Fusões e federações: veja como partidos estão se organizando para 2026

Fusões e federações: veja como partidos estão se organizando para 2026

Fusões e federações: veja como partidos estão se organizando para 2026

Mariana Albuquerque

Mariana Albuquerque

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De 2017 até hoje, treze partidos trocaram de nome, outras siglas incorporaram cinco legendas e quatro novas nasceram por fusão. O número de partidos registrados no TSE caiu de 35, em 2015, para 29 até agora, com chance de chegar a 30 com a entrada do partido Missão em 2026. A movimentação expõe a fragmentação política e mostra o esforço das siglas para escapar da cláusula de barreira e manter acesso a recursos públicos e tempo de TV.

As federações se expandem, enquanto fusões travam disputas internas. O União Brasil e o Progressistas oficializaram em abril a Federação União Progressista, com 109 deputados e 14 senadores. Mesmo com quatro ministérios no governo, os dois partidos preparam o desembarque da base, articulando um voto conjunto contra o pacote fiscal do ministro Fernando Haddad.

União Progressista é a maior força política do país

Em entrevista exclusiva a este site, o deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA) afirmou que a federação tem potencial para alterar o equilíbrio político nacional. Válida por quatro anos, a aliança representa cerca de 20% do total de parlamentares na Câmara e no Senado. “Sim, a 2026 é óbvio que as chapas da Presidente da República, os partidos que marcharem com este ou com aquele candidato a presidente, em havendo a vitória eleitoral desse candidato, o fortalecimento da Federação vai ser óbvio, até pelo número de integrantes”, disse.

Segundo Cajado, a expectativa é que a Federação lance de 113 a 120 candidatos à Câmara em 2026. “É óbvio que essa força eleitoral terá que ser considerada por qualquer presidente. Se for aquele que a União Progressista se associar, melhor ainda, porque vai ser uma vitória conjugada no processo eleitoral do ano que vem. Mas se não for, de qualquer forma, é uma força política que terá que ser respeitada de forma objetiva, até pelo presidencialismo de coalizão e pela governabilidade”, completou.

Sobre a Bahia, Cajado explicou o critério de comando da federação: “No caso da Bahia, a União Brasil tem seis deputados federais e o PP, três. Então a federação será comandada por um integrante da União Brasil”. Ele também detalhou o impacto eleitoral: “Com o fortalecimento da chapa, você vai lançar 40 candidatos pelos dois partidos, otimizando o fundo eleitoral principalmente. Isso vai fazer com que haja um aumento do número de vagas a ser conquistado. Se hoje nós temos nove, pode ser conquistada no mínimo 10 e, na perspectiva melhor, 11 a 12 vagas”.

Cajado apontou ainda o reflexo da federação no reposicionamento político: “Existe aí uma tendência clara da Federação se afastar do governo até o final deste ano. Isso já ficou claro na posição do presidente do PP, Ciro Nogueira, e da União Brasil, Rueda, que também já manifestaram a intenção de desembarcar do governo”. Segundo ele, “a federação tem o objetivo de fortalecer os partidos com vista às eleições de 2026, principalmente no que se refere às eleições proporcionais”.

A UP terá um orçamento de quase R$ 1 bilhão só de fundo eleitoral. Eles somam os R$ 536,5 milhões do União Brasil com R$ 417,2 milhões, com base nos valores estimados pelo TSE para 2024. Esta é a maior verba entre todas as siglas para as próximas eleições.

Sobre a queda no número de siglas

Murilo Medeiros, cientista político da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Poder Legislativo, compartilha essa análise. Para ele, a redução no número de siglas “colabora para tornar o processo político mais racional e menos fragmentado”. Segundo Medeiros, “com menos partidos, o presidente da República tende a montar uma base de coalizão mais coesa. Hoje, o governo precisa negociar com muitos partidos pequenos para compor sua base de apoio parlamentar”.

O especialista também avalia que a diminuição das siglas dirige-se a acumular o centro político: “Com menos siglas, o centro tende a se concentrar em partidos médios e grandes, que ganham poder de barganha e influência eleitoral, exigindo do governo uma gestão política mais cuidadosa”.

Sobre o impacto das federações com ministérios na base do governo, ele pondera: “Mesmo federados, os partidos mantêm estruturas próprias e, muitas vezes, divergem em temas-chave. Isso exige do governo uma articulação dupla: com a federação e com cada partido internamente, aumentando a complexidade da articulação política”.

