Pesquisa Exame revela ‘cansaço’ da polarização Lula/Bolsonaro e alta rejeição aos dois

Uma maioria expressiva rejeita Bolsonaro, mas hoje o reelegeria numa disputa direta contra o ex-presidente Lula, no segundo turno.

Pesquisa Exame revela ‘cansaço’ da polarização Lula/Bolsonaro e alta rejeição aos dois

Pesquisa Exame revela ‘cansaço’ da polarização Lula/Bolsonaro e alta rejeição aos dois

 Por   Publicado em 14 de março de 2021

População quer alternativas à polarização. Foto: Reprodução

Uma maioria expressiva rejeita Bolsonaro, mas hoje o reelegeria numa disputa direta contra o ex-presidente Lula, no segundo turno. Segundo o fundador do Instituto Ideia, Maurício Moura, há uma expectativa por um nome fora dessa polarização. Já o governador do Maranhão, Flávio Dino, além de ter a menor rejeição, aparece com avaliação positiva para 7% dos eleitores, à frente de Dória (5%)

O grupo Exame Invest divulgou pesquisa quantitativa relativa às eleições de 2022, na última sexta-feira (12), já com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de volta ao jogo político-eleitoral.

A pesquisa foi realizada por telefone, com aplicação de questionário, com mil pessoas ouvidas, entre a última quarta e quinta-feira (11). A aferição traz dados interessantíssimos e revela o ânimo do eleitor brasileiro em relação ao próximo pleito presidencial.

Segundo Maurício Moura, fundador do Ideia, instituto especializado em opinião pública, o aspecto mais importante desta pesquisa, talvez seja, “a demanda explícita por um (a) novo (a) presidente que não seja nem Lula nem Bolsonaro”.

São 38% que concordam em buscar um ‘nem-nem’. O mais interessante é que esse grupo é mais concentrado nas [chamadas] ‘classes média e alta’ e nas regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste. Ou seja, concentram um relevante estrato [social] de votos no Brasil”.

“Em relação à seguinte frase: ‘Eu gostaria que o (a) próximo (a) presidente não fosse nem o Lula nem o Bolsonaro’, você:”, 38% concordaram, contra 33% que discordaram; 24% foram indiferentes e revelaram nem concordar, nem discordar; e 5% não souberam responder.

A FORÇA DAS REDES SOCIAIS

A pesquisa revela, por exemplo, a força das redes sociais na disseminação instantânea de informações. Dois ou três dias depois de o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), ter anulado todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná ao ex-presidente Lula na Operação Lava Jato, 73% da população brasileira já tinha tomado conhecimento do fato. A decisão de Fachin se deu na última segunda-feira (8) e teve ampla repercussão na mídia nacional e internacional.

Na pesquisa, a pergunta foi direta: “Você sabia ou tomou conhecimento que o ex-presidente Lula (que não pôde ser candidato em 2018 por causa da Lei da Ficha Limpa) agora se tornou elegível por uma decisão do ministro do Supremo Edson Fachin?”. E 73% responderam que “sim”. Apenas 27% responderam que “não”.

Obviamente, a decisão monocrática do ministro Fachin causou reviravolta na cena política nacional, com repercussão internacional, e embaralhou o processo político-eleitoral de 2022, que se conduzia sob hegemonia eleitoral de Bolsonaro, a despeito da gritante e evidente péssima gestão que faz o presidente da República, em particular em relação à pandemia do coronavírus, que nos últimos dias tem tido mais de 2 mil óbitos por dia.

O ELEITOR QUER MODERAÇÃO, REVELA PESQUISA

No item, “As chances de você votar em Lula aumentam ou diminuem caso um dos nomes abaixo seja vice dele:”, os pesquisados responderam assim: quando o candidato é Guilherme Boulos, do PSol, apenas 6% disseram que aumenta; 30% responderam que “nem aumenta nem diminui”; 47% revelaram que “diminui”; e 18% não souberam responder. Grosso modo, salvo melhor juízo, estes dados expressam que o eleitor rejeitará uma chapa, pode-se dizer assim, “esquerdista”.

Veja os números quando o vice é o petista e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad: 32% disseram que “aumenta”; 10%, que “nem aumenta nem diminui”; 45% disseram que “diminui”; e 13% não souberam responder.

