NOTÍCIAS DE DOMINGO (16-05-21) Maiores jornais da mídia brasileira.

FOLHA DE S.PAULO – Apoio ao impeachment de Jair Bolsonaro chega 49% CORREIO BRAZILIENSE – Benefícios de vacinas é maior do que risco ESTADO DE S.PAULO – Como Trump, Biden deportará brasileiros em massa em voo O GLOBO – Governo usou aliados para difundir cloroquina

NOTÍCIAS DE DOMINGO (16-05-21) Maiores jornais da mídia brasileira.

 

NOTÍCIAS DE DOMINGO (16-05-21) Maiores jornais da mídia brasileira.

Edição – Chico Bruno

Manchetes

FOLHA DE S.PAULO – Apoio ao impeachment de Jair Bolsonaro chega 49%

CORREIO BRAZILIENSE – Benefícios de vacinas é maior do que risco

ESTADO DE S.PAULO – Como Trump, Biden deportará brasileiros em massa em voo

O GLOBO – Governo usou aliados para difundir cloroquina

Resumo das manchetes

A manchete da Folha revela que a parcela da população que apoia o impeachment do presidente Jair Bolsonaro aparece pela primeira vez numericamente à frente dos contrários ao afastamento, de acordo com pesquisa Datafolha. São favoráveis ao processo 49% dos entrevistados ouvidos pelo instituto, ante 46% que se dizem contrários à saída dele do cargo dessa forma. Os índices representam um empate técnico dentro da margem de erro e praticamente se inverteram em relação a março deste ano, quando 50% afirmavam se opor ao impeachment, ante 46% que se declararam a favor. O Datafolha entrevistou presencialmente 2.071 pessoas em todo o Brasil na terça (11) e na quarta (12). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A tendência detectada em relação ao impeachment reflete os números negativos para Bolsonaro apontados em outros pontos da pesquisa feita nesta semana. O presidente, por exemplo, atingiu sua pior avaliação no mandato nos levantamentos do Datafolha e apareceu muito atrás de seu principal adversário na corrida eleitoral para 2022, o ex-presidente Lula, do PT. Avaliam o governo Bolsonaro como ótimo ou bom 24% dos entrevistados, queda de seis pontos percentuais em relação a dois meses atrás. Na pesquisa eleitoral, 54% disseram agora que não votariam de jeito nenhum na reeleição do atual mandatário. Em simulação de segundo turno com Lula, teve 32% das intenções de voto, ante 55% do petista. O resultado agora ocorre em um momento em que o governo se vê desgastado em diferentes frentes diante dos reflexos da pandemia da Covid-19, que já matou mais de 430 mil brasileiros e é alvo de CPI que investiga a gestão federal por inépcia.
A manchete do Correio mostra que a suspensão temporária da vacinação de grávidas sem comorbidades reacendeu o debate sobre a segurança dos imunizantes contra a covid-19. Especialistas ouvidos pelo Correio, no entanto, são categóricos. Tomar a vacina evita danos muito maiores se comparados com uma infecção pelo novo coronavírus. “Não existe vacina 100% segura, como não existe antibiótico 100% seguro. Nenhuma cirurgia é 100% segura. É difícil, às vezes, para a população, entender que a gente põe em uma balança os riscos e os benefícios”, afirma a infectologista Maria Isabel Pinto.
A manchete do Estadão revela que os EUA deportarão na quinta-feira 130 brasileiros no primeiro voo fretado para expulsão em massa na era Biden. A prática se tornou frequente durante o governo de Donald Trump e virou símbolo da dura política do republicano contra os imigrantes ilegais. A informação foi confirmada por três fontes que acompanham questões migratórias americanas. O fluxo dos que chegam de forma irregular pela fronteira com o México aumentou, mesmo durante a pandemia, porque muitos acreditam que Biden tratará melhor os ilegais. Ao menos 30 menores de idade cruzaram a fronteira americana sozinhos ou acompanhados de adultos que não são seus responsáveis legais – e estão sob custódia americana. Há brasileiros menores de idade em abrigos no Texas, na Califórnia e em Illinois. Em 2018, auge da crise diplomática provocada pela separação de famílias, 49 crianças brasileiras ficaram em abrigos. Só em dois abrigos para famílias em El Paso, no Texas, há cerca de 300 brasileiros.

A manchete de O Globo revela que mesmo após a comprovação científica da ineficácia da droga para o tratamento do Covid-19 e da recusa de mais da metade dos governadores em receber os lotes, a gestão de Jair Bolsonaro insistiu na distribuição da cloroquina e de sua derivada, hidroxicloroquina. A recorrência também ocorreu paralelamente à lentidão nas negociações para a compra de vacinas da Pfizer. Dados do Ministério da Saúde mostram que, enquanto as conversas seguiram passos lentos, o governo repassou 1,3 milhão de comprimidos, dos quais 80% foram destinados a prefeituras e governos estaduais alinhados ao Palácio do Planalto. Para ex-integrantes da pasta, a persistência na adoção da política de tratamento precoce dificultou o combate à pandemia no país.