Medeiros ressalta ainda que “em estados e municípios, partidos federados podem ter interesses eleitorais conflitantes, o que pode tensionar a aliança nacional e gerar instabilidade”.

Mais federações vão se criando

Nesta quarta-feira (25), o Solidariedade e o PRD anunciaram a formação de uma federação com atuação nacional. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), realizou o ato na Câmara dos Deputados. Segundo Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, a nova federação será de “centro”. Marcus Vinícius (RJ), presidente do PRD, participou do lançamento.

Motta afirmou: “Não tenho a menor dúvida de que essa federação já nasce muito forte. Precisamos discutir o que nós queremos para o país a partir de agora, já vislumbrando as eleições do ano que vem. O momento é de trabalho, de entrega”.

A Federação Solidariedade–PRD soma 10 deputados. PTB e Patriota se fundiram e formaram o PRD, enquanto o Solidariedade incorporou o Prós. A federação ainda aguarda homologação no TSE.

Outras Fusões emperram por disputa

Outras costuras não avançaram. A tentativa de fusão entre PSDB e Podemos foi suspensa após impasse sobre a presidência da nova legenda. Os partidos estudam formar uma federação sem unificação de comando. Já a proposta de fusão entre MDB e Republicanos enfrenta resistência. O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) criticou a articulação.

Recordar é viver: em 2017, o MDB decidiu retomar a sigla histórica após promover um rebranding para reformular a imagem do partido, abalada por escândalos de corrupção e pelo desgaste político desde que Michel Temer assumiu a Presidência.

A alteração ocorreu no momento em que delações de executivos da Odebrecht atingiram líderes do partido, incluindo o na época presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), o então presidente do Senado Renan Calheiros (AL), o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ) e ministros do governo na época.

PSD adota discurso independente para 2026

Partidos com espaço no governo também adotam posicionamentos independentes. O PSD, com três ministérios, veiculou campanhas em rádio e TV com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Gilberto Kassab, presidente da legenda, se aproximou de Jair Bolsonaro, que o homenageou com a medalha “3is”. O PSD também promove o governador Ratinho Junior (PR), que afirma: “Chegou a hora de virar uma página para um Brasil moderno e inovador. Um Brasil sem brigas ideológicas, onde avançamos unidos e em paz”.

O Progressistas também endureceu o discurso. Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou: “Se você se decepcionou com a situação do Brasil… você não está só”. Tereza Cristina (PP-MS) afirmou: “É hora da virada”. Guilherme Derrite, secretário de Segurança de São Paulo, disse: “Os brasileiros querem a sua liberdade de volta”.

O Republicanos também se distancia. Marcos Pereira (SP), presidente nacional do partido, criticou os Correios: “Sabe o que está sobrando de verdade nos Correios? Incompetência”. E completou: “Velha receita do fracasso: gastar mais do que arrecada”.

Base de Lula em 2025 é fragmentada e instável

Para Murilo Medeiros, a base de Lula em 2025 é mais instável do que em seus governos anteriores. “Com um Parlamento de perfil mais conservador, Lula não conseguiu construir uma maioria sólida no Congresso Nacional. Tem uma base de coalizão fragmentada, fluida e pouco fiel ao seu programa de governo”, afirmou.

MBL lança partido Missão

Na quinta-feira (26), o Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou ter atingido o número mínimo de assinaturas para criar o partido Missão. O grupo busca registro no TSE e pretende lançar candidato próprio à Presidência em 2026. Se aprovado, o Missão será a 30ª sigla partidária com registro formal no país.

Nas redes sociais, o partido criado pelo MBL já se destaca por fazer o que nem Bolsonaro (maior imagem da direita atual) conseguiu fazer. A tentativa de criar o partido Aliança pelo Brasil, idealizado para ser comandado pelo ex-presidente, chegou ao fim. Ele anunciou a sigla ainda no primeiro ano de governo, após romper com o PSL. O projeto foi desmobilizado em 2023, após a filiação de Bolsonaro ao PL, presidido por Valdemar Costa Neto.

Não há expectativa de retomada do plano, nem para futuras eleições. Analistas consideram elevado o custo político de um novo fracasso, e qualquer nova tentativa exigiria começar o processo do zero. O prazo legal para apresentação das assinaturas expirou em 2022.

A Lei dos Partidos determina que a legenda reúna todas as assinaturas em até dois anos após obter o CNPJ. As autoridades estenderam o prazo por quatro meses devido à pandemia. Mesmo assim, já haviam paralisado o processo.