Caso Pazuello é emblemático para os quartéis, sob risco de insurreição

João Goulart Filho não crê, de imediato, no risco de uma sublevação por parte das Forças Armadas. Por Redação – de Brasília

Caso Pazuello é emblemático para os quartéis, sob risco de insurreição

Caso Pazuello é emblemático para os quartéis, sob risco de insurreição

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Herdeiro do ex-presidente João Goulart, último mandatário eleito antes do golpe militar de 1964, que resultou na ditadura de mais de 20 anos, amplamente defendida por Bolsonaro e seu grupo político, o filósofo João Goulart Filho não crê, de imediato, no risco de uma sublevação por parte das Forças Armadas.

Por Redação – de Brasília

Com apenas algumas horas até conhecerem o teor da possível sentença que o Alto Comando do Exército imporá ao general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), analistas apontam o risco de insurreição na tropa, caso prevaleça a pressão do Planalto para livrá-lo de uma mancha indelével no currículo.

Pazuello enfrenta seus superiores hierárquicos, convocado pela CPI da Covid, para não perder o status de general

Herdeiro do ex-presidente João Goulart, último mandatário eleito antes do golpe militar de 1964, que resultou na ditadura de mais de 20 anos, amplamente defendida por Bolsonaro e seu grupo político, o filósofo João Goulart Filho não crê, de imediato, no risco de uma sublevação por parte das Forças Armadas.

— Creio que não corremos esse risco, de parte das Forças Armadas identificarem-se com o presidente desequilibrado e internacionalmente tido como inabilitado de qualquer consciência quanto à hierarquia e respeito ao cargo que ocupa — afirmou Goulart Filho à reportagem do Correio do Brasil, nesta segunda-feira.

Imbroglio

Ainda segundo o líder político, no caso de Pazuello “o Exército tem seu regulamento e deverá ser cumprido”.

— Foi patente sua desobediência como oficial da ativa, numa participação eleitoreira. Dizer que foi obrigado pelo presidente a comparecer, por ser ele o chefe das Forças Armadas, é o mesmo que menosprezar a inteligência dos brasileiros — observa.

A magnitude do imbroglio entre o presidente e o Alto Comando, no entanto, tem levantado receios de articulações golpistas, sobretudo pelo rumor de que ele teria interferido, pessoalmente, no processo de punição do comandado. As incertezas se estendem à relação das Forças Armadas e das Polícias Militares com o governo, de agora em diante.

Desembarque

Na avaliação de Eduardo Costa Pinto, especialista na relação entre os militares e a política brasileira, a crise atual não representa, porém, uma ruptura absoluta. Com mais de 6 mil fardados em cargos civis e um protagonismo inédito no período democrático, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acredita que romper com o governo não está no horizonte dos líderes militares.

— Não tem como os militares, hoje, voltarem aos quartéis. Criou-se um emaranhado que torna difícil o desembarque. Vão perder o status social? Em qualquer outro governo, haverá menos militares e benesses — avalia o pesquisador, em recente entrevista à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW).

Contra-golpe

Embora Hamilton Mourão ocupe a vice-presidência da República, Costa Pinto não vê risco de participação das Forças Armadas em qualquer iniciativa golpista neste momento. Entretanto, não descarta uma mudança de cenário no curto prazo, nem tampouco a possibilidade de uma “quartelada”.

— O custo de dar um golpe é gigantesco. Caso apoiem um movimento do Bolsonaro, vão dar o poder a ele e esperar que ele devolva? É muito complexo, num momento em que eles estão ganhando como nunca ganharam em 40 anos. É por isso, também, que não vão dar um contra-golpe no Bolsonaro — estima.

Cavalos

Pazuello, no entanto, está acostumado a responder a processos disciplinares, ao longo de sua carreira. Quando comandava o quartel do Depósito Central de Munições do Exército, em Paracambi, a 70 km do Rio, quando viu dois soldados passarem em uma carroça, julgou que estavam velozes demais e que maltratavam o cavalo. Naquele momento, resolveu aplicar uma lição aos conscritos.

O militar mandou que parassem, desatrelassem o animal e, ato seguinte, que o recruta Carlos Vítor de Souza Chagas, um jovem negro e evangélico de 19 anos, substituísse o cavalo. O soldado teve de puxar a carroça com o outro soldado em cima, enquanto o quartel assistia à cena “às gargalhadas”, ressalta o diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), em reportagem publicada na sua edição dominical.