Notícia do dia:

Notícias de primeira página

Gilmar diz a Pazuello que não via risco com a Pfizer - No final de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes recebeu em seu gabinete o general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde. O tema da reunião foi a obrigação de vacinação, que seria votada no plenário da corte. Durante o encontro, Pazuello citou as demandas da farmacêutica americana Pfizer para vender o imunizante ao Brasil. Na conversa informal, Gilmar afirmou que vários países estavam fechando contratos com a farmacêutica e que não via "grandes obstáculos" na negociação. Depois foi a vez de Fabio Wajngarten, ex-secretário de comunicação da Presidência, procurar o ministro do STF. A posição, no entanto, era oposta à do general. Wajngarten reclamou da burocracia para comprar o imunizante — e mais tarde passou a defender a vacina russa Sputnik V. - Eu disse ao Ministro Pazuello que outros países já tinham concluído talvez contratos semelhantes. Entendi que não estaria lá o grande obstáculo — disse Gilmar em entrevista concedida ao globo na sexta-feira, um dia após receber a segunda dose de Coronavac. O ministro do Supremo disse ainda que a gestão da Saúde pelo governo Bolsonaro durante a pandemia se mostrou "problemática" e que o resultado foi terrível para o Brasil".

‘Superimunes’ ao vírus são alvo de estudo da USP - Quando o marido apresentou os primeiros sintomas de covid-19, a veterinária Thais Oliveira de Andrade, de 44 anos, tinha certeza de que pegaria a doença também. Os dois haviam sido expostos no mesmo momento a uma pessoa contaminada. Por isso, ela não só cuidou do parceiro, como continuou dormindo na mesma cama com ele. O estado de Erik Soares de Araújo, de 44 anos, se agravou e ele acabou internado em uma UTI, onde ficou por quatro dias. Mesmo assim, os exames de Thais continuavam dando negativo. “Durante o período em que ele ficou no hospital, testei mais duas vezes e deu não reagente. Achei que era erro e continuei esperando pelos sintomas”, contou a veterinária. “Quando ele teve alta, testei novamente e nada. Ficou claro que nunca fui infectada.” O caso não é tão raro quanto pode parecer. Cientistas já tinham percebido que algumas pessoas são imunes à pandemia que continua se alastrando pelo mundo. São naturalmente protegidas contra a covid. Por que algumas pessoas são infectadas e outras não, apesar de terem sido igualmente expostas ao vírus? Por que algumas famílias foram devastadas pela covid enquanto outras passaram incólumes pela pandemia? Por que alguns indivíduos centenários tiveram formas brandas da doença enquanto jovens sem comorbidades – caso do ator Paulo Gustavo, entre outros – morreram? Haveria um componente genético na vulnerabilidade ou na resistência ao Sars-CoV-2? Essas são algumas das perguntas que os especialistas começaram a se fazer. Em busca de resposta. Um estudo do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP) feito com pares de gêmeos univitelinos e bivitelinos revelou que irmãos geneticamente idênticos expostos à covid tendem a ter sintomas e desfechos parecidos. Já entre os que apresentam genomas diferentes, a tendência mais forte foi de casos distintos. O resultado já indicava um componente genético forte na infecção e na manifestação da doença. Outra pesquisa do mesmo grupo analisou dados de 86 casais, entre eles Thais e Erik, em que um dos cônjuges foi infectado pelo Sars-CoV2 e o outro não. O objetivo era justamente tentar encontrar perfis genéticos capazes de explicar a discrepância. Os dois trabalhos foram publicados na plataforma científica MedRxiv e ainda não foram revisados por pares.

‘Boom’ no campo causa falta de trator e equipamento - O produtor de grãos Endrigo Dalcin, de Nova Xavantina (MT), planeja comprar sua quinta plantadeira para acelerar o cultivo da próxima safra de soja, no início de outubro. Mas não tem sido fácil colocar a ideia em prática. Desde março, ele negocia com três fabricantes, que deram prazo de até oito meses para a entrega da máquina – ou seja, ela só chegaria depois de iniciado o plantio. “Eu queria uma máquina com bastante tecnologia embarcada. Com ela, certamente eu plantaria dentro da janela ideal”, diz Dalcin. Com a dificuldade, o produtor já pensa em desistir da compra. O caso de Dalcin não é isolado. O agronegócio vive um momento de forte expansão, com os preços de commodities agrícolas em alta no mercado internacional por causa, principalmente, do crescimento da demanda chinesa. Os produtores querem aproveitar esse momento para ampliar ou modernizar seu maquinário, o que melhoraria a produtividade. Mas os fabricantes, às voltas com dificuldades no fornecimento de peças e até de aço, têm esticado cada vez mais os prazos de entrega. Em resumo: há uma longa fila de espera por máquinas agrícolas. O vice-presidente sênior da AGCO Corporation e chefe global da fabricante de máquinas agrícolas Massey Ferguson, Luis Felli, conta que está com sua linha de produção praticamente tomada até outubro. “Eu posso aumentar a minha capacidade, mas preciso de peças. Todos os fabricantes de máquinas agrícolas estão desafiados, com fila para entregar”, diz. Já o diretor da New Holland Agriculture para o mercado brasileiro, Eduardo Kerbauy, diz que ainda tem tratores de algumas linhas, pulverizadores e plantadeiras para pronta-entrega. Mas, de modo geral, há atraso. “Há produtos que tinham disponibilidade imediata e, hoje, demoram dois meses; e os que levavam dois meses para serem entregues, agora levam quatro. Quanto mais personalizada a máquina, mais o concessionário vai pedir para esperar”, diz.

