Dando nome aos bois

É urgente que se abra um inquérito e que Villas Bôas seja chamado a depor

Dando nome aos bois

Dando nome aos bois

É urgente que se abra um inquérito e que Villas Bôas seja chamado a depor

 

 

Por Lygia Jobim

 

(Pedro Ladeira/Folhapress)

Créditos da foto: (Pedro Ladeira/Folhapress)

General Villas Bôas, e declarou: "Em todas as minhas notas como ministro da Defesa, reafirmo o compromisso das Forças Armadas com a democracia e a Constituição de 1988. As Forças Armadas estão voltadas para o cumprimento das suas obrigações legais".

Estas notas, porém, não vêm ao caso para o que agora se discute. Ao dizer “como ministro da Defesa”, cargo para o qual foi nomeado pelo tenente Bolsonaro, deixa claro que as mesmas se referem a um período posterior ao dos tuítes de Villas Bôas, que ocorreram durante a disputa eleitoral.

O Ministro, em sua visita, pediu a Fux que não se criasse uma crise por esse episódio. Acontece que a crise já está criada com todos aqueles que prezam a democracia.

O então comandante do Exército, General Villas Bôas, depois da grande repercussão de sua mensagem ao STF, explica no depoimento dado a Celso Castro, da FGV, e que se transformou no livro Conversa com o Comandante, que ela “expressa a posição do Alto Comando do Exército”. E enfatiza ser a mesma “exclusivamente a da força”. Explicita ainda que falou não por si, mas pelo Exército, já que Marinha e Aeronáutica não foram consultadas. Todos os detalhes do atentado à democracia que cometeram foram por ele minuciosamente descritos e explicados. Inclusive relata a participação ativa dos que se encontravam em Brasília e daqueles que foram apenas consultados e deram sua aprovação, o tempo que levaram para avaliar cada palavra da nota etc. Esta não foi fruto de um arroubo ou de um improviso. Foi pesada e calculada para atingir o objetivo desejado.

O Alto Comando é formado pelo Comandante do Exército e por 15 generais-de-exército – 4 estrelas – na ativa, que à época eram:



O titular da Secretaria de Economia e Finanças, que seria o 16º participante, não compunha, naquele momento, o Alto Comando, pois quem a chefiava era o General de Divisão Expedito Alves de Lima.

O então Ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, foi depois Presidente de Itaipu com salário mensal de R$79.000,00, acrescidos de uma indenização de R$212.000,00 sobre a qual, por seu caráter indenizatório, não incide imposto de renda. Agora é o recém nomeado Presidente da Petrobras, podendo seu salário chegar a R$400.000,00 (sim, quatrocentos mil reais) mensais, segundo informação do jornal O Globo.

Um exército que forma em sua Academia um militar como o tenente, que mal sabe ler e derrapa constantemente na concordância, é um exército que debocha do país que lhe paga o bacalhau, o uísque 12 anos e, como em seu depoimento revela Villas Bôas, a entrega na selva de exemplares da revista Playboy para seus comandantes.

Outra gravíssima fala no depoimento é o elogio ao hoje coronel da reserva Rubens Bezerril, apontado no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como envolvido na tortura e execução de um secundarista em Goiás.

É urgente que se abra um inquérito e que Villas Bôas seja chamado a depor para confirmar ou não o envolvimento e concordância do Alto Comando do Exército com sua afronta à democracia dirigida ao STF. Ou o confirma, ou confessa que é um mentiroso, irresponsável e covarde por querer dividir uma responsabilidade que era só dele.

Confirmado o que agora contou com detalhes, que sejam chamados os integrantes do Alto Comando na ocasião e, se necessário, acareados. Apuradas as responsabilidades pelo crime cometido, ofereça-se a denúncia para que sejam levados a julgamento e condenados como determina nossa legislação. Não podemos continuar a deixar impunes os que querem seguir com os hábitos, utilizados durante a ditadura de 64, de intimidação dos demais poderes e que, pela vergonhosa Lei de Anistia, que anistiou os responsáveis por crimes de lesa humanidade, passaram a se achar acima das regras constitucionais.