Empresário da equitação, Pazuello obrigou soldado de 19 anos a substituir cavalo

Denúncia inicial partiu do Estadão, que não mencionou que general e irmãos são sócios de uma escola de hipismo em Manaus

Empresário da equitação, Pazuello obrigou soldado de 19 anos a substituir cavalo

Empresário da equitação, Pazuello obrigou soldado de 19 anos a substituir cavalo

Denúncia inicial partiu do Estadão, que não mencionou que general e irmãos são sócios de uma escola de hipismo em Manaus

Alceu Luís Castilho

Trajetória empresarial da família de Pazuello no Brasil não tem sido investigada pela grande imprensa brasileira - Carolina Antunes

 

“Eduardo Pazuello comandava havia quatro meses o quartel do Depósito Central de Munições do Exército, em Paracambi, a 70 km do Rio, quando viu dois soldados passarem em uma carroça. Julgou que estavam velozes demais, que maltratavam o equino, e quis lhes dar uma lição. Mandou parar, desatrelar o animal, e determinou que o recruta Carlos Vítor de Souza Chagas, um jovem negro e evangélico de 19 anos, substituísse o cavalo. O soldado teve de puxar a carroça com o outro soldado em cima, enquanto o quartel assistia à cena, às gargalhadas.”

Esse é o início de reportagem do Estadão, neste domingo (30), sobre o ex-ministro da Saúde, na mira da imprensa por causa da CPI da Covid no Senado. O texto de Marcelo Godoy cita de passagem a empresa de navegação da família — que prosperou economicamente nesse setor, ao longo do século 20 — como inspiração para que Pazuello fizesse carreira no Exército.

Não há menção a outra empresa da família, a Escola de Equitação Nissim Pazuello, em Manaus. Ela leva o nome do pai do general, mencionado em seu depoimento na CPI. Eduardo é sócio dela ao lado dos irmãos Alberto e Cynthia, além dos herdeiros da falecida irmã Elizabeth.

“O cavalo é um nobre até comendo cenouras”, diz o penúltimo post da página da empresa, no Instagram. “O cavalo não se comunica por palavras, mas por sentimentos”, diz outro, publicado no início do mês, dias antes do depoimento do general à CPI. “Cavalo é liberdade”, pregava outro post, em dezembro.

De Olho nos Ruralistas detalhou a aventura empresarial do clã na Amazônia em reportagem publicada em março: “Família Pazuello: do enriquecimento ao lado do ‘Rei da Amazônia’ ao colapso político“. Outro texto falou especificamente de um desses irmãos e sócios do ex-ministro, Alberto Pazuello: “Irmão de Pazuello foi acusado de participar de grupo de extermínio no Amazonas“.

A imprensa comercial — origem das informações, nos anos 90 — ainda não se propôs a resgatar a história de Alberto. Ou a detalhar a trajetória empresarial dos Pazuello no Brasil. Durante a CPI, foi lida uma pergunta do senador Jorge Kajuru (Podemos-GO), sobre eventual participação das empresas em licitações. “Que eu saiba, relações com o governo federal, só se for Petrobras, transporte de petróleo, esse tipo de coisa”, respondeu Pazuello. “Agora, contratação do governo federal, não. A empresa é de transportes”.

Fazenda da família deu origem a escola de quitação 

Embora raramente cite os negócios da família, o ministro já mencionou sua ligação com Manaus em entrevistas dadas à imprensa local. Afirmou que, apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, foi criado na periferia da cidade. Refere-se, na verdade, ao bairro Adrianópolis, antiga Vila Municipal. A fazenda onde ele foi criado se tornou o haras da família, frequentado por militares para treinamento. E é onde funciona a equitação, voltada também para crianças — e em plena atividade durante a pandemia.

Essa foi a única das empresas do grupo que respondeu aos telefonemas feitos pela reportagem, em março. Em um deles a pessoa que atendeu ficou de passar o pedido de entrevista para “o secretário da família”. Assim como aconteceu com os pedidos feitos ao Ministério da Saúde, não houve retorno.

O observatório também falou de Pazuello durante a série Esplanada da Morte, em julho de 2020, ao detalhar o papel de cada ministro de Bolsonaro no massacre em curso: “Esplanada da Morte (IX): Eduardo Pazuello, o ministro das 100 mil mortes, é o gestor da matança“.

O ex-ministro é também o personagem principal do último vídeo da série De Olho no Genocídio, inspirada na série homônima, criada em junho do ano passado. Um dos temas principais é a distribuição de cloroquina para indígenas durante ações de combate à Covid-19, e não para malária, como mentiu Pazuello aos senadores.

O vídeo está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=DKt4FHmE71s&feature=emb_imp_woyt