Aliados abandonam Bolsonaro nas redes sociais

Aliados abandonam Bolsonaro nas redes sociais

Aliados abandonam Bolsonaro nas redes sociais

 Charge: Kleber Sales

Por Altamiro Borges

Desde sua fuga vergonhosa para os EUA em 30 de dezembro, na véspera da posse de Lula, o fascista Jair Bolsonaro vem perdendo seguidores nas redes digitais. Com seu gabinete do ódio, ele hegemonizou essa trincheira por muito tempo, mas agora vê minguar o apoio. Neste domingo (13), o jornal O Globo apresentou um levantamento dos perfis de deputados federais e senadores que se solidarizaram com o muambeiro no escândalo das joias.

“Ele mostra que, no dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente atacaram as sedes dos três Poderes, 28 congressistas externaram discursos alinhados aos interesses de Bolsonaro, número nunca mais superado em outros dias críticos para o ex-ocupante do Palácio do Planalto... Passados oito meses da depredação em Brasília, uma operação da PF mirou o entorno de Bolsonaro para traçar o caminho das joias de luxo recebidas por ele enquanto chefiava o Executivo. Desta vez, nas horas seguintes à ação, uma única parlamentar ergueu a voz para dar suporte ao ex-presidente nas redes sociais: a deputada Bia Kicis (PL-DF)”.

Seis momentos críticos do ex-presidente

Com a ajuda de ferramentas de mapeamento, O Globo vasculhou mais de 8 mil postagens dos 513 deputados federais e 81 senadores em seis ocasiões. Além do 8 de janeiro e do episódio mais recente, foram considerados outros quatro momentos críticos para o ex-presidente: a ação da PF que prendeu, em maio, seu ajudante de ordens Mauro Cid por fraude em cartões de vacinação; a operação, em junho, relacionada à reunião golpista entre o senador Marcos do Val (Podemos-ES), o ex-deputado Daniel Silveira e o próprio Jair Bolsonaro; a prisão do hacker Walter Delgatti, no início deste mês, quando também foi cumprido mandado de busca e apreensão contra Carla Zambelli (PL-SP); e, na quarta-feira passada (9), a prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), acusado de interferir no fluxo de eleitores no segundo turno das eleições.

Na ação sobre a fraude em cartões de vacinação da Covid-19, que colocou Mauro Cid na cadeia, um senador e 27 deputados não tardaram a externar revolta nas redes digitais. Já diante da operação contra o “senador da Swat” Marcos do Val, o total de apoio caiu para oito; na ação contra Walter Delgatti e Carla Zambelli, apenas quatro parlamentares bolsonaristas se solidarizaram; e na prisão do fascistinha da PRF, dez bolsonaristas chiaram contra a operação da Polícia Federal. Agora, os velhos aliados abandonaram de vez o “mito”.

Silêncio partiu do próprio presidente do PL

“Na última sexta-feira (11), enquanto vinham à tona detalhes sobre as negociações envolvendo os presentes recebidos por Bolsonaro, a ordem para que correligionários mantivessem o silêncio partiu do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O próprio dirigente, que em outras ocasiões buscou blindar o principal nome do partido, não se manifestou nas redes. Até os filhos do ex-presidente só falaram à noite, depois que os advogados do pai emitiram nota – o levantamento, no entanto, só considerou postagens feitas nas primeiras 12 horas após a ação ser desencadeada”, descreve a reportagem.

Para Letícia Capone, professora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, a falta de apoio nas redes pode indicar que aliados estariam “aguardando instruções” do clã sobre como se portar. “Existe uma tentativa de alinhamento de discurso antes de fazer um posicionamento e, a partir do momento em que a família (Bolsonaro) fica em silêncio, essa pode ser uma estratégia também para os demais”, explica.

Perda de relevância no mundo digital

Pode ser que sim! Mas há outros indicativos que apontam dificuldades da “estratégia de defesa” diante de tantas denúncias. O próprio O Globo lembra outro levantamento, feito pela consultoria Bites, que detectou a perda de tração de Jair Bolsonaro nas redes digitais. “Este ano, o pico de menções – positivas ou negativas – ao nome do ex-presidente no Twitter deu-se no 8 de janeiro, com quase 1,3 milhão”. Na sequência, as menções só despencaram. Na última sexta-feira, a nova operação sobre as joias rendeu apenas 307 mil menções.

“Fica claro como Bolsonaro perdeu relevância em relação a momentos importantes anteriores, sem a mesma capacidade de mover o debate público que teve em outros eventos desde o início do ano”, analisa André Eler, diretor da Bites. “Na última sexta-feira, entre as 50 postagens sobre Bolsonaro com maior repercussão no Twitter, apenas quatro eram de apoiadores do ex-presidente. Além disso, somente uma delas, de uma influenciadora conservadora, fazia uma defesa efetivamente sobre as acusações envolvendo as transações das joias”.

No mesmo rumo, artigo recente do jornal Folha de S.Paulo demonstrou que o ex-presidente “está em queda no Índice de Popularidade Digital, o IPD, aferido pela consultoria Quaest... O nível de Bolsonaro no IPD não passou de 45 pontos em nenhum dia deste ano. Em 2019, seu primeiro ano na Presidência, o índice chegava à casa dos 80 pontos. Já Lula ficou à frente do rival em todas as medições diárias em 2023. No pico, em abril, cravou 85 pontos – ante dez do antagonista”