Polarização invade entidades de classe - A antecipação do debate sobre a sucessão presidencial tem contaminado disputas em segmentos organizados da sociedade civil, como entidades de advogados, caminhoneiros, universitários, ruralistas e médicos. Como resultado, a polarização entre bolsonaristas e antibolsonaristas tomou conta dos debates internos nestas categorias, que em alguns casos espelham em suas eleições o mesmo clima de “Fla-Flu” político que tem dominado o cenário nacional. O caso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), instituição centenária que esteve na linha de frente dos movimentos pelo impeachment dos ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, é o que mais chama a atenção. Enquanto um documento assinado por juristas pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro tramita internamente, as bases da entidade já estão em campanha para as eleições de suas seccionais estaduais, que serão em novembro. O resultado desse processo vai definir o colégio eleitoral que escolherá o próximo presidente da Ordem, em janeiro de 2022. O atual dirigente, Felipe Santa Cruz, não vai tentar a reeleição, pois planeja disputar o governo do Rio de Janeiro, em uma aliança que pode contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Internamente, seu grupo se dividiu e setores bolsonaristas se articulam nos Estados para frear uma possível ofensiva da esquerda na entidade de advogados. Na iminência da filiação de Santa Cruz a um partido político, seu vice na Ordem, Luiz Viana, rompeu a aliança e lançou manifesto contra a presença de política partidária na OAB. O atual presidente da entidade ganhou projeção nacional ao fazer críticas contundentes a Bolsonaro e à atual gestão federal. “O que nós queremos é que a Ordem continue firme, como sempre foi tradicionalmente, nas críticas pertinentes aos aspectos constitucionais e legais, em qualquer que seja o governo, mas distante de partidos”, afirmou Viana ao Estadão.

Para 58%, presidente não é capaz de liderar, e 50% desconfiam do que diz - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não tem capacidade de liderar o Brasil segundo 58% dos brasileiros, mostrou pesquisa realizada pelo Datafolha na terça (11) e quarta-feira (12). É o maior percentual da série histórica desde que o instituto começou a fazer a pergunta, em abril de 2020. Para 38%, Bolsonaro possui, sim, condições de comandar a nação, com base no que ele fez e está fazendo pelo país; 4% responderam não saber. O resultado vem a público em meio às críticas pela lentidão na vacinação contra a Covid-19, o descontrole da pandemia e a deterioração da economia. Pesquisa mostra, ainda, que 50% dos brasileiros dizem nunca confiar nas declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Uma fatia de 34% dos entrevistados afirma acreditar às vezes e apenas 14% respondem que sempre confiam no mandatário; 1% não sabe.

Campanha por evangélico no STF atua nos 3 Poderes - Silas Malafaia destacou as palavras impressas na lateral do jato: "A favor de Deus". A aeronave da Associação Vitória em Cristo, ligada à sua igreja, o levou do Rio até Brasília, onde naquele 19 de abril tinha um encontro com o presidente da República, seu amigo Jair Bolsonaro. Almoçou numa churrascaria da capital e de lá foi para o Palácio do Planalto saborear as palavras presidenciais: estava garantida a indicação de um "terrivelmente evangélico" para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) que Marco Aurélio Mello desocupará em julho. Cabe ao presidente da República escolher ministros do STF, mas a briga por uma cadeira na mais alta corte do Brasil tradicionalmente envolve articulações reservadas no Congresso e nos tribunais superiores. No governo Bolsonaro, o lobby também acontece nas igrejas evangélicas. Favorito ao cargo, o advogado-geral da União, André Mendonça, é pastor licenciado da Igreja Presbiteriana Esperança, mais progressista do que a média das denominações que orbitam o bolsonarismo. Bolsonaro sinalizou a interlocutores evangélicos que o nome da vez é mesmo o de Mendonça, que lhe serviu de fiel escudeiro durante sua passagem de quase um ano pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Sob sua gestão, críticas de opositores viraram caso de polícia por suposto crime contra a honra do presidente.

Negligência com vacina está provada - Após a conclusão da segunda semana de depoimentos na CPI da Covid, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), considera que já está provado que o governo do presidente Jair Bolsonaro negligenciou inicialmente a compra de vacinas. "Não houve nenhum interesse na compra da vacina no primeiro momento”, afirmou em entrevista à Folha na sexta-feira (14), quando o Brasil ultrapassava 430 mil óbitos e 15,5 milhões de pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia, no ano passado. "Se apostou muito na imunização de rebanho e kit cloroquina, ivermectina", disse. Para o presidente da CPI, a maior parte dos erros cometidos pelo presidente Bolsonaro são consequência do mau aconselhamento, embora ele não possa usar esse fato para se eximir das responsabilidades. "O governo errou desde o primeiro momento. Não apostou no isolamento, não apostou na máscara, no álcool em gel, na vacina, uma série de coisas que poderiam ter ajudado a salvar pessoas. E continuam apostando na cloroquina", disse. Por outro lado, Aziz aponta que as pessoas que orientaram o chefe do Executivo devem também ser responsabilizadas.

