1961: Diretor de documentário detalha risco de golpe contra a posse de Jango

1961: Diretor de documentário detalha risco de golpe contra a posse de Jango
Em entrevista à redação de Aventuras na História, Amir Labaki destacou como os acontecimentos de 1961 continuam a ecoar na realidade brasileira
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 17/06/2025, às 18h30

No começo do mês, a série documental 1961, dirigida, produzida e roteirizada por Amir Labaki, estreou no Canal Brasil. Dividida em três episódios, a produção revisita a grave crise política que abalou o país entre agosto e setembro daquele ano, quando a renúncia de Jânio Quadros abriu caminho para uma tentativa de golpe militar contra a posse constitucional do vice-presidente João Goulart, o Jango.
A série se destaca ao reunir entrevistas inéditas com protagonistas do período, áudios de John F. Kennedy revelando o posicionamento dos Estados Unidos na crise, documentos confidenciais da CIA, registros raros da Casa Branca e trechos de entrevista com o general Ernesto Geisel sobre a mobilização das Forças Armadas.

Contexto Histórico
Com base no livro 1961 – A Crise da Renúncia e a Solução Parlamentarista (1986), de Labaki, a série oferece um mergulho nos bastidores da articulação política que evitou um conflito armado.
Após a renúncia de Jânio, os ministros militares tentaram impedir a posse de Jango, que se encontrava em viagem oficial à China. A resistência partiu do governador Leonel Brizola, que, desde o Rio Grande do Sul, liderou a Campanha da Legalidade, mobilizando tropas, rádio e população em defesa da Constituição.
A crise foi superada com a adoção do regime parlamentarista e a posse de Goulart em 7 de setembro de 1961, tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro.

Os episódios da série estão disponíveis na íntegra no Globoplay (plano Premium). O projeto conta com apoio da Ancine, do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do BRDE e da Circunstância Cinematográfica.
Almir Labaki
Em entrevista concedida à redação de Aventuras na História, Amir Labaki destacou como os acontecimentos de 1961 continuam a ecoar na realidade brasileira.
O respeito ao regime democrático é ainda uma batalha viva e intensa. Na área social, a desigualdade de renda entre o topo e a base da pirâmide social permanece gritante, apesar da pontual melhora apontada pela pesquisa do IBGE quanto a 2024", analisou o cineasta.
Labaki também sublinhou o peso da ingerência norte-americana na fragilização de Jango:
O apoio sob várias formas dos EUA aos adversários e conspiradores contra o governo Jango foi essencial para sua desestabilização e para a instalação da ditadura militar em 1964".
"Para ficar em dois exemplos, houve financiamento norte-americano para campanhas publicitárias e eleitorais de oposição a Jango e houve mobilização militar de apoio à deposição de Goulart, não efetivada de forma mais direta devido à rapidez do processo final do golpe civil-militar", explicou.
Sobre o colapso do governo Jânio Quadros, Labaki apontou o estilo personalista e populista do presidente como determinante. "Como escreveu a historiadora Lucia Hippolito, Jânio desprezou a configuração partidária do Congresso, não negociou com os partidos, ignorou as regras do jogo político e tentou governar apesar do Legislativo", afirmou.
Questionado sobre o ambiente de aversão ao comunismo nos anos 1960, o diretor contextualizou: "O Brasil não se diferenciava do grande contexto da Guerra Fria, com a cisão entre o bloco capitalista liderado pelos EUA e o bloco comunista da URSS".
"Toda iniciativa de alguma independência frente aos dois blocos na política externa e toda proposta mais significativa de reformas sociais mesmo dentro do quadro capitalista eram atribuídas a simpatias comunistas".
Por fim, Labaki comentou sobre os revisionismos históricos promovidos por setores da extrema-direita. Para ele, "a extrema-direita brasileira é estranha ao compromisso com a democracia como um valor político universal e mantém uma visão autoritária quanto ao papel constitucional das Forças Armadas".
"Assim, abraça revisionismos históricos quanto à ruptura e interrupção do processo democrático pelo golpe civil-militar de 1964 e pela violência autoritária do regime militar que se estendeu até 1985".
Com depoimentos inéditos de figuras como Rubens Ricupero, Aldo Arantes e Flávio Tavares, além das participações especiais de Fernanda Montenegro, Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues e Paulo César Pereio, 1961 promete lançar luz sobre um dos momentos mais tensos da história republicana do Brasil pré-ditadura.