Brasil “É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, diz Lula na China

Brasil “É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, diz Lula na China

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“É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, diz Lula na China

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu entrevista a jornalistas na saída do hotel, em Pequim

Rodrigo Rangel

 atualizado 14/04/2023 23:29

Lula dá entrevista na ChinaReprodução/TV Brasil

Pequim – Ao se dirigir para o aeroporto nos últimos instantes de sua viagem oficial à China, nesta sexta-feira (14/4) – no horário do Brasil -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi incisivo ao falar sobre a guerra na Ucrânia e defender que os Estados Unidos “parem de incentivar” o conflito.

“Eu acho que a China tem um papel muito importante (para o fim da guerra), eu continuo reiterando que a China possivelmente tenha o papel mais importante. Agora, outro país importante é os Estados Unidos. É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz para a gente poder convencer o (Vladimir) Putin e o (Volodimir) Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando por enquanto aos dois. Eu acho que é possível”, disse Lula, na saída do hotel onde esteve hospedado em Pequim.

O presidente prosseguiu, mais uma vez se referindo aos Estados Unidos, que fornecem armas à Ucrânia: “É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia, mas é preciso sobretudo convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra a pararem, porque eu acho que, quando se começa uma briga – a gente fala em guerra, mas poderia ser uma briga de rua, poderia ser uma greve – é preciso começar e saber como parar. E muitas vezes a gente não sabe como parar. E acho que nós estamos numa situação em que acho que os dois países estão com dificuldades de tomar decisões. Se os dois países estão com problema de tomar decisões, eu acho que é preciso que terceiros países que mantenham relação com os dois criem as condições de termos paz no mundo. Nós não precisamos de guerra”, disse.

Sem dizer exatamente se Xi Jinping aceitou participar, Lula voltou a falar de sua ideia de criar um grupo de países que não estejam envolvidos no conflito para negociar um acordo de paz. “Não é uma coisa fácil. Vocês sabem que uma briga entre família é muito difícil, quando ela começa a gente não sabe como ela termina. E uma guerra é a mesma coisa, sabe? É preciso, agora, paciência, é preciso encontrar no mundo países que estejam dispostos. O Brasil está disposto. A China está disposta. Temos que procurar outros aliados e negociar com as pessoas que podem ajudar nessa paz”.

O presidente brasileiro fez as afirmações ao ser indagado se, na reunião que teve nesta sexta-feira com o presidente Xi Jinping, houve algum avanço relativo à questão da guerra – ele já havia dito anteriormente que pretendia discutir o tema com o líder chinês. A China é a principal aliada da Rússia de Vladimir Putin e é considerada peça-chave em qualquer tentativa de se negociar uma solução para o conflito, iniciado há mais de um ano no coração da Europa.

A declaração incisiva de Lula se soma a uma sequência de outras feitas por ele durante a visita oficial à China com estocadas nos Estados Unidos, grandes rivais de Pequim. O presidente disse que deixa a China satisfeito com os resultados da viagem. Ele voltou a dizer que a oposição americana à aproximação do Brasil com a China não vai impedir que o Brasil avance na relação com o país asiático. Lula afirmou que precisa considerar os interesses brasileiros, independentemente da reação de terceiros.

“A nossa relação estratégica (com a China) eu acho que ela vai se aperfeiçoando cada vez mais e nós não precisamos romper e brigar com ninguém para que a gente melhore. O Brasil tem que procurar os seus interesses, o Brasil tem que ir atrás daquilo que ele necessita e o Brasil tem que fazer acordos possíveis com todos os países. Nós não temos escolhas políticas, escolhas ideológicas. Nós temos uma escolha de interesse nacional. Interesse do povo brasileiro, interesse da indústria nacional, interesse da nossa soberania”, disse.

 

O presidente disse não acreditar que a aproximação do Brasil possa gerar embaraços na relação com os americanos: “Não acredito e não há nenhuma razão para isso. Quando eu vou conversar com os Estados Unidos eu não fico preocupado com o que a China vai pensar da minha conversa com os Estados Unidos. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos do meu país. Quando eu venho conversar com a China eu também não fico preocupado com o que os Estados Unidos estão pensando. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos dos Brasil”.

Lula também defendeu parcerias com a China na área ambiental. O presidente se desculpou por ter cancelado uma entrevista coletiva que concederia nesta sexta, depois da reunião com Xi Jinping. E brincou: “Desculpa por eu não ter conversado com vocês, porque não foi possível. A agenda foi muito intensa, e quando sobrava uma hora eu estava o pozinho da rabiola, e eu ia dar entrevista totalmente desconectado com a minha beleza”.

De Pequim, o presidente seguiu para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde cumpre uma agenda rápida já no caminho de volta para o Brasil. A previsão é que ele chegue a Brasília na noite de domingo (16/4).