Quando o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) é colocado na chapa como vice de Lula, 50% revelaram que “nem aumenta nem diminui” as chances de votar no petista. Apenas 9% se animaram com a ideia; 22% rejeitariam; e 19% disseram “não sei”.

Flávio Dino tem a menor rejeição de todos os candidatos listados na pesquisa e aparece com uma avaliação positiva para 7% dos eleitores, à frente de Dória (5%).

Uma chapa com a empresária Luiza Trajano, dona das Lojas Magazine Luiza, não empolga, neste instante os eleitores. Apenas 2% revelaram que uma composição Lula/Luiza Trajano aumentaria as chances de votar no petista; 47% seriam indiferentes; 26% veriam as chances diminuírem; e 25% não sabem.

Com Ciro Gomes, do PDT, como vice, que vive às turras com Lula e o PT, nos últimos tempos, 9% se empolgariam; 29% seriam indiferentes; 42% não votariam de jeito nenhum; e 20% não souberam responder. Mesmo Ciro não sendo nenhum “esquerdista”, os números revelam que, na média, o eleitor é avesso aos chamados “radicalismos”.

Embora, a bem da verdade e dos conceitos mais básicos de economia e de política, nem Lula, nem tampouco o ex-ministro sejam radicais. Ao contrário. Lula, à frente do governo entre 2003 e 2010, no plano econômico, foi um liberal clássico, no melhor estilo inglês; e Ciro é de centro-esquerda, mais inclinado à social-democracia, do tipo europeia.

Com a ecomilitante Marina Silva, que fora de períodos eleitorais, mantém equidistância do debate político, a pesquisa mostra que 6% se eriçariam com chapa Lula/Marina, que já foi do PT, e hoje é crítica mordaz do petismo/lulismo. Apenas 9% seriam indiferentes; 46% disseram não votar de jeito nenhum numa chapa com essa configuração; e 39% disseram “não sei”.

Numa chapa, aparentemente improvável, com o apresentador de TV e empresário Luciano Huck, da Globo, e muito cortejado por tucanos, como o ex-presidente FHC, e ex-comunistas, como Roberto Freire, os números mostram, que na média os eleitores não reconhecem identidade entre Huck e Lula, pois 42% não votariam de jeito nenhum numa chapa com esse perfil. Já 18% se empolgariam; 23% seriam indiferentes; e 17% disseram “não sei”.

“O levantamento também tentou mensurar quem seria o melhor vice para Lula [excluindo Fernando Haddad, que já é do PT]. No aspecto ‘quem mais traria novos votos’, a resposta foi Luciano Huck. Para 18%, o fato de o apresentador ser vice do petista aumentaria as chances de votar em Lula. A conclusão preliminar desses dados aponta para uma demanda por moderação do eleitorado em relação a uma chapa petista”, segundo Maurício Moura, fundador do Ideia, instituto especializado em opinião pública.

ALTA REJEIÇÃO: “SANDÁLIAS DA HUMILDADE”

A pesquisa revela que há ainda muita rejeição a Lula e ao PT. Assim, o partido, o próprio Lula, a militância da sigla e os apoiadores-seguidores, que mesmo não sendo do partido, os chamados “lulistas”, que defendem e seguem com ardor o líder petista, precisam todos, calçar as “sandálias da humildade”. Vamos aos dados da verificação.

Pelos números examinados, o PT e Lula seguem com alta rejeição, embora o líder petista e a militância do partido neguem para fora dos limites da legenda que essa rejeição exista. Essa postura, se não for uma espécie de autoproteção e sim “negacionismo”, não se revela como a melhor prática para enfrentar esse fato da realidade do debate político nacional, que surgiu em 2013, nas jornadas de junho; ganhou força em 2016, nas eleições municipais; se comprovou em 2018, com a vitória do pior candidato, em rejeição ao PT; e se firmou ou consolidou em 2020, no pleito municipal, em que a legenda não elegeu nenhum prefeito de capital, desde a redemocratização, e viu sua legião de vereadores cair pela metade.

Na pergunta “E se os candidatos fossem esses e a eleição fosse hoje, em quem VOCÊ NÃO VOTARIA DE JEITO NENHUM para presidente do Brasil?”; a maior rejeição é a Lula, 42%; seguido por Bolsonaro (38%); João Doria (28%); Luciano Huck (26%); Ciro Gomes (23%); Sergio Moro (19%)

Guilherme Boulos (18%); Luiz Henrique Mandetta (15%); e João Amoedo (11%). E os indiferentes ou antipolítica, que não rejeitam nenhum (13%), que rejeitam todos (1%); e os que não sabem (8%).

“A rejeição será um peso que o ex-presidente terá de lidar. Para 46% dos entrevistados, Lula e o PT não merecem voltar [ante 32% que dizem que sim, merecem retornar à Presidência da República] e 42% dizem que nunca votariam no ex-presidente. Há uma correlação evidente entre renda e rejeição ao petista. Quanto maior a renda, maior é a rejeição à volta do ex-presidente, lembra Moura.

CONFRONTO ENTRE LULA E BOLSONARO OS RETROALIMENTAM MUTUAMENTE

“Diante da informação de que Lula agora está elegível, isso aumenta, diminui ou nem aumenta nem diminui a chance de votar na reeleição de Jair Bolsonaro?”, foi outra pergunta que revela, que o confronto direto entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro só beneficia a ambos.

A polarização retroalimenta tanto um, quanto o outro. Segundo a pesquisa, 6% responderam que “aumenta” e que “diminui”; 49% seriam indiferentes; e 39% não souberam responder. “Somente respondeu a esta pergunta quem disse que Bolsonaro não merecia continuar no cargo”, divulga o grupo Exame Invest.

“Lula voltou a ser elegível. Aproximadamente 1/3 dos brasileiros ainda não tomou conhecimento desse fato e será sua missão fazer chegar essa informação a todos os cantos e segmentos do Brasil — principalmente, a 32% das pessoas das ‘classes D e E’ [os estratos sociais mais pobres], que não tomaram conhecimento do fato”, diz Maurício Moura.

MAIS REJEIÇÃO A LULA E APOIO À OPERAÇÃO LAVA JATO

A pesquisa também entrou no contencioso da “finada” “Operação Lava Jato”. Veja como os brasileiros estão pensando sobre a extinção dos processos contra Lula. Diante da pergunta: “Qual a sua opinião sobre a anulação das condenações do ex-presidente Lula na Lava-Jato? Você considera que foi:” veja como foram as respostas.

Para 33% a decisão foi “justa”, contra 54% que disseram que foi “injusta”. Revelaram não saber, 13%. Por esses dados, ficam aparentemente evidenciados dois fatos: permanece no imaginário popular, com forte impacto na opinião pública, que Lula é culpado pelos mal feitos investigados pela Operação Lava Jato. E também que a Lava Jato tem apoio popular, independentemente de a operação ter cometido muitos “desvios criminosos”.

“Para 54% dos (as) brasileiros (as) a anulação da sentença de Lula foi injusta. O consenso no imaginário da opinião pública sobre sua inocência é minoritário. O PT e Lula terão de reconquistar a ‘classe média’”, diz Moura.

Quando perguntado se “Lula do PT merece voltar a ser presidente?”, 46% disseram que não; 32% que sim; e 22% não souberam responder. Na campanha de 2022, se o ex-presidente for candidato, não terá vida fácil.

REJEIÇÃO A BOLSONARO

A pesquisa desvenda uma confusão político-eleitoral do brasileiro. Talvez esta variável seja efeito ou resultado do massacre de desinformação que o brasileiro sofre cotidianamente desde sempre, mas que nesses tempos de redes sociais e comunicação instantânea tenha piorado exponencial e severamente o nível de interpretação dos fatos político-sociais dos nacionais.

Embora, contraditoriamente, haja muita informação circulando nas redes e nos meios tradicionais de comunicação e informação — TV, rádio e jornais —, numa espécie de “overdose” de informações e dados, que acaba redundando em desinformação, o brasileiro médio tenha dificuldade de entender tudo que está em curso na disputa político-eleitoral.

Pela verificação, 48% dos brasileiros entendem que Bolsonaro não “merece ser reeleito”; contra 42% que acham que “merece”; e 10% responderam não saber, ou seja, a maioria (quase metade do eleitorado) apontou rejeição à reeleição de Bolsonaro.

“Para 48% dos eleitores o presidente não merece continuar na Presidência. Um patamar perigoso para reeleição. Todavia, 42% responderam que Bolsonaro merece continuar, o que ainda o coloca como favorito a seguir no Palácio do Planalto. O segmento evangélico é sua maior fortaleza eleitoral”, diz Maurício Moura.

“Como apontamos seguidamente, as variáveis velocidade de vacinação e frequência do auxílio emergencial serão decisivas. Assumindo uma melhora da pandemia, a economia irá pautar a eleição de 2022”, acrescenta Moura.

SINAIS CONTRADITÓRIOS

Perguntados “Se a eleição fosse hoje e os candidatos fossem esses, em quem você votaria para presidente?”, 34% responderam que seria em Bolsonaro; 22% em Lula; 11% em Ciro; 7% em Doria; 6% em Boulos; outros, 1%; e não sei, 11%. Mesmo com alta rejeição, o presidente está na disputa e está, hoje, segundo a pesquisa, assegurado no 2º turno.

Em três cenários, neste acima, e em outros dois em que outros candidatos são inseridos na pesquisa, Bolsonaro está na dianteira, sempre com entre 33 e 34%. Lula vem sempre em seguida, com entre 18 e 22%.

“Jair Bolsonaro segue favorito, mas não será simples nem para ele nem para o ex-presidente Lula. Há uma demanda evidente de opinião pública por uma terceira via. Maior mesmo se comparada aos tempos da polarização PT-PSDB. Só falta a oferta”, diz Maurício Moura.

SEGUNDO TURNO

Bolsonaro é o candidato a ser batido e está em todos os cenários, no primeiro e segundo turnos. Se as eleições fossem hoje, Bolsonaro, segundo a pesquisa, venceria todos os adversários na segunda volta do pleito. Contra Lula teria 44% dos votos e o petista 37%. Anulariam ou votariam em branco 10%. E 9% não souberam responder.

Tendo Ciro Gomes como adversário, Bolsonaro venceria com 45% dos sufrágios, contra 34% do pedetista. O tucano Doria como oponente seria “atropelado” com 47% dos votos contra 26%. Se Luciano Huck, hoje, fosse o adversário seria batido por 46% a 37%. O que revela, em grande medida, que as forças progressistas, associadas ao centro político, precisam estar perfiladas para vencer o atual mandatário, se não no 1º turno, no segundo necessária e efetivamente, sem omissões e com militância real e diária até o final do certame.

Outro dado relevante é que sendo Lula o candidato mais rejeitado, segundo a pesquisa, é o que menos tem chances, se a eleição fosse hoje, nessa disputa direta, embora seja o que mais tenha votos, mas sem nenhuma possibilidade de superar o teto de sufrágios.

AVALIAÇÃO DOS CANDIDATOS

Dentre os possíveis adversários do presidente Bolsonaro, o mais mal avaliado é o ex-presidente Lula, que aparece com 42% de mensuração negativa e em quem os eleitores “não votariam de jeito nenhum”. É seguido por Boulos, em quem 38% “não votariam de jeito nenhum”; Ciro e Doria (37%); Mandetta (32%); Huck (30%); e Moro (27%).

A menor rejeição é a do governador Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, com 22%. Estranhamente, na pesquisa, Bolsonaro não foi avaliado.

DADOS DA PESQUISA

Na configuração por gênero, a maioria dos pesquisados foram mulheres (53%) e homens (47%). A faixa etária variou de 16 a 50 anos ou mais. Sendo que o maior público foi o jovem, com 16 a 29 anos (37%).

A pesquisa alcançou todos os estratos sociais — os ricos e remediados foram 18%; a massa trabalhadora-proletária do País, que os institutos de pesquisa e a imprensa chamam de “classes C, D e E” foram a primeira, 52%; e a duas últimas, 25%. Não sabiam ou não responderam, 5%.

A aferição ouviu moradores das cinco regiões do País — Norte (9%), Nordeste (27%), Centro-Oeste (8%), Sudeste (42%) e Sul (15%).

Por escolaridade — ensinos superior (20%), médio (52%), fundamental (26%) e sem instrução formal (3%). Por renda familiar: até 1 salário mínimo (18%), de 1 a 3 SM (52%), de 3 a 5 SM (15%), mais de 5 SM (10%) e não informou (5%).

Por religião: 58% dos pesquisados são católicos, 27% evangélicos, 10% sem religião e 5% são outras religiões.

A margem de erro máxima prevista da pesquisa é de aproximadamente 3,10 pontos percentuais, para mais ou para menos. Com grau de confiança igual a 95%, segundo informação na publicação.