Grito das trevas: reforma trabalhista, teto de gastos e privatizações

Toda a quase ensurdecedora algazarra sobre as declarações da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a respeito da revogação da reforma trabalhista, do teto de gastos e das privatizações, em um futuro governo Lula, parece advir das cavernas ...

Grito das trevas: reforma trabalhista, teto de gastos e privatizações

Grito das trevas: reforma trabalhista, teto de gastos e privatizações

 Por   

Reforma trabalhista, por Debret

Toda a quase ensurdecedora algazarra sobre as declarações da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a respeito da revogação da reforma trabalhista, do teto de gastos e das privatizações, em um futuro governo Lula, parece advir das cavernas – aliás, do fundo mais escuro, mais tenebroso, das cavernas.

Até o sr. Alckmin, badalado como pretenso vice de Lula, juntou-se aos bolsonaristas, aos srs. Doria, Moro, e à mídia em geral, para atirar pedras na presidente do PT.

É algo injusto, além de covarde. Esses apedrejadores nem discutem a questão – apenas apedrejam. E, se assim fazem, é porque sabem que não conseguem um argumento que possa defender a sua posição, que é a de, simplesmente, manter o povo brasileiro na triste situação atual, não importa a consciência que tenham disso.

Do ponto de vista econômico, a mentalidade deles está no paleolítico – isto é, no neoliberalismo que afundou o país a partir de Collor.

Pois, as declarações de Gleisi Hoffmann nada têm de extraordinário.

É óbvio que, para fazer o país crescer, é preciso aumentar os salários – isto é, expandir o mercado interno – para que as empresas nacionais tenham a quem vender os seus produtos.

A expansão do mercado interno é incompatível com o arrocho e o regime de semi-escravidão da chamada “reforma trabalhista”.

É óbvio, também, que o país necessita aumentar espetacularmente os investimentos públicos, inclusive para que os empresários aumentem, igualmente, os investimentos privados.

O aumento qualitativo dos investimentos públicos é incompatível com o “teto de gastos”, que congela – e por duas décadas! – os gastos do governo.

É óbvio, também, que as estatais, mola propulsora do crescimento econômico do país em ciclos anteriores, são propriedade do povo. Com raras exceções, essa propriedade tem sido roubada – com o efeito de reduzir os instrumentos à disposição do país para crescer e sair da miséria.

Gleisi, portanto, não disse nada demais.

 

Certamente, isso não basta para resolver os problemas do Brasil. Mas são condições para a resolução desses problemas.

Aliás, são problemas que precisamos resolver.

Evidentemente, seria possível desconfiar das declarações de Gleisi, mas não pelo lado que ela está sendo atacada.

Por exemplo, o teto de gastos foi levantado por Nelson Barbosa, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, no início de 2016. Portanto, por um governo do PT. Posteriormente, foi implementado por Meirelles, ministro de Temer, que aproveitou a ideia de Barbosa. O mesmo Meirelles que foi presidente do Banco Central durante os oito anos de governo Lula.

As primeiras medidas que alteraram a legislação trabalhista também são do governo Dilma – que prometera não tocar nessa legislação “nem que a vaca tussa”.

Quanto às privatizações, nos 13 anos em que esteve no governo, o PT não reviu uma somente. Pelo contrário, acabou por realizar algumas, e pondo na praça, em 2015, um plano gigantesco (denominado “Programa de Investimento em Logística”) de privatizações – perdão, de concessões…

A maior parte desse plano permaneceu irrealizado. Mas foram privatizados os aeroportos de Viracopos (SP), Brasília (DF), Guarulhos (SP), Galeão (RJ), Confins (MG) e Natal (RN), nove estradas federais e aberta a privatização de portos, através da nova Lei dos Portos.

Estas seriam razões para desconfiar da veracidade das declarações da srª Gleisi Hoffmann. Se nos governos anteriores o PT não fez nada do que ela está anunciando, por que faria agora, ainda mais considerando o texto que o ex-ministro Mantega publicou nos últimos dias (v. HP 05/01/2022, O social-desenvolvimentismo do sr. Mantega)?

No entanto, desconfianças não são bússola para a política, muito menos bússola absoluta, que anule tudo, inclusive declarações atuais, como as de Gleisi. O passado não pode governar absolutamente o presente.

E, mais importante, essas desconfianças nada têm a ver com o fato de que a presidente do PT está certa quanto a revogar a reforma trabalhista, o teto de gastos e as privatizações.

Se o PT, na hipótese de Lula ganhar as eleições, vai fazer isso, é outra história. Ou outra batalha.