Ataque a Gaza mata e destrói prédio da mídia - Israel voltou a atingir Gaza com ataques aéreos, e militantes palestinos lançaram mais foguetes contra o território israelense neste sábado (15), em um sinal claro de que o fim da pior escalada de violência na região desde 2014 está distante. Diplomatas americanos e árabes tentam acalmar a situação depois de mais uma noite de violência, em que cerca de 200 foguetes foram disparados contra cidades de Israel, cujos aviões atingiram o que eles disseram ser alvos usados pelo Hamas, o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza. As Forças Armadas israelenses, porém, também destruíram um edifício em Gaza que abriga profissionais de veículos de imprensa, da TV qatariana Al Jazeera e da agência americana de notícias Associated Press. De acordo com o dono do prédio, militares israelenses telefonaram para avisar que um ataque ocorreria dentro de uma hora, o que levou à evacuação do local. A Associated Press disse estar “em choque e horrorizada” com o ataque. A Al Jazeera, por sua vez, exibiu o bombardeio e a queda do edifício ao vivo. “A Al Jazeera não será silenciada. Nós podemos garantir isso a vocês”, disse uma âncora da emissora, durante a transmissão, com a voz embargada. O Exército de Israel, posteriormente, afirmou que o local era um alvo militar legítimo porque continha ativos militares do Hamas, que estaria usando a presença de veículos de imprensa como forma de se proteger de uma ação israelense. O porta-voz das Forças Armadas também negou a ideia de que seu país estaria tentando silenciar a mídia e defendeu ser impossível destruir apenas as supostas instalações do grupo islâmico sem derrubar a torre inteira.

Jovens de Portugal debatem raízes escravocratas - “Os meus antepassados não só foram traficantes de escravos, como foram um dos maiores traficantes de escravos de Angola. O brasão da minha família ainda está no museu da escravidão em Luanda”, admite, sem eufemismos, a jornalista portuguesa Catarina Demony, 28. Embora Portugal e muitas famílias portuguesas tenham tido um papel relevante no comércio e exploração de africanos, relatos diretos como o dela ainda são exceção no país, e a admissão de experiências familiares com a escravatura permanece um tabu. Recentemente, porém, jovens portugueses têm usado diferentes estratégias para quebrar o silêncio. Entre newsletters, conferências, lives nas redes sociais e um documentário, eles debatem um passado muitas vezes incômodo para seus familiares. “O que me parece é que a escravatura foi uma das raízes dos problemas de racismo que nós temos hoje na sociedade portuguesa. Se nós não falarmos de uma forma direta e não formos à raiz do problema, as coisas não vão mudar”, diz Catarina, que partiu das experiências da família para fazer um documentário. Segundo ela, a descoberta de que seus antepassados maternos tiveram um papel importante no comércio de pessoas escravizadas surgiu em conversas com a avó, há cerca de quatro anos. Batizado de “The Old Us”, o filme tem lançamento previsto para dezembro. Além de relatos de ativistas e historiadores, reúne depoimentos de outros jovens que se defrontam com histórias familiares relacionadas à escravidão. A responsável pelo documentário diz ter encontrado um ponto em comum entre os entrevistados: “Todas as pessoas com quem conversei sempre tiveram boas condições financeiras e acesso a boas universidades. Muitas estudaram no exterior”.

Mortes por vírus tornam país R$ 166 bi mais pobre - Até esta sexta-feira (14), 432.785 brasileiros haviam morrido de Covid-19. Mães, pais, esposas, maridos, avós, avôs, tios, filhos, sobrinhos, netos. Mas também profissionais estabelecidos, estudantes, talentos promissores. Pedreiros, engenheiros, músicos, advogados, professores —a lista é diversa e longa— cuja perda desestrutura famílias e deixa o país mais pobre. O pesquisador Claudio Considera, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), tentou medir as milhares de mortes pelo aspecto econômico e social. Em outras palavras, contabilizar a perda de renda e de suporte financeiro que podem desestruturar famílias e o desperdício de conhecimentos e habilidades profissionais, um conjunto denominado como capital humano. Com base em informações do Portal de Transparência do Registro Civil, Considera estimou a contribuição que seria dada pelos 398 mil brasileiros que morreram de Covid de 13 de março de 2020, quando foi notificada a primeira morte, até 30 de abril deste ano. Do total, 197,5 mil pessoas tinham de 20 a 69 anos e 200,5 mil tinham 70 anos ou mais. Olhando para frente e considerando a expectativa de vida no Brasil, a parcela dos que tinham de 20 a 69 anos vai deixar de gerar R$ 165,8 bilhões em rendimentos para suas famílias, segundo os cálculos do pesquisador.

Governo gastará neste ano R$ 25 milhões com nova estatal - O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) prevê um gasto de R$ 25 milhões para dar início à operação da NAV Brasil, estatal criada para controlar o espaço aéreo do país. O valor não estava previsto na versão inicial do Orçamento de 2021, enviado pela equipe econômica em agosto do ano passado, mas foi incluído pelo Congresso após articulação do governo. A NAV Brasil foi uma derrota para o ministro Paulo Guedes (Economia), que é de perfil liberal e defende privatizações e menos gasto público. A companhia, contudo, era um pedido da ala militar do governo. Em dezembro do ano passado, Bolsonaro assinou um decreto que cria a NAV Brasil, a primeira estatal de seu governo. Mas a empresa ainda precisa receber os recursos para se capitalizar e começar a funcionar, quando passará a ter receita de tarifas de navegação aérea. A NAV Brasil será resultado de uma cisão da Infraero, responsável pela administração de aeroportos públicos, e estará vinculada ao Ministério da Defesa, por meio do Comando da Aeronáutica. Hoje, os militares dividem com funcionários da Infraero a atividade de navegação. A ideia de Bolsonaro é concentrar a navegação aérea na NAV Brasil, que herdará empregados da Infraero que já atuam na área de controle de tráfego aéreo.

Pedágio gera impasse na maior concessão rodoviária do país - Com um plano arrojado de concessões, o Ministério da Infraestrutura pretende transformar, em poucos anos, a malha rodoviária do Paraná para deixá-la parecida com a do estado de São Paulo. As concessões atuais vencem em novembro, quando se encerram o prazo dos contratos assinados há 24 anos. De lá para cá, os 2.505 km do chamado de “anel de integração” transferidos à iniciativa privada não acompanharam todas as transformações exigidas. As principais rodovias paranaenses ainda têm longos trechos em pista simples, como mais de 200 km da BR-277, que liga a região oeste do estado, produtora de grãos, ao porto de Paranaguá. O novo projeto de concessões, que prevê R$ 42 bilhões em investimentos, é o maior do país. No entanto, ainda enfrenta resistência de setores econômicos e políticos do estado. Há oposição, principalmente, em relação ao modelo proposto. A desconfiança parte de um “trauma” paranaense. O estado foi um dos primeiros do Brasil a conceder rodovias à iniciativa privada. A falta de experiência levou a um modelo de tarifa calculado a partir de valores pré-fixados pelo governo estadual, e não de menor preço do pedágio. Isso, somado a diversas alterações e aditivos contratuais, alta carga tributária estadual e casos de corrupção, levou os paranaenses a pagarem um preço alto. Hoje, seis das dez tarifas de pedágio mais caras do Brasil estão no estado – a mais alta, em Jataizinho, no norte do estado (400 km de Curitiba) custa R$ 26,40 para carros.

Governo foi alertado sete vezes sobre sedativos - O Ministério da Saúde recebeu sete alertas sobre a escassez de sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares necessários para a intubação de pacientes com Covid-19, ainda no auge da primeira onda da pandemia, entre maio e julho de 2020. Os alertas eram acompanhados de pedidos de ajuda, mas a pasta providenciou nos meses seguintes aos ofícios uma quantidade pequena de medicamentos: entre 3,5% e 5,7% do consumo médio mensal nos estados, de acordo com o mês. As quantidades fornecidas pelo Ministério da Saúde seguiram caindo, sem a formação de um estoque regulatório e até mesmo com o cancelamento de uma aquisição internacional no mês seguinte aos últimos alertas feitos. No começo de 2021, uma segunda onda da pandemia explodiu, e hospitais se viram sem os medicamentos do chamado kit intubação. Pacientes passaram a ser amarrados a camas em UTIs numa frequência maior do que o verificado até então; médicos precisaram recorrer a drogas de terceira linha; e mortes foram relatadas. A situação ainda não foi totalmente normalizada e o temor de uma terceira onda leva à preocupação com a escassez de um conjunto de 22 drogas usadas para a intubação de pacientes em estado grave de saúde, que necessitam de ventilação mecânica. A Folha obteve dois conjuntos de documentos que detalham os alertas feitos ao Ministério da Saúde e a reação insuficiente da gestão do general da ativa Eduardo Pazuello, demitido em março deste ano.

Destaques

Chefe da Abin defende voto auditável - O chefe da Abin, Alexandre Ramagem, deu mais um passo para o lado dos bolsonaristas. Em suas redes sociais, ele defendeu agora o voto auditável, pleito dos apoiadores do presidente. “Voto auditável significa segurança ao pleito eleitoral e evolução das urnas eletrônicas. Assegura integridade e transparência aos resultados do sufrágio universal”, escreveu. Ramagem ainda disse que a mudança significa um compromisso com a representatividade popular e a democracia. Ao final da mensagem, deu parabéns ao relator da PEC, o deputado Filipe Barros (PSL-PR). A proposta é autoria de Bia Kicis (PSL-DF).

Ministério da Justiça pede que PF reavalie decisão - O Ministério da Justiça encaminhou ofício à Polícia Federal em que solicita que o diretor-geral, Paulo Maiurino, tenha a “gentileza” de fazer uma nova análise sobre a necessidade de abrir uma delegacia na cidade de Petrolina, em Pernambuco, terra natal de Fernando Bezerra Coelho (MDB), líder do governo Jair Bolsonaro no Senado. A pasta argumenta que, considerando o cenário de restrição orçamentária, seria melhor uma reanálise sobre a criação da delegacia, que foi autorizada pelo próprio ministério em março. Bezerra e seus familiares são alvos de ao menos duas investigações na PF pernambucana.

Cunhada de Sarney, pede reembolso por gastos no home office - A desembargadora Nelma Sarney, cunhada do ex-presidente José Sarney (MDB-MA), pediu que a presidência do Tribunal de Justiça do Maranhão considere compensar os gastos a mais que os magistrados têm tido com eletricidade, internet e compra de equipamentos no regime de home office. Em ofício, Nelma diz que não se trata de ajuda de custo, mas de justa e correta compensação de gastos. O salário-base de um desembargador é de R$ 35,5 mil, sem contar penduricalhos e vantagens extras.

Aras pede que Conselho de Ética da USP investigue professor por coluna na Folha - O procurador-geral da República, Augusto Aras, enviou uma representação contra o professor Conrado Hübner Mendes, colunista da Folha, à Comissão de Ética da Universidade de São Paulo, dizendo ter sido vítima de calúnia, injúria e difamação. Conrado Hübner Mendes é professor de direito constitucional da Faculdade de Direito da USP. A Comissão de Ética da universidade, responsável por definir penalidades em caso de violação do código de ética, é formada por cinco professores, uma aluna e uma servidora, que devem analisar o caso. Segundo Aras, publicações do professor no Twitter e em sua coluna na Folha utilizam "termos que exorbitam da crítica ácida para flertar com o escárnio e a calúnia". Procurado pela Folha, Mendes afirma que "a representação é mais que uma forma de cerceamento, mas de intimidação". "Não apenas contra mim, mas contra professores em geral, da USP e de qualquer universidade pública", completa. "Quando falamos de crimes contra a honra como calúnia (imputar crime) ou difamação (atacar a reputação), a interpretação do Código Penal não pode ser a mesma entre autoridades públicas e cidadãos comuns. Isso faz parte do pacote: não se pode ser autoridade e se comportar como uma boneca de porcelana ao mesmo tempo", afirmou o professor.

Bolsonaro anda a cavalo na Esplanada, chama Lula de canalha e volta a fazer ameaças - Andando a cavalo e sem usar máscara, Jair Bolsonaro compareceu a uma manifestação de ruralistas neste sábado (15) na Esplanada dos Ministérios. O presidente chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de canalha, defendeu novamente mudança no sistema eleitoral e voltou a ameaçar tomar medidas contra eventual lockdown nos estados. "Se tiraram da cadeia o maior canalha do Brasil e se a esse canalha foi dado direito de concorrer, o que me parece é que se não tivermos voto auditável, esse canalha, pela fraude, ganha as eleições do ano que vem", afirmou no andar de cima de um caminhão de som, em frente ao Congresso Nacional. Bolsonaro se deslocou de helicóptero para a Esplanada e, montado a cavalo, se dirigiu ao caminhão. Estava acompanhado dos ministros Braga Netto (Defesa), Tereza Cristina (Agricultura), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Gilson Machado (Turismo). Os manifestantes se concentraram no gramado em frente ao Congresso. Antes, o presidente sobrevoou a a região e acenou para o público. Bolsonaro demorou a subir no caminhão de som, com medo de que pudesse cair por causa do excesso de pessoas. Sob grito dos apoiadores de "eu autorizo" (uma faixa estampava essa frase no trio elétrico), Bolsonaro voltou a fazer ameaças contramedidas restritivas adotadas por governadores.

Estratégia diversionista - À medida em que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 avança, o governo tenta criar estratégias de desvio de foco. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, os bolsonaristas instalaram uma comissão especial para discutir a proposta de Emenda à Constituição (PEC) que determina a impressão dos votos em eleições para fins de auditoria, mesmo que a questão já tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de forma provisória (liminar). Enquanto isso, o presidente, como de costume, aumenta a temperatura nas falas diárias, e nas redes sociais os parlamentares bolsonaristas tentam conter qualquer dano. Creomar de Souza, consutor da Dharma, afirma que, do ponto de vista da estratégia de contenção de danos na CPI, os senadores governistas têm encontrado muita dificuldade de encontrar um tom de fala. As estratégias de tumultuar os trabalhos ou de defender a cloroquina foram insuficientes. “Isso não tem gerado um resultado efetivo. Você cria um burburinho, mas a CPI tem avançado nas oitivas”, diz o analista político. Cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira também ressalta ações diversionistas, como as lives do presidente e as manifestações marcadas para este fim de semana, em apoio a Bolsonaro. E ressalta para a participação do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que xingou o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), de “vagabundo”. O ato foi visto como desespero, mas também como estratégia. “O governo tem essa estratégia de tensionar pra tentar desviar o foco. Mas a tensão não desviou o foco, e, sim, aumentou. É um tiro no pé”, avalia, dizendo que atos assim aumentam os holofotes sobre a CPI.

Em duas semanas, CPI é devastadora - O governo enfrentou duas semanas tensas, e não é nem metade do tempo inicial previsto para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 no Senado Federal. Nesse período, a base aliada e o próprio presidente da República tentaram criar maneiras de desviar a atenção do que é dito na CPI. Voto impresso, ameaça de convocar as Forças Armadas e ataques ao relator Renan Calheiros foram algumas das estratégias adotadas pelo Planalto e aliados no Congresso. Na comissão, quatro senadores aliados buscavam defender o governo ao longo dos seis depoimentos ouvidos. Até o filho 01, Flávio Bolsonaro, entrou na trincheira. Foi à CPI para socorrer o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten e chamar Renan Calheiros de “vagabundo”. Com argumentos ou xingamentos, o Planalto tenta reagir ao avanço da CPI. O vice-líder do governo no Senado, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), acredita que o governo tem conseguido responder a todos os questionamentos. “Boa parte do que foi discutido na CPI a imprensa já tinha levantado, já tinha informado. O Brasil vem melhorando o combate à covid. O barulho que fica é por conta da questão política”, defende. Apesar dos esforços para conter os avanços da CPI, o cenário permanece muito desfavorável. Segundo avaliação de cientistas políticos, o desgaste do presidente Jair Bolsonaro é claro. Soma-se aos reveses na CPI a queda de aprovação do presidente, conforme pesquisas de opinião realizadas na última semana. O Instituto Datafolha indicou uma eventual derrota de Bolsonaro para o ex-presidente Lula, em um cenário eleitoral de 2022. Até no ambiente virtual, onde bolsonaristas atuam com grande articulação, o resultado não foi positivo. Informações da agência de análise de dados e mídias .MAP compiladas a pedido do Correio mostram que de 27 de abril a 3 de maio, antes do início da CPI, o apoio manifestado ao presidente nas redes sociais (Twitter e perfis abertos no Facebook, todos os públicos) estava em 43,2%. Na semana seguinte, de 4 a 10 de maio, foi para 27,7%. Já no período de 11 a 14 de maio (até 8 horas), derreteu para 4,9%, em meio aos depoimentos do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Barra Torres, do ex-secretário de Comunicação da presidência Fabio Wajngarten e do presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.

Rota estreita para a 3ª via - O retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político trouxe de volta a polarização e tornou-se um obstáculo considerável para a formação de uma terceira via no cenário eleitoral de 2022. Analistas políticos ouvidos pelo Correio avaliam, entretanto, que ainda há tempo para possíveis candidatos como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) tentarem romper a barreira criada por Lula e Bolsonaro nas urnas. O cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando afirma que o cenário revelado pelo Datafolha, com Lula à frente de Bolsonaro, permite algumas conclusões. “Essa pesquisa joga um balde de água fria não apenas nos bolsonaristas que tinham, há seis meses, quase uma garantia absoluta da reeleição de Bolsonaro; mas, especialmente, nessa terceira via ou nesse polo democrático. Qualquer candidatura que queira escapar da polarização lulismo e bolsonarismo está seriamente comprometida. Mas até 2022, há uma estrada a ser percorrida e as questões podem mudar”, alerta. O especialista observa as dificuldades de nomes que representariam o centro, particularmente Doria e Ciro. “Esses dois veem cada vez mais distantes a possibilidade de conquistar poder nesse cenário polarizado. Pode ser que Doria permaneça na tentativa de ser governador, mas  também enfrentará dificuldade com a força que pode vir de Haddad e Guilherme Boulos. O cenário do Doria é mais difícil porque o Ciro não tem cargo hoje. Doria pode não ser reeleito e, se sair para concorrer a presidente, não deslanchar. Nesse momento, os dois principais candidatos, numa análise realista, são Bolsonaro e Lula”, conclui.

Auxiliares trabalham para lembrar Covas - O prefeito em exercício de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), emocionou-se ao falar sobre o quadro de saúde do prefeito Bruno Covas (PSDB) ontem, durante a abertura do “Dia D” de vacinação contra a Influenza na capital paulista. De acordo com Nunes, a decisão de manter a agenda oficial da prefeitura um dia após o estado de saúde de Covas ser considerado irreversível, segundo boletim médico, é uma forma de homenagear o prefeito. “A melhor homenagem que a gente pode fazer ao prefeito Bruno Covas é continuar cuidando da população, que é o que ele sempre nos orientou, o que ele sempre cobrou da gente, mesmo agora na internação, que a cidade não parasse, que cuidasse das pessoas. A equipe tem seguido e continuará seguindo as orientações do prefeito”, afirmou Nunes. Após um ano e meio lutando contra um câncer agressivo, Covas, de 41 anos, teve uma piora. Seu quadro de saúde foi considerado irreversível, segundo a nota divulgada na sexta-feira pelo Hospital Sírio-Libanês. O documento afirma que o tucano segue recebendo medicamentos analgésicos e sedativos cercado por parentes e amigos. Auxiliares próximos, como o secretário-executivo Gustavo Pires, e o secretário de Governo, Rubens Rizek, também tiveram acesso aos familiares de Bruno Covas no hospital. Nunes ficou comovido ao dizer que manteve contato com Covas na sexta-feira, por telefone. “Presencialmente, estive com ele na quinta-feira, agora, por WhatsApp e telefone, ontem (sexta-feira)”, disse, antes de interromper a resposta. O secretário municipal de Educação, Fernando Padula, amigo de longa data do prefeito de São Paulo, também falou em tom emocionado sobre Covas. “Este ano completa 30 anos que eu conheço o Bruno. E tenho certeza que ele ficaria muito bravo com a gente, se a gente cancelasse essa agenda”, comentou.

Nova CPI, nem pensar - Tal qual 1991, quando surgiram as primeiras reportagens de malversação de verbas do Orçamento envolvendo o então deputado João Alves, o Congresso não abrirá uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as emendas de relator liberadas a aliados do governo. Naquela época, o líder do PFL, Ricardo Fiúza, tirou João Alves da relatoria e abafou o pedido de CPI feito pelo então senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Os parlamentares só abriram uma investigação dois anos depois, quando o assessor José Carlos Alves dos Santos foi preso com dólares falsos e, depois, seria ainda acusado de tramar o assassinato da própria mulher. Abandonado, ele contou que havia um esquema dentro da Comissão de Orçamento. O máximo que irá ocorrer agora, conforme avaliam alguns deputados, é um grupo tentar evitar que a relatoria vá mais uma vez para as mãos do deputado Domingos Neto (PSD-CE), classificado nos bastidores por alguns como o “João Alves do século XXI”. Depois dos R$ 146 milhões para a pequena Tauá, a cidade em que a mãe dele é prefeita, a intenção de um segmento do Centrão é dar a chance a outro ocupar esse espaço e evitar muita exposição.

Políticos indicam verbas para fora de seus Estados - Há 20 anos, Haroldo Cathedral chegou a Roraima e prosperou com negócios nos ramos da educação, da construção e da cerveja. Cultivou um prestígio que fez os roraimenses darem a ele em 2018 a maior votação para deputado federal na primeira vez em que concorreu à Câmara, pelo PSD. Apesar do compromisso de trabalhar integralmente para seus eleitores, Cathedral usou sua cota no orçamento secreto para propor benfeitorias em Minas Gerais. Mineiro de Itabira, ele é o autor de uma indicação de R$ 1 milhão para pavimentação de estrada vicinal em Camanducaia (MG), cidade a 3.250 quilômetros de Boa Vista, capital do Estado que o elegeu. O deputado alega que a proposta se deu por meio de “permuta” com parlamentares mineiros. Mas não pode dizer o que deu em troca. “Como eu sou de Minas Gerais, embora eleito por Roraima, fiz uma permuta com outros colegas deputados. Quando é emenda extraorçamentária, não vejo problema nenhum, não. As emendas individuais e de bancada vão todas para Roraima”, disse ele ao Estadão. Além de Cathedral, outros 15 deputados e senadores aliados do presidente Jair Bolsonaro fizeram indicações para Estados diferentes daqueles pelos quais foram eleitos, com o dinheiro do Ministério do Desenvolvimento Regional que o governo usou para agradar a aliados. Ao todo, indicaram o destino de R$ 181 milhões para regiões aleatórias, onde não estão suas bases. Tudo feito abaixo do radar dos eleitores e dos órgãos de fiscalização. Como as indicações foram acertadas diretamente com o Planalto e ocorreram por meio da “RP9”, só foi possível identificar os autores por documento do governo que não é público, mas foi obtido pelo Estadão. Do contrário, não se saberia que 285 deputados e senadores ganharam o direito de controlar R$ 3 bilhões do ministério no momento em que o governo tentava emplacar aliados no comando do Congresso. A indicação de verbas extras para Estados diferentes é vista com preocupação por especialistas em execução orçamentária. A suspeita é de que, como elas não têm a mesma transparência que as emendas tradicionais, sejam usadas como “emendas bumerangue”. Ou seja, haveria ganho financeiro futuro ao político após o município ou estatal contemplado assinar contrato para obra ou compra a partir da indicação dele. Na maioria desses empenhos, ainda não houve pagamentos. Os parlamentares que admitiram ajudar regiões aleatórias negaram irregularidades, mas apresentaram contradições ao explicar os motivos. Além disso, as justificativas acabaram por reforçar um problema central do orçamento secreto: o critério técnico para definição das cidades que realmente precisam de investimentos é vilipendiado em favor de interesses políticos de aliados de Bolsonaro. Só em janeiro, às vésperas do pleito, o Podemos na Câmara declarou apoio a Arthur Lira (Progressistas-AL). Ao todo, parlamentares do partido indicaram R$ 71 milhões do orçamento secreto de R$ 3 bilhões. De acordo com o planilhão, Lira, como líder do Progressistas, enviou cerca de R$ 10 milhões para o Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Procurado, ele não comentou.

‘Nem-nem’ carece de posições e conteúdo - Pesquisas às quais partidos de centro tiveram acesso praticamente põem fim ao sonho de construir uma candidatura única que encarne a “terceira via”. O grupo dos “nem-nem” é heterogêneo, com mais divergências do que a convergência de ser contra o PT e o atual presidente. Os dados reforçam o que marqueteiros e pesquiseiros experientes têm dito: só o discurso do “nem Bolsonaro, nem Lula” dificilmente arrastará parcela expressiva do eleitorado. Explica um deles: a terceira via, em geral, só se viabiliza quando derruba e substitui um dos polos. Outra grande dificuldade do centro: não basta apenas criticar, tem de apresentar opções, oferecer sonhos e esperanças aos brasileiros, hoje capturados pela polarização. Ou seja, o discurso “nem uma coisa, nem outra” não serve como causa maior se não vier recheado de ideias, propostas e posições claras. O exemplo é a candidatura de Geraldo Alckmin a presidente em 2018: centrava fogo em Jair Bolsonaro e Fernando Haddad ao mesmo tempo. Desta vez, Ciro Gomes (PDT) também tem oscilado entre “bater” no petista e no atual presidente. Um marqueteiro atento observa: Ciro não conseguirá ser mais anti-Lula do que Bolsonaro nem mais anti-Bolsonaro do que Lula.

Disputa no clã - Não bastasse a atual temporada de tempestades, Jair Bolsonaro sofre pressões familiares em diferentes sentidos e intensidades: a primeira-dama Michelle Bolsonaro luta pela indicação ao STF do advogado-geral da União, André Mendonça, que costuma orar com o casal presidencial. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o 01, trabalha pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.