morreu no exílio em 6 de dezembro de 1986. Infarto ou envenenamento? Exames realizados no corpo exumado e analisado a pedido de familiares não oferece laudo conclusivo. O presidente eleito Tancredo Neves, dias antes de tomar posse, foi internado às pressas com suspeita de diverticulite intestinal. Ficou 38 dias no hospital, passou por sete cirurgias antes de morrer, em 21 de abril de 1985. Ele seria o primeiro mandatário civil após 21 anos de ditadura militar. Envenenamento? Atentado a tiros? Complicações pós-operatórias?
Mulheres também não ficam fora dessas perscrutações maquiavélicas... Grandes e diversos, muitos mistérios envolvem as vidas de Marilyn Monroe e da Princesa Diana, por exemplo. As mortes das duas mulheres, estão assentadas em segredos, muito mais complicados. A atriz, prematuramente morta aos 36 anos, foi encontrada em sua casa, na cama, em 5 de agosto de 1962, supostamente vítima de overdose por barbitúricos. Sua morte anunciada como “provável suicídio”, desencadeou teorias que levantam a hipótese de “queima de arquivo” porque ela sabia demais sobre os bastidores da vida pessoal e política dos irmãos Kennedy, com quem estava emocionalmente envolvida. Marilyn foi encontrada morta por seus funcionários. Nua e deitada de bruços na cama, não havia sinais de convulsão ou vômito. Nenhum copo ou garrafa no quarto. E o diário da atriz, sumido e jamais encontrado.
Sobre Diana, a Princesa de Gales, tudo começou como num autêntico conto de fadas. Moça bonita, sem título de nobreza, mesmo sem o aval da sogra - a rainha - casa-se com o príncipe. Ex-plebéia, torna-se a princesa mais popular de todos os tempos. Dá ao reino dois filhos, herdeiros da coroa. E sua vida não segue mais o script. Vê-se desprezada, divorcia-se. Envolve-se com o filho play-boy de rico comerciante, muçulmano, assíduo promotor de festas e noitadas extravagantes. Pareciam apaixonados, apesar do descontentamento da família real. Na noite de 31 de agosto de 1997, em Paris, o sonho acabou. Naquela noite anunciariam o noivado de Diana com o egípcio Dodi al-Fayed mas trágico acidente acabou com o sonho. Fatalidade? Minucioso complô? Conspiração maquiavélica? A família real britânica teve alguma responsabilidade? Ela estaria grávida? Ninguém saberá. Dos sonhos, sobraram apenas resignação e saudade.
Histórias plausíveis, com certeza. Inverossímeis, talvez. Palatáveis? Sim, até certo ponto. Estranhas. Coisas